FORMAÇÃO CONTINUADA - DIREITO ASSEGURADO DO EDUCADOR

Através da História da Educação brasileira, observamos o quanto o professor foi sendo reduzido a um mero executor de ordens, em uma profissão simples e técnica, onde o que norteava o seu trabalho eram passos e normas cegas de como chegar a objetivos claros: promoção, repetência ou evasão escolar.

A partir de 1996, com a Lei 9394/96 (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), o professor passa a ter sua profissão reconhecida como de formador de opiniões, e assim vê assegurados alguns direitos quanto à sua formação e capacitação.

Especificamente, nos artigos 61, parágrafo I, e 67, parágrafos II e V, são previstas para o docente a capacitação em serviço, o aperfeiçoamento continuado e o tempo para estudos na carga de trabalho.

Assim, a formação continuada passa a ser um direito do professor e deve acontecer dentro do seu ambiente de trabalho, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim.

A formação continuada de professores é um tema muito discutido e apesar de existirem muitos autores e livros a respeito de reflexões sobre o assunto, ainda existe desinformação sobre à sua verdadeira aquisição e aplicabilidade dentro dos muros da escola.

No mundo de hoje, em plena época da globalização e do uso de diversas tecnologias no âmbito mundial e educacional, falar em educação continuada é como discutir a sobrevivência da profissão “educador”, já que aquele que não souber se auto ensinar e aprender com o outro na troca de experiências e na modificação de atitudes, com certeza não ficará por muito tempo inserido no sistema educacional da atualidade.

O QUE É A EDUCAÇÃO CONTINUADA

Educação continuada é um programa composto por diferentes ações como cursos, congressos, seminários, HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo), orientações técnicas, estudos individuais.

Um programa de educação continuada pressupõe

- um contexto de atuação: uma escola, um município, um país, uma sociedade...

- a compreensão de que ela não é mais a responsável exclusiva pelas transformações necessárias à escola, uma vez que isso depende de um conjunto de relações, mas poderá ser um elemento de grande contribuição para essas transformações;

-condições para a viabilização de suas ações, que podem ser resumidas em três grandes aspectos: vontade pública por parte de educadores e governantes, recursos financeiros e organização do trabalho escolar com tempo privilegiado para estudos coletivos e individuais por parte dos professores. (Luiza Helena da Silva Christov, 2001, p. 10)

Assim, educação vai além do que simplesmente agir ou pensar de maneira individual, isolada. Ela pressupõe atividades coletivas, visando a transformação do sujeito, de sua prática, de suas relações e da qualidade de seu desempenho, para provocar mudanças no cotidiano social no qual a instituição escola está inserida.

FORMAÇÃO CONTINUADA COMO PRÁTICA DA ESCOLA

A escola é (ou precisa ser) um espaço organizado por todas as pessoas que dela fazem parte : direção, coordenação, professores, funcionários, alunos e comunidade.

Organizar a escola de forma democrática, é fazer com que todos tornem-se sujeitos da prática e passem a valorizar o ambiente que estão construindo com seus próprios anseios e realidades. Quando todos os envolvidos no processo sentem-se parte dele, há um maior envolvimento no sentido de preservação e manutenção do bem público. Passam a caminhar e olhar para um mesmo lado: o bem comum.

Assim, a análise da prática escolar faz-se presente em vários momentos e em todas as situações convergentes, onde a busca de soluções viáveis, que saiam do senso comum e pautem-se em aspectos legais sejam voltadas ao bem estar da comunidade.

O professor, como parte integrante desse processo, e como agente que está diretamente ligado à comunidade por meio do aluno, necessita aprender a avaliar e auto-avaliar-se, para verificação constante de que sua prática esteja produzindo os resultados esperados e estejam em consonância com seu planejamento e seus objetivos.

Para que esse aprendizado aconteça, o docente precisa ser orientado, de forma a aprender meios e. obter ferramentas necessárias a essa avaliação. Precisa ter consciência de si mesmo e do impacto que suas ações geram na realidade.

Nesse processo de construção e reconstrução do saber pedagógico, e da importância do educador no processo de mudança social, faz-se imprescindível a figura do coordenador pedagógico.

COORDENADOR PEDAGÓGICO

O coordenador pedagógico é o profissional capacitado a formar continuamente o professor, produzindo saberes em um sistema de cooperação, apoiando e ajudando na resolução dos problemas práticos, a partir da análise coletiva dessas dificuldades.

Seu envolvimento e comprometimento com a escola deve ser grande e há a necessidade de saber lidar com grupos e suas diferenças, o que pressupõe enfrentamento de conflitos e caminhos para superá-los. Partindo do seu conhecimento teórico terá condições de analisar os docentes, a comunidade e os problemas que permeiam o ambiente escolar, podendo assim propor e auxiliar na encaminhamento e tentativas de resolução dos mesmos.

Entre suas responsabilidades na formação dos professores, está a sensibilização no sentido de construir um projeto comum aos indivíduos da escola.

Com certeza, sua prática é de grande importância no âmbito escolar, pois é o articulador entre direção, professores e problemas educacionais, ou seja, a comunidade. Sua prática vai orientar a organização de todo o sistema educacional, articulando todos os interessados no processo de ensino aprendizagem.

AS REUNIÕES PEDAGÓGICAS E SUA IMPORTÂNCIA

De acordo com a legislação, o HTPC é o horário destinado a estudos, planejamento e avaliação do trabalho pedagógico.

Nesse contexto, o coordenador pedagógico surge como a pessoa responsável por propiciar uma prática transformadora, através da criação de situações e espaços para compartilhamento de experiências, para que o professor se posicione como homem/cidadão/profissional. O que o professor “diz e faz é mediatizado pelo seu corpo, pelos seus afetos, seus sonhos, seus fantasmas e suas convicções” (Nóvoa, 1992: 189).

Infelizmente, a prática das reuniões pedagógicas fica um pouco distante do que sugere a legislação, visto que em muitos lugares exerce um papel meramente formal, mudando de um espaço propicio à reflexões, para ser um local de recados administrativos, fazendo assim com que sua importância perca o sentido para os educadores, que o vêem como “perda de tempo”.

É preciso repensar o HTPC, fazendo com que o mesmo volte a ter respeitado seu caráter de horário de reflexão e pesquisa, habituando o professor a problematizar seu dia-a-dia, perguntar-se sobre a realidade de sua prática e transformar assim a realidade existente.

ESCOLA E MUDANÇA SOCIAL

A partir de uma gestão democrática-descentralizadora, de um coordenador pedagógico articulador de idéias e opiniões, de funcionários que entendem-se como pessoas importantes no cotidiano da escola e de professores conscientes em relação ao seu verdadeiro papel de educadores-mestres, com certeza haverá uma escola de melhor qualidade para todos.

A comunidade escolar comprometida com a educação fará com que toda a sociedade se modifique, e passe a valorizar a educação como única forma de transformar realidade social de nosso país.

REFLEXÃO

Diante de toda a leitura e estudo que realizei, pude verificar o quanto estamos longe de alcançar o que está nas letras das leis.

Enquanto a legislação federal e estadual buscaram a descentralização e a autonomia de escola, a municipalização trouxe novamente à centralização do poder e o regime paternalista de favores. Cargos de confiança não deveriam existir, para que todos pudessem, a partir de sua autonomia e criticidade, atuar sem medo. A fiscalização precisa existir, pois há também pessoas que abusam do cargo efetivo para não realizar nada por sua comunidade, visto que o ser humano tem a dificuldade de pensar no bem comum.

Pude observar que a gestão é uma parte importantíssima no processo de mudança, pois é partir dela que toda a hierarquia sofre alteração. Dentro do autoritarismo, pessoas mandam e outras obedecem, estando assim cada qual defendendo o seu lado. No sistema democrático, não existem lados: todos estão lutando por um ideal comum, que é a qualidade e a melhoria do ensino.

Verifiquei que o Coordenador Pedagógico necessitaria ser um profissional com muito mais estudo do que lhe é exigido hoje, visto que o seu posicionamento e articulação dentro da escola fazem toda a diferença no que tange o ensino e a aprendizagem. Infelizmente, muitos dos profissionais que ocupam esses cargos sequer estão preparados para o magistério, quem dirá para coordenar, entender, analisar e buscar soluções para toda uma equipe escolar.

Também pude entender o quanto o professor precisa ser consciente de seu trabalho e de toda a extensão de suas atitudes em sala de aula, que se refletirão por toda a da comunidade em que está inserido.

Os professores não são valorizados socialmente como merecem, não estão nos noticiários da TV, vivem no anonimato da sala de aula, mas são os únicos que têm o poder de causar uma revolução social.. Com Uma das mãos eles escrevem na lousa, com a outra, movem o mundo, pois trabalham com a maior riqueza da sociedade: a juventude. Cada aluno é um diamante que, bem lapidado, brilhará para sempre. (Augusto Cury, 2007, p. 89)

Entender a importância da formação continuada deveria ser obrigatório a todo aquele que está professor e tem a responsabilidade de formar cidadãos críticos, e essa tarefa deveria ser daquele que lhe é responsável, ou seja direção e coordenação. Esse deveria ser o primeiro tema a ser debatido durante o ano letivo, e efetivamente incluído no âmbito escolar, para que o professor consiga mudar seu paradigma de transmissor de conhecimento para transformador de realidades.

“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa. Mas, esse ensinar e esse aprender precisa tornar o mestre cada vez mais aprendiz, e o aprendiz cada vez mais criador.” (Freire, 2000)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Laurinda et al. O coordenador pedagógico e o espaço da mudança. São Paulo: Loyola, 2002

CURY, A. Filhos brilhantes, alunos fascinantes. Planeta do Brasil, p.89, 2007

FREIRE, Paulo.Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

GUIMARÃES, Ana et al. O Coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo: Loyola, 2001

NÓVOA, António. Formação de professores e profissão docente. Lisboa, Dom Quixote

LDBEN <http://gepede.sites.uol.com.br/LDBEN.html> Acesso em 30 out. 2009

Cláudia Marques
Enviado por Cláudia Marques em 19/11/2009
Reeditado em 25/06/2018
Código do texto: T1933043
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