A sabedoria do recomeçar

Recentemente temos assistidos inúmeros casos de resistência à sabedoria na arte de se conduzir a vida, por determinados segmentos na sociedade, nas instituições públicas e até mesmo existentes nos lares. Até parece que é uma pandemia, mas não da gripe viária ou do vírus da influenza A, porém, da falta de sensatez e humildade humana em várias vertentes na condução da vida nessas relações ditas contemporâneas.

O problema, sabemos, é histórico, quiçá oriundo das primeiras manifestações humanas ao longo das disputas de poder nas primeiras civilizações quando a figura do chefe era a fortaleza maior em detrimento do líder que se poderia corresponder o ideal, mas longe ainda desse nível de interpretação, principalmente quando a doença do passado se repete no presente de forma até mesmo incomensurável, inclusive sob novas denominações.

No livro das “Bem-aventuranças”, vemos com muita propriedade a recomendação de se dar preferência ao mundo dos “pobres pelo espírito”, ao invés de conduzirmos a nossa vida equivocadamente pelo viés dos “pobres de espírito”.

Há na verdade, uma singular diferença entre as duas formas acima de o Homem conduzir sua vida, que, pouco percebida, determinadas circunstâncias nos confundem demasiadamente, sobretudo nos levando a uma autodestruição, principalmente pela cegueira que nos impõe ao simplesmente acharmos que estamos nos “dando bem” diante de determinadas situações, e não querermos acordar que o “se dar bem” sempre, nada mais correspondente senão numa caminhada rumo a um mundo vazio interior tão profundo que, o próprio lado externo de um ser o abandonará, face a nova compreensão de que se trata apenas de uma visão eminentemente egocêntrica, doentia, típica dos profanos que levaram o Cristo à cruz e século depois, reconhecera a tamanha alienação por que se estavam inseridos, ante as falsas razões apregoadas pelos “concorrentes” da época por temerem a perda de espaço e poder na dominação das massas no período, já que o Cristianismo estava crescendo vertiginosamente.

A situação acima se repete e gera reflexo nas relações humanas atuais dentro dos mais variados segmentos de convívios ou organizações sociais.

O acordar para uma condução de vida na acepção de sermos “pobre pelo espírito”, pressupõe uma libertação interior e exterior no ser, de forma que a tal pobreza simplesmente se revelará em grandeza pelos atos de se rever posturas, posições, apegos, friezas, insensatez, egoísmo, avareza etc, já que nada nos pertence, a não ser a grande oportunidade que cada um tem para aproveitarmos ao máximo a cada segundo dessa passagem tão efêmera pela Terra no sentido de diminuirmos ao máximo aquilo que nos apreende a tudo e a todos, quando na verdade, “nada nos pertence”, mas tudo funciona como meros empréstimos para melhor fazermos da vida, uma grande oportunidade de crescimento rumo a um provável mundo melhor.

Assim como o mal tem começo, ele também tem fim. E isso se dar, obviamente, pela reconstrução de valores ou reencontro com Cristo dentro de cada um de nós, já que O está tão distante, embora muito pregado por nós que, hipocritamente nos socorremos a Ele, sem querermos acordar do sono profundo da vaidade que tanto no reduz a práticas inerentes à mediocridade humana.

Se cometermos erros na caminhada, não significa o fim de tudo ou da própria má escolha na trilha realizada; quem somos nós para ser eterno nas escolhas quando tudo se muda a cada segundo, sobretudo num mundo de constantes inovações? Mas quem sabe um recomeço seria a grande saída objetivando uma outra opção ao despertamos que somos efetivamente imperfeitos e não de falsos “heróis” que criamos de nós mesmo, quando somos “cadáveres adiados que procriam” nas palavras do saudoso Fernando Pessoa?

É preciso estarmos dispostos a aceitar o “outro” em nós, ao colocarmos verdadeiramente o outro em nossa vida. Assim, caminharemos para um mundo de irmãos, já que pensaremos inúmeras vezes antes de externarmos uma conduta que possa prejudicar terceiro ou a terceiros, daí, podermos até dizer: estaremos dando um sentido ético à nossa forma de conduzir as turbulências que o dia-a-dia da vida nos tanto cobra decisões.

A nova escolha para se recomeçar, nada mais simboliza do que uma grandeza relacionada com uma verdadeira sabedoria, pois se demonstrará fortaleza pelo testemunho que daremos a tudo e a todos que o reconhecimento de que “somos todos iguais, braços dados ou não”, nos faz sentir filho de Deus e opção pelo Cristo, já que Este, tantas privações passou, mas mesmo diante de várias tentações fez a escolha sábia maior: a morte física pelo amor incondicional às verdades do seu Pai, justamente pela preferência serena à humildade como melhor meio de crescer e recrescer durante o tempo rápido que temos para prestarmos conta do que podemos fazer ante as oportunidade que sempre nos tem colocado a frente, pelo nosso Deus maior.

Sebastiao Uchoa
Enviado por Sebastiao Uchoa em 21/11/2009
Reeditado em 21/11/2009
Código do texto: T1936004