Complexo de "vira-lata" do Rio-16

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) surtou com esta declaração que Robin Williams deu no programa “Late Show”, de David Letterman: “Espero que a Oprah [Winfrey, apresentadora] não esteja chateada com as Olimpíadas. Chicago mandou Oprah e Michelle [Obama, primeira-dama americana]. O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó. Não foi justo”, disse ele.

Lembrei do “complexo de vira-lata”, uma expressão criada pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues, referindo-se à inferioridade em que o brasileiro voluntariamente se coloca, em relação ao resto do mundo.

Que diferença isso pode fazer na vitoriosa candidatura do Rio de Janeiro? Nenhuma, rigorosamente, nenhuma! Primeiro porque Robin Williams é um humorista. Segundo porque ele mesmo já enfrentou problemas pelo uso de drogas, entre elas cocaína. Chegou a ser internado várias vezes em clínicas de desintoxicação por causa do vício.

Mas o COB está levando a sério. Em nota, os organizadores comunicaram que “o assunto está nas mãos de advogados, que analisam as medidas judiciais cabíveis nos Estados Unidos”.

Conseguiram com isto potencializar a gracinha desse norte-americano ridículo. Outro dia fizeram o mesmo estardalhaço por causa de um episódio dos Simpsons que ironizava o Brasil.

Ninguém deve levar os humoristas a sério. Os Simpsons, por exemplo, não zombam apenas de estrangeiros. O desenho animado faz rir justamente porque ironiza o americano médio, que é apresentado como caipira, pouco instruído, autocentrado e preconceituoso.

Imagine se fosse o contrário. Quantas piadinhas nossos humoristas já fizeram com norte-americanos, portugueses e argentinos? Ainda não vi qualquer reação semelhante da parte deles.

Só quem liga pra isso é quem é provinciano. Ou, como diria Nelson Rodrigues, quem tem o tal “complexo de vira-lata”.

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 03/12/2009
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