2009, o ano do Rio

Depois de conquistar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro termina 2009 como o grande vencedor do futebol brasileiro. Não apenas pela conquista do Flamengo, mas também pela reação de Fluminense e Botafogo, que escaparam do rebaixamento na última rodada. E ainda teve o Vasco campeão da Série B.

Quebra-se a hegemonia dos paulistas, vencedores desde 2004 e acostumados a terminar o ano olhando os demais estados pelo retrovisor. Perceba que o Flamengo, novo campeão brasileiro, não é o que se pode chamar de um clube exemplar. Não estou falando do time que teve todos os méritos para chegar em primeiro. Estou falando de um clube sem estrutura, que não paga salários em dia e que tem uma dívida de três dígitos (em milhões de reais). Uma dívida, por certo, quase impagável.

Mas o título rubro-negro é mais do que justo, porque soube aproveitar-se da incompetência dos quatro grandes paulistas. O São Paulo, com um time previsível e instável; o Corinthians, desinteressado e desmotivado; o Palmeiras - líder a maior parte do ano - amarelão como nunca se viu na sua história; e o Santos sofrendo com a politicagem que culminou com a queda do seu presidente.

O Flamengo correu por fora e só assumiu a liderança na penúltima rodada. Mérito para o sempre tranquilo técnico Andrade e para dois jogadores que fizeram a diferença na maioria dos jogos: o imperador Adriano e o veterano Petcovik.

Poucos acreditaram nesse título. Pouquíssimos - a não ser, claro, de duas semanas pra cá, quando Palmeiras e São Paulo começaram a entregar o leite.

O futebol só é o esporte mais empolgante do mundo exatamente por causa dessa imprevisibilidade. Lembro-me de um texto que escrevi no Blog do Noblat, logo após a 10a rodada do Brasileirão. Naquela época, o G-4 era formado por Atlético-MG, Internacional, Vitória e Palmeiras. “Um G-4 que não se sustenta”, o título do artigo, foi alvo de muitas críticas, principalmente porque chamei o Atlético-MG de “cavalo paraguaio”. Mas se você tiver tempo de ler o artigo, verá que não fiz qualquer previsão do Flamengo campeão.

Outro texto no Blog do Noblat que foi alvo da ira dos torcedores foi “O Fluminense merece o rebaixamento”.Começava o returno e o Flu era lanterna, com 98% de chance de cair. “O Fluminense está morto, só falta enterrar” - sentenciei.

Lógico que não poderia imaginar uma reação tão espetacular do Fluminense. Nem poderia, tampouco, confiar nas previsões dos matemáticos. Recorde-se que, três semanas atrás, o São Paulo tinha quase 80% de chance de ser campeão. Terminou em terceiro.

Conclui-se, portanto, que não se pode confiar totalmente na opinião de comentaristas, sejam eles esportivos, políticos ou econômicos. Até porque, como diz o genial Luiz Fernando Veríssimo, “o destino é um grande gozador”.

Eu complementaria dizendo que o comentarista (e eu me incluo entre eles) é aquele sujeito que chega depois da guerra para contar os mortos e feridos. Só assim ele terá um ponto de vista infalível.

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 06/12/2009
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