A NOVE DE JULHO

“Minha rua acordou mudada.

Os vizinhos não se conformam.

Eles não sabem que a vida

tem dessas exigências brutas”

Carlos Drummond de Andrade

Como um rio, nasce na rua Amador Bueno e segue na direção sudeste, desaguando na rotatória da praça Hélio Smidt.

Nasceu com Independência, em 1922, aos pés de um obelisco, na sua confluência com a rua Tibiriçá.

Depois, o obelisco mudou-se de lugar, e a avenida, nascida em um dia em que se comemorava a nossa liberdade, com o tempo ganhou em extensão e história, e, só em 1934, passou a ser Nove de Julho, em homenagem à Revolução Constitucionalista, construindo, assim, a sua própria história.

Não foram poucos os amores nascidos e interrompidos, às margens do rio de paralelepípedos, protegido pelas sombras de altivas sibipirunas, em terras que foram de Manoel Peres, Waldemar Pessoa, Francisco Gugliano, Alberto Vila Real, Abel Costa e outros.

Quem não viveu naqueles tempos, não tem idéia da importância dessa nossa Avenida Paulista, com suas mansões suntuosas, cadilaques nas ruas: “cadilaque lindo longo conversível extravagante quase seis metros de vermelho cintilante me lembro bem da minha juventude linda tudo era alegria eu me lembro bem ainda”, como diz a música de Roberto Carlos.

Ah, mas onde estarão as antigas luminárias, os postes da Nove, retirados dela há quase três décadas, modelo republicano de ferro fundido, hoje espalhados por aí, assim como suas histórias, suas energias, suas glórias, dos tempos em que se dividia a cidade em ricos e pobres.

Hoje, por sua posição privilegiada, ao sul da cidade, consolida-se como importante setor bancário, mas ainda está ameaçada, assim como muitos dos nossos outros rios, pela poluição (descaracterização) que viria ser para ela a construção de altos edifícios, colocação de imensos cartazes e outdoors, a extração das sibipirunas e a descaracterização do piso de seus passeios.

Parafraseando Caeiro: eu gostaria de voltar no tempo e não pensar no que haveria para além da Nove, e diante do que poderá voltar a ser um de nossos mais belos cartões postais, não pensar em nada, e sentir que estar ao pé dela é só estar ao pé dela.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

PRESIDENTE DA ARE- ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO

ancartor@yahoo.com

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 18/07/2006
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