A Internet e a Educação Formal

Bom dia, meus caros

Venho aqui pela primeira vez congratular a todos os poetas, ensaístas, contistas e demais profissionais das letras pelas dezenas de milhares de textos elaborados, sem dúvida, num esmero sem igual. Imaginar isto em algumas décadas anteriores seria impensável. É a internet possibilitando pela primeira vez a informação munida de interação.

Mas não vou chover no molhado. Creio que para muitos o discurso digital já encheu a paciência. Como estou preguiçoso demais para voltar minhas letras para outro assunto, fico neste, mas por outro ângulo, ou seja, nos prós e contras da máquina sobre o homem. Da internet sobre o ato - estrito e pessoal - de pensar e desenvolver.

É sabido por professores dos mais diferentes quilates e latitudes que os nossos jovens - estudantes - estão por demais desinteressados naquilo que não lhes dizem respeito: os conteúdos acadêmicos.

Sempre disse - e sempre direi - que a internet não pode ser nunca vista como um FIM em si e deve ser encarada como MEIO. Como instrumento. Ora, um instrumento não fala sozinho. Tal como um violão ou uma gaita, se você não tiver a menor intimidade com o instrumento, você não tirará bons sons dele. A internet é um instrumento, mas não de sons. É um instrumento de informação. Para se chegar a algo produtivo - informação - é necessário ter informação. Era o que os pobres monges beneditinos, marianos e jesuitas tentavam mostrar à humanidade através de seus "Trivium" e "Quadrivium".

Mas eis o que eu queria dizer: a internet, tal como é concebida hoje, tem se tornado muito mais um passatempo divertido do que um instrumento para as descobertas. Antigamente para se fazer uma pesquisa era impossível não consultar uma biblioteca, checar dados, elaborar conteúdos, sintetizá-los para, enfim, escrever sobre. Hoje há o oposto. Justamente na era da super-informação, temos um conhecimento de mundo muito reduzido se compararmos a outras gerações. O milagre é este: não se toma informação. O texto é simplesmente copiado e retirado de um ponto a outro. Sem retoques. Sem experiências. Sem constatações. Ora, se quero saber como viviam os maias, os astecas ou como vivem os quadrúpides da antártica, vou à Wikipédia e copio o material. É o ctrl-c e ctrl-v agindo na medula da educação.

Por uma mera impressão tecnológica, temos a fria ilusão de que nossos jovens estão mais bem servidos de material e oportunidades acadêmicas. Não é verdade. Aliás, não se pode comparar, por exemplo, o material da internet com o material das bibliotecas ainda. Em áreas de humanas a diferença é absoluta e este processo de campo, imprescindível. Creio eu que em outros campos também.

Ainda que avancemos 200 anos na tecnologia de ponta, uma coisa deve ser levada em consideração: Não se constrói nada sem base. E a base, meus amigos, só pode ser erguida através da construção dos pilares elementares do raciocínio. Nossos alunos precisam saber que para vivenciar este mundo de múltiplas escolhas plenamente é necessário ter a liberdade de assimilá-las. Aprender a ler? Leia. Aprender a escrever? Leia, leia, leia e escreva. É assim ontem, hoje e sempre. Independente do que dirão os novos pedagogos.

Enquanto isso, assistimos a demagogos de plantão a falar de inclusão digital como a salvação da educação pública. Eu sugiro uma outra: Valorização Humana. Ao exemplo dos nossos alunos, os professores encaram muitas vezes uma faculdade inteira sem arriscar um pensamento próprio. Mas da vida acadêmica, meus caros, falaremos numa segunda ocasião.

Se me acompanhou até aqui, um muito obrigado. Mas pense a respeito, viu?