A Literatura, O Vestibular e Os Exames Nacionais

Tanto no Brasil como em Portugal, os alunos prestam exames para o ingresso em Universidades. No Brasil, além de muitos alunos concorrerem para diversas instituições de ensino ao mesmo tempo, o processo pelo qual eles são submetidos para ingressar numa faculdade chama-se vestibular, que é nada mais que um momento específico no qual ele vão, via provas em todas disciplinas, mostrar o conhecimento adquirido, principalmente nos últimos anos escolares. Diga-se de passagem, um sistema falho, de um momento que não garante e muito menos mostra o conhecimento de cada aluno, porque bem sabemos que o momento de prova é um momento relativo e nessa relatividade estão intrínsecos muitos fatores.

Em Portugal, apesar desse processo ter outro nome, Exames Nacionais, o processo é praticamente o mesmo e com um agravante: o aluno vai prestar exames diante de uma escolha feita no 9º ano, ou seja, se a vontade dele em ser matemático foi escolhida, vai cursar todo secundário direcionado para essa escolha. Caso queira mudar é mais complicado ainda. Logo, passa-se a ter uma ressalva à metodologia da aplicação das provas que trabalha com a escolha profissional do aluno. E, em Portugal organiza-se num sistema binário: o ensino universitário e o ensino politécnico.

Mas o que a Literatura tem a ver com isso? Tratando-se de um conteúdo que faz parte desse processo de seleção, tudo.

Independente da forma organizacional das provas para o ingresso à faculdade, imagino que, no caso da literatura, há uma (des) aprendizagem ao longo de toda escolaridade do aluno e uma amostra disso é justamente porque as obras que “caem” nesses exames são somente estudadas no último ano do Ensino Médio ou do Secundário como é chamado aqui em Portugal, ou no máximo passam a fazer parte do cotidiano escolar a partir do penúltimo ano desse grau escolar. E quando analisamos as questões das provas do vestibular ou mesmo dos Exames Nacionais, ficamos mais surpreendidos quando nos deparamos com perguntas completamente robotizadas, as quais percebemos que quem leu o livro ou pegou um bom resumo da internet consegue responder.

Não quero entrar na questão da (des) aprendizagem escolar literária porque isso levaria folhas e folhas a fio.Tudo isso é somente para dizer que Literatura é muito mais que isso. Que enquanto tivermos professores ensinando linearmente, cronológicamente a literatura, nunca teremos alunos vivenciando a literatura, contextualizando essa disciplina a tal ponto dela ser um cotidiano na vida do aluno.

Hoje, há uma onda mundial em formar leitores, outro processo desvinculado à literatura, como se tivéssemos dois momentos específicos: um de formar leitor e outro de ler.

A Literatura, para aqueles professores que esqueceram e para os que não sabem, é formadora do homem e atua de forma significativa na vida do indivíduo. Diante do papel humanizador da literatura todo processo se dá a partir do momento em que nosso aluno consegue fazer do ensinamento da literatura uma aprendizagem ao longo da vida.

Todo processo de se ensinar Literatura para que os alunos passem no vestibular, ou nos Exames Nacionais é furado, é mentiroso porque nada tem a ver com a essência literária de criação e somente mascara um grande sistema falho que busca apenas uma questão: A entrada do aluno na Universidade.

Quero terminar esse breve artigo com as palavra de António Cândido para que alguns se lembrem o que o mestre disse.

“A literatura pode formar; mas não segundo a pedagogia oficial. [...]. Longe de ser um apêndice da instrução moral e cívica, [...], ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela [...]”.(CANDIDO, 1972).

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Gislaine Becker
Enviado por Gislaine Becker em 14/12/2009
Reeditado em 14/12/2009
Código do texto: T1977655
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