O Rei do Baião

Há 20 anos, perdemos a viva voz do nosso Rei do Baião, o grande sanfoneiro e cantor Luiz Gonzaga, cujas músicas retratam com toda maestria a história do homem nordestino, sobretudo as dificuldades de manter-se na região. Ele próprio foi um retirante, somente alcançando seu extraordinário sucesso por ter migrado para o sudeste do país. Na sua música “Triste Partida”, do compositor Patativa do Assaré, com dezenove estrofes, uma das mais longas letras, está ali retratada a realidade do retirante da época, que se servia do único meio de transporte para São Paulo, o conhecido “pau-de-arara”, aquele caminhão com bancos de tábuas atravessadas e coberto por lona. Estradas empoeiradas, com muitos catabios, num total desconforto, lá ia o pobre coitado com o coração partido por deixar a sua terra em busca de um destino incerto na capital da garoa. Um emprego, um patrão, uma mudança de vida.

Entre as suas inúmeras músicas sobre o sertão nordestino, “Asa Branca” foi considerada o seu hino, a sua música sagrada, assim como o “Vidas Secas” para Graciliano Ramos. Como outros nordestinos, ele também procurava mostrar o seu amor às suas origens, sempre cantando as coisas do Nordeste. E estava atento às suas mudanças. Vendo o nosso progresso chegar, ele não esqueceu de dizer que “O meu Nordeste está mudando”. E saiu enumerando o que já se podia contar em Caruaru, Campina Grande, Jaboatão, Natal e Aracaju, como universidade, televisão, fábrica de jipes, foguetes espaciais e o nosso ouro preto, o petróleo. Para a época já era uma boa conquista. Por isso dizia ele: “Senhor repórter já que está me entrevistando / anote tudo pra botar no seu jornal / que o meu Nordeste está mudado / publique tudo pra ficar documentado.

Com o avanço de sua idade, pensou em deixar a carreira profissional e voltar para seu Exu, a sua cidade natal. Numa bela festa de despedida, promovida pela rede Globo de Televisão, vários artistas nordestinos lá estavam prestando a sua homenagem. Mas o próprio Luiz Gonzaga disse que voltava para sua terra, mas o artista não se despede, está sempre onde o povo quer. Despedida mesmo só em 02 de agosto de 1989, quando deixou a sua vida terra. Felizmente, graças à tecnologia, não perdemos a sua voz. Ele está aí cantando e encantando a todos nós. Aplausos para o nosso Rei.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 15/12/2009
Reeditado em 15/12/2009
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