Quando a intransigência se faz presente

Sabemos que a mola propulsora da intransigência, muitas vezes, fundamenta-se no princípio da arrogância ou do individualismo eminentemente exclusivista.

O incômodo disso tudo é a persistência em que nos colocamos quando, chamado a uma necessidade de se refazer conceitos ou preconceitos unilaterais, optamos desnecessariamente e achando mais conveniente, simplesmente rejeitarmos toda e qualquer forma de nos impelir à reflexão necessária e real que temos de romper com o fenômeno da mesmice que tanto nos reduz à condição análoga de um ser que simplesmente se nega veementemente na condução de sua vida. E o pior, acha-se que está “abafando” quando na verdade “está se abafando” perante os desafios da vida.

É nas rodadas pela vida que nos deparamos com situações que, sob o teste em demonstrarmos os avanços subjetivos rumo a um estado de diálogo e civilizado, nos vemos comumente escravos dos preconceitos e resolvemos adiar qualquer maneira de efetivamente inovarmos para com os desafios que a vida nos coloca a frente em nosso cotidiano.E o pior, a redução para com o entendimento frio das coisas é tão grave que preferirmos por comodidade ou simplicidade, optarmos pelos arranjos objetivos das coisas, principalmente ao insistirmos na resistência de procurarmos vias alternativas à resolução dos desafios que passamos na vida, seja lá no campo emocional, afetivo ou profissional.

Existe um adágio popular que o “pior dos cegos é aquele que não quer ver”. E me parece que bem se encaixa a reflexão acima, principalmente quando fazemos da intransigência o falso norte presente de nossa vida, diante dos inúmeros chamamentos a uma sensibilidade sistêmica e correcional que tanto nos reclama pela interiorização de valores universais; quando ausentes, terminam por nos impedir que realmente cresçamos em todos os sentidos no passageiro viver que nos acompanha.

Certa vez um determinado chefe de uma repartição pública, achando-se insubstituível ou dono do saber como se fosse o “Deus” e, portanto, onipotente e onisciente, afugentou-se no campo do famoso raciocínio instrumental (linear, direcionado, exclusivo e extremamente objetivo) ocasião em fez questão de deixar bem claro que “todos os subordinados funcionais deveriam curvar-se a ele” diante de um determinado impasse acontecido no órgão. E ao se olvidar que tudo se resumiria a uma estratégia simples de se puxar uma reflexão de todos os atores envolvidos sobre o ponto em questão, sobretudo no despertar dessa consciência universal entre o grupo, acabou por acordar nos demais circundantes sua verdadeira face oculta ante a situação instaurada. Ou seja, vieram a tona conceitos dantes desconhecidos por todos, já que diante de uma problemática pequena, grandes adjetivos foram suscitados à pessoa que antes ostentava certo bem-querer. E o reconquistar da situação carismática, praticamente tornou-se impossível, pois a desconfiança e o descrédito foram as expressões que ficaram como seqüelas incontestes e irreversíveis do acontecido.

Interessante que do incidente acima narrado, terminou por todos entenderem que, quando a intransigência se faz presente nas relações humanas, somente outro canal de diálogo pode reverter o quadro estabelecido rumo a uma pacificação dos interesses em conflito.

Ora, optar por uma intransigência na arte de se conduzir a vida externa dos relacionantes, com certeza nada mais se conclui senão pela pequenez do ser inexpressivo dentro de nós que, caso não o extirpamos, com certeza, ambos sucumbirão diretamente, e a instituição da qual faça parte (qualquer um delas em nossa caminhada), por tabela sofrerá todas as conseqüências decorrentes.

E a pergunta que sobrará será: a quem deveremos consignar a responsabilidade maior? Para os esclarecidos ou os mais cônscios, somente à arrogância, a prepotência, a vaidade e a deveras falta de humildade, como sendo únicas expressões que se podem atribuir a um ser que assim faça sua preferência de vida, mesmo que se destrua só, mas com certeza, até que o acorde, muitos sucumbirão juntos ante a necessária e verdadeira libertação de todos.

Sebastiao Uchoa
Enviado por Sebastiao Uchoa em 20/12/2009
Reeditado em 13/06/2013
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