ALCA OU MERCOSUL?

Ao propor a realização do Congresso do Panamá, em 1825, o sonho de Bolívar era unir todos os países hispano-americanos. Mais tarde, vencida a desconfiança com que encarava a monarquia brasileira, incluiu o Brasil num sonho maior: a integração de toda a América Latina. O que ele realmente nunca admitiu foi a união com os Estados Unidos, e por uma razão muito simples: não seria uma união em termos igualitários e sem propósitos hegemônicos.

Esse mesmo motivo levou o advogado Durval Noronha Goyos , árbitro do Brasil na Organização Mundial do Comércio, a declarar que a adesão do Brasil à Alca seria um péssimo negócio.

O setor de serviços, segundo Goyos, seria o mais prejudicado. Para ilustrar sua análise, usou a imagem de uma roda de bicicleta: os Estados Unidos seriam o centro da roda e os raios seriam os países que aderissem à Alca. Estes deixariam de negociar entre si e tratariam tudo diretamente com o centro, onde se realizariam os negócios bancários e outras transações financeiras. A melhor alternativa para o Brasil, na opinião de Goyos, seria intensificar os acordos multilaterais e continuar acreditando no Mercosul, que é um acordo sem pretensão hegemônica (Jornal do Brasil, 07/10/1997).

Também o economista Gouvea Neto, professor da Universidade de Novo México, nos EUA, considera a adesão à Alca nociva à economia brasileira. O Brasil é hoje um negociador global e, se os EUA respondem por 20% de nosso comércio exterior, a participação dos demais países é de 80%. Se aderisse à Alca nos termos que os E.U.A. querem impor, estaria alijando parceiros importantíssimos como a União Européia e os países asiáticos. A Alca, na opinião de Gouvea, será uma associação desigual pelo fato de um de seus membros, os E.U.A., ter uma economia muito mais forte, capaz de distorcer os padrões de comércio (Jornal do Brasil, 15/10/1007).

Milênios antes de Bolívar e dos técnicos aqui mencionados, estava escrito na Bíblia: ”Não te associes com o que é mais rico do que tu. Como o pote de barro pode se ligar com o caldeirão de ferro?” (Eclesiástico, XIII,2).

José Lisboa Mendes Moreira
Enviado por José Lisboa Mendes Moreira em 22/07/2006
Reeditado em 19/05/2007
Código do texto: T199598