HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DA SERRA - ESPÍRITO SANTO - BRASIL

HISTÓRIA DA SERRA

SERRA - ESPÍRITO SANTO - BRASIL

Autor Clério José Borges

Escritor Capixaba da Acadenmia de Letras e Artes da Serra.

Texto disponível para Pesquisas desde que citada a fonte.

SERRA - ESPÍRITO SANTO - BRASIL

ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O município da Serra situado a 27 km da capital do Estado do Espírito Santo, na região Sudeste do Brasil, teve o seu processo de colonização iniciado com a fundação da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição onde, em 1556, foram alojados os índios de Maracajaguaçu, que vieram da Ilha de Paranapuã, (seio do mar), no Rio de Janeiro, sob a orientação do padre Braz Lourenço, conforme recomendação do Donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho.

A Serra teve o seu território explorado pelos primeiros colonos do Espírito Santo já em 1535.

Antes de 1535 a Serra era habitada pelos Índios Tupiniquins que vivam no litoral. Posteriormente em 1556, vieram do Rio de Janeiro os Índios Temiminós, ocasião em que o padre jesuíta, Braz Lourenço e o Chefe Indígena, Maracajaguaçu (Gato Grande), fundam nas proximidades do Mestre Álvaro, a Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, estabelecendo as bases de colonização de uma região que posteriormente seria a cidade da Serra.

A Aldeia Indígena dos Temiminós é construída sob a orientação do Padre Jesuíta, Braz Lourenço, onde é edificada uma pequena capela. A primeira missa e a inauguração da capela é marcada para o dia 8 de dezembro, na festa de Nossa Senhora da Conceição. A Aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra é fundada a 8 de Dezembro de 1556 com a inauguração da capela onde é rezada a Missa, por Braz Lourenço, em presença de Maracajaguaçu e sua gente.

Braz Lourenço, padre da Companhia de Jesus e Maracajaguaçu, (Gato Grande), chefe dos Temiminós, são os fundadores da Serra.

Inicialmente a Aldeia dos Índios Temiminós de Maracajaguaçu denominava-se Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, em seguida passou a ser Conceição da Serra e, finalmente, Serra.

A região passou a ser denominada Serra em razão do imponente maciço, o Mestre Álvaro, que se assemelha a uma cadeia de Montanhas, uma Serra.

MAIOR MUNICÍPIO DA GRANDE VITÓRIA

Com área de 551 Km ² (Conforme IBGE - Malha Municipal Digital 1997 e “Cadastro de Cidades e Vilas do Brasil”, 1999. Antes a área da Serra divulgada era 547 Km ²), a Serra apresenta em seu relevo uma série de lagoas, rios e ondulações em forma de chapadas. O primeiro impulso econômico foi a cana-de-açúcar. Depois ocorreu a plantação em larga escala de abacaxi. Hoje o setor industrial destaca-se com várias indústrias instaladas no município.

O litoral é caracterizado pela vegetação de dunas, praias e manguezais. As praias são extensas e admiradas pelos visitantes, dispondo a região de excelente infra-estrutura hoteleira.

No município estão sediadas várias indústrias como a Companhia Siderúrgica de Tubarão, CST; a Companhia Vale do Rio Doce, bem como o Centro Industrial de Vitória, o CIVIT.

Também se situam na Serra os Portos internacionais de Tubarão e Praia Mole.

Em contraste com a industrialização existe o rico folclore e as belezas naturais, com os 23 km de praias, destacando-se Jacaraípe, Manguinhos, Carapebus e Nova Almeida.

Entre as manifestações folclóricas da região estão as congadas, o maculelê e a tradicional festa de São Benedito da Serra sede, comemorada nos últimos dias de Dezembro, nas proximidades do Natal, com a participação de diversas bandas de Congo.

A Serra é também ponto de atração para os turistas e moradores do Espírito Santo em razão da beleza do Mestre Álvaro e das várias igrejas de arquitetura jesuítica, como São João em Carapina, Nossa Senhora da Conceição, da Serra sede e Reis Magos em Nova Almeida e os trabalhos dos artesãos locais, com os seus balaios, esteiras de vime, entalhes de madeira e produtos em argila, sem faltar a importantíssima e maravilhosa culinária, com a Muqueca Capixaba na Panela de Barro e os quindins e bolinho de arroz.

RELEVO E COORDENADAS GEOGRÁFICAS

O Município apresenta em seu relevo uma série de lagoas, rios e ondulações em forma de chapadas. O primeiro impulso econômico foi a cana-de-açúcar. Depois ocorreu a plantação em larga escala de abacaxi. Hoje o setor industrial destaca-se com várias indústrias instaladas no município.

O litoral é caracterizado pela vegetação de dunas, praias e manguezais. As praias são extensas e admiradas pelos visitantes, dispondo a região de excelente infra-estrutura hoteleira.

A sede do Município da Serra está situada entre as coordenadas geográficas:

20º 07’ 43” de latitude sul;

40º 18’ 28” de longitude oeste.

Estas coordenadas foram obtidas a 305 metros a Nordeste da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na sede do Município.

A sede da Serra é a cidade mais alta de região da Grande Vitória, com a média de 40 metros de altitude, medida no centro, próximo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Historicamente a Serra possui a seguinte evolução:

1) Foi fundada em 8 de dezembro de 1556 por Braz Lourenço e Maracajaguaçu;

2) Foi elevada à Categoria de Freguesia, em 24 de março de 1724. Como em 1724 a Freguesia não pode ser instalada, pois a Igreja não estava concluída, nova Carta Régia foi elaborada em 24 de maio de 1752 elevando a Serra à categoria de Distrito e Paróquia. Contudo como a Igreja não estava edificada com pedras e alvenaria, aguardou-se o fim da construção da Igreja para que a Serra fosse oficializada como Freguesia, o que só veio a ocorrer 17 anos depois, em 1769. A Freguesia só foi instalada após a construção total da Igreja, em 1769, desmembrando-se assim a Freguesia da Serra da Freguesia de Vitória.

Na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, publicada em 1959, consta o seguinte sobre o assunto:

“Carta Régia de 24 de março de 1752, mas em virtude de só em 1769 concluir-se a Igreja, retardou-se, para esse ano, a execução da referida Carta”.

Freguesia, segundo os Dicionários, significa Paróquia, conjuntos de paroquianos, ou seja, pessoas que freqüentam uma Igreja. A Igreja Católica ao perceber a evolução de um determinado povoado, estabelecia a Freguesia, que só era instalada após a Igreja estar totalmente construída.

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A SERRA

A natureza foi generosa para com a Serra. Dotou-a de belezas sem igual, tanto no litoral como no interior.

Ricas também são as manifestações culturais, as mais expressivas do Espírito Santo e que se mostram nas festas populares, na música, na dança, no artesanato e na culinária.

De sua abastada história, os Serranos fizeram festas, misturaram sabores, construíram inúmeros trabalhos artísticos e moldaram objetos para guardar na memória suas raízes.

Serra, da puxada do mastro de São Benedito, das Bandas de Congos, da Insurreição do Queimado, do Mestre Álvaro.

Serra, da Muqueca Capixaba com peixes nobre muito coentro e tintura de urucum em panelas de barro.

A Muqueca Capixaba. Prato especial feito em panela de barro. Peixe cozido com muito tempero verde e coentro, sem azeite de dendê e leite de coco. A grafia certa é com “u” mesmo.

Serra, dos quindins de Nova Almeida e dos bolinhos de arroz da sede do Município.

Serra, de um mar esverdeado e litoral tranqüilo que oferece o ano inteiro, alimento, prazer e saúde.

Serra, das manifestações populares marcantes. De um povo com um passado de heroísmos, conflitos e bravuras.

SUPERFÍCIE E PRAIAS

A extensão territorial do Município é de 551 Km ² (Conforme IBGE - Malha Municipal Digital 1997 e “Cadastro de Cidades e Vilas do Brasil”, 1999. Antes a área da Serra divulgada era 547 Km ²).

Em 1969 o Município da Serra possuía 547 km2 de área do Município da Serra representam 1,2 por cento da área do Estado do Espírito Santo e 37,4 por cento da área da Grande Vitória. (Conforme o “Anuário Estatístico do Brasil”, de 1969, e Jornal “A Gazeta” de 28 de agosto de 1971.). O IBGE no ano 2000, fez uma reformulação dos quilômetros quadrados dos Municípios da Grande Vitória e agora a Serra possui 551 km2

As cidades foram crescendo, ficando muito próximas umas das outras, dando a impressão de ser uma cidade só. Essa proximidade fez com que surgisse relação de dependência entre as mesmas.

Área ou Região Metropolitana é o conjunto de cidades, próximas e dependentes, uma das outras.

A Serra é um dos Municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória, sendo o maior em extensão. Em segundo lugar está Viana, em terceiro Cariacica, e quarto lugar Vila Velha. Dos cinco, a capital Vitória é o menor Município em superfície.

A sede da Serra está a 12 km da costa. Possui 151 km2 existindo nas proximidades vários bairros da periferia que ampliam a sua área. Fica a 27 quilômetros de Vitória. Em linha reta são pouco mais de 20 quilômetros do Centro da Serra até a Praça Oito de Setembro, no centro de Vitória.

Litoral ou costa é a faixa de terra banhada pelo mar. O litoral é constituído de baías, enseadas, pontas, cabos, ilhas, arquipélagos, lagos, lagoas e mares.

O litoral é um espaço público de riqueza inigualável, cujo trunfo é precisamente o seu patrimônio cultural e natural, cuja defesa exige comportamento único e solidário com autoridades e povo atentos e vigilantes para que não ocorram impactos ou mudanças na qualidade de vida do nosso povo.

O litoral do Espírito Santo possui 411 km., sendo que existem publicações. Existem publicações que informam que o Litoral do Espírito Santo possui 436 km. O número de “411 km.” está na publicação oficial da Comissão Coordenadora do relatório Estadual sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – ES – Eco 92, Relatório Final: “Meio Ambiente e Desenvolvimento no Espírito Santo”. Revisão e ampliação do texto sob a responsabilidade de Hesio Pessali. Página 47.

O Brasil possui 7.367 km. A Serra possui 23 km de litoral, compreendendo as praias de Jacaraípe; Nova Almeida; Manguinhos; Bicanga e Carapebus. Antigas vilas de pescadores, esses balneários no Verão, com sol quente, acolhem grande número de turistas, oferecendo modernidade, prazer e qualidade de vida.

INTERNET E POTENCIALIDADES

Na Internet, a rede Mundial de Computadores, na página Oficial da Prefeitura Municipal da Serra, consta o seguinte:

“Localizada na região sudeste do Brasil e na porção central do Estado do Espírito Santo, a Grande Vitória é formada pelos municípios de Vila Velha, Cariacica, Serra, Viana e Vitória que é a principal ilha de um arquipélago de 34 ilhas e capital do Estado”.

A Grande Vitória tem uma área de 1.461 Km² e população estimada, no início do ano 2000, último do século 20, em 1,2 milhões de habitantes, cerca de 42% da população de todo o Estado do Espírito Santo.

O Estado se beneficiou com a instalação de grandes projetos industriais na década de 70, suplantando a condição de economia primário-exportadora, que predominou até meados dos anos 60.

Todos os grandes projetos – como Siderúrgica de Tubarão, Vale do Rio Doce, Samarco e Aracruz Celulose – estavam voltados para o comércio exterior.

Os portos capixabas movimentam 25% das cargas que entram ou saem do País e respondem por 10% do valor das exportações brasileiras, incluindo os produtos provenientes de outros Estados. Metade deste percentual é produzido no próprio Espírito Santo. As vantagens dos portos são de origem logística e econômica: águas mais profundas no litoral e tarifas portuárias mais competitivas.

O Município de Serra está localizado na parte Norte da Região Metropolitana, com cerca de 300 mil habitantes, em seus 547 Km ². As praias de mar esverdeado e areia grossa que contornam sua costa oferecem, durante todo o ano, saúde e lazer.

Através de uma infra-estrutura adequada para o desenvolvimento econômico, o município é sede de inúmeras indústrias de pequeno, médio e grande portes, gerando emprego e riquezas, estimulado pelo anel Viário que interliga as principais rodovias do sul do País.”

Não se pode escrever sobre a Serra sem se falar da própria história dos índios e dos primeiros colonizadores do Espírito Santo. Existe um elo de ligação nesta grande corrente histórica de heroísmos, bravuras e idealismo.

ORIGEM DA SERRA

Dom João III, o piedoso, cognominado o “colonizador”, era rei de Portugal, em 1534. Para povoar a vasta extensão de terra que Pedro Álvares Cabral havia descoberto em 1500, resolveu dividir o Brasil em vários grandes lotes chamados capitanias.

A notícia da descoberta de metais preciosos na América espanhola acentuou a necessidade de Portugal apressar a colonização de seus domínios no Novo Mundo.

O Brasil foi dividido então em 15 lotes, que constituíam 14 capitanias, doadas a 12 pessoas. A Coroa entregou à iniciativa privada a responsabilidade pela colonização. Com a morte do donatário, a administração da capitania passava a seus descendentes. O sistema já fora adotado com sucesso, no século anterior, nas possessões portuguesas na África (Cabo Verde, Madeira e Canárias).

Os direitos e deveres dos donatários estavam expressos na carta de doação e no foral. Ao donatário cabia a propriedade de 10 léguas ao longo da costa, isenta de tributos, exceto o dízimo. Sobre o restante da capitania, porém, o donatário possuía apenas o direito de posse, de administração e do exercício da justiça em nome do rei.

Os direitos do rei eram: o dízimo de todos os produtos, o quinto dos metais e das pedras preciosas e o monopólio do pau-brasil e do mar. Os direitos dos donatários eram: a renda dos produtos e da terra, a doação de sesmarias, a escravização dos índios, a redízima das rendas pertencentes à Coroa, a vintena do pau-brasil e a dízima do quinto real sobre metais preciosos.

Pode-se dizer que as capitanias cumpriram seu objetivo, impedindo a invasão estrangeira e iniciando o povoamento.

As capitanias receberam a qualificação de hereditárias, pois a propriedade passava de pai para filho, como herança e foram entregues a Capitães Donatários, que eram pessoas de reconhecidos trabalhos prestados a Portugal. Um dos Capitães Donatários, Vasco Fernandes Coutinho, era herói militar que se destacara em Guerras realizadas por Portugal na África, Índia e na China.

A VIAGEM

No dia 1º de junho de 1534, na cidade de Évora, Portugal, Dom João III assina a Carta de Doação de 50 léguas de terra na costa do Brasil, ao “fidalgo da Casa Real”, Vasco Fernandes Coutinho.

Com a Carta de Doação, Coutinho organiza sua viagem. Compra materiais e utensílios. Contrata marinheiros. Adquire uma Caravela, que recebe o nome “Grorya” (Glória) e, com ela empreende viagem para o Brasil.

Na tripulação de Coutinho “dois fidalgos de elevada nobreza”, Dom Jorge de Menezes e Dom Simão Castelo Branco, os quais foram mandados para o Brasil para cumprir penas, por delitos praticados. Dom Jorge de Menezes era Capitão e participara do descobrimento da Nova Guiné, em 1526. Seu crime fôra matar o Capitão de uma Fortaleza nas Molucas de nome Gaspar Pereira.

A Caravela era composta de aproximadamente 60 pessoas.

Na comitiva também iam Sebastião Lopes e Antônio Espera, além do espanhol Felipe Guilhem, “entendido em pedras preciosas.”

A viagem até o Brasil transcorre num clima de expectativa e esperança nas riquezas da nova terra.

ESPÍRITO SANTO

Num domingo, dia 23 de maio de 1535, Vasco Coutinho chega à sua Capitania.

A Caravela ancora na enseada da Prainha. A tripulação desembarca numa pequena enseada junto ao morro, à esquerda da entrada da baía, que “julgavam ser um rio.”

O local recebe o nome de Espírito Santo, porque naquele dia, 23 de maio, a Igreja Católica Apostólica Romana comemorava a festa da terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo. A festa de Pentecostes.

Os índios a princípio são hostis. São realizados alguns disparos de canhão que acabam afugentando os nativos para a floresta. Em seguida são construídos os “primeiros casebres” e uma fortificação. É formada a povoação.

Com o nome de Espírito Santo, Vila Velha é a primeira cidade fundada. A denominação de Espírito Santo se estenderia posteriormente para toda a Capitania.

Quem nasce em Vila Velha é chamado de “Canela-Verde”, cognome que surgiu em razão de algas verdes que se prendiam as canelas dos pescadores que saiam do mar na maré baixa e de um costume que foi adotado pelos caçadores de ao adentrar no meio da mata, protegerem as pernas contra os espinhos com um amarrado de folhas espessas de cor verde, cobrindo canelas e botinas.

O Donatário e seus companheiros, “povoadores dos mais destemidos,” iniciam os planos para explorarem toda a área da Capitania.

EXPEDIÇÕES

A primeira expedição destinada a investigar os arredores da povoação, sede da Capitania, foi organizada e iniciada menos de um mês após a chegada de Coutinho.

Padre Ponciano Stenzel dos Santos em discurso feito na Missa Campal, durante os festejos comemorativos dos 400 anos de Colonização do Solo Espírito-Santense, em 1935, assim se expressou:

“Pelos começos de junho do mesmo ano de 1535, alguns povoadores dos mais destemidos, embarcados em lanchões, deram-se a investigar os arredores. Subindo pela barra, julgaram que o mar fosse um rio e, apesar de incomodados pelos índios, conseguiram desembarcar, a 13 de junho, no Campinho próximo ao lugar depois denominado de Caieiras. Como era o dia de Santo Antônio, deram à nova ilha o nome de Santo Antônio. (...) pelo fim do mês, outros exploradores, por terra, foram abrindo picadas, sertão a dentro, em direção ao Mestre Álvares, (sic) chegando até aos arredores do lugar onde está hoje a cidade da Serra.”

Padre Ponciano registra erradamente Mestre Álvares, o correto é Mestre Álvaro. A palavra Álvares é uma variação de Álvaro.

O escritor Basílio Carvalho Daemon, no livro “Província do Espírito Santo - Sua Descoberta, História, Cronologia, Sinópse e Estatística”, editado pela Tipografia Espirito-Santense - Vitória - 1897, relata que em fins de 1535 e princípios do ano seguinte, saíram os povoadores em grande número, “bem armados e municiados”, entrando pelo sertão até os arredores “da hoje cidade da Serra.”

A escritora Maria Stella de Novaes, no livro “História do Espírito Santo”, relata na página 18, que Vasco Coutinho:

“Em fins de maio e princípios de junho, mandou investigar os arredores da povoação, seguindo a mira do Mestre Álvaro.”

Já nas primeiras explorações dos colonizadores, a região passou a ser denominada Serra em razão do imponente maciço que assemelha-se a uma Cadeia de Montanhas, uma Serra.

DESBRAVAMENTO

O desbravamento do território em que está situado o atual Município da Serra inicia-se em 1535, com os grupos de primeiros exploradores que, por terra foram abrindo picadas, “sertão a dentro”, em direção à Serra.

A expectativa da existência de ouro na Serra do Mestre Álvaro leva o Donatário Coutinho a organizar expedições à região, mas as expedições acabam logrando pouco êxito, por falta de recursos.

Em 1540, Vasco Coutinho empreende viagem de volta a Portugal em busca de mais homens e materiais para o desenvolvimento de sua Capitania.

Anos mais tarde, em 1548, ao voltar com os recursos, encontra a Capitania arrasada devido aos constantes ataques indígenas que culminaram com as mortes de Dom Simão Castelo Branco e Dom Jorge de Menezes, que o haviam substituído no comando da Capitania.

O Artista Plástico Kleber Galvêas, com base em artigo do ex-prefeito de Vitória, Adelpho Poli Monjardim informa que os índio foram ajudados pelo Português Rubério Martins que teria traído seus patrícios ajudando os índios que não aceitavam a imposição dos colonizadores em torná-los escravos.

Segundo o historiador Francisco de Brito Freyre, os colonizadores em 1546 passam à caça dos silvícolas para serem utilizados nos trabalhos da lavoura. Com isto, Aimorés e Tupiniquins, entre outros, no desespero da perseguição, “aliaram-se para aniquilar o estrangeiro”, que os explorava. Em imensas turbas destruíram as povoações, matando várias pessoas.

PROCURA DE OURO

Os primeiros exploradores, já na Serra, iniciam pesquisas em busca de ouro.

O espanhol Felipe de Guilhem, “entendido em pedras preciosas”, que veio com Coutinho, parte para a região da Serra em busca de riquezas.

São descobertas pepitas de ouro junto a cascalhos nos córregos do Mestre Álvaro.

São encontradas também outras preciosidades. A região fica com fama de “lugar de grande riqueza.”

O espanhol Felipe de Guilhem foi um dos primeiros pioneiros da região da Serra. Guilhem contudo não instalou nenhum povoado e nem organizou nenhuma aldeia. Apenas por aqui passou algum tempo em explorações no Mestre Álvaro. Anos mais tarde, os livros registram que Felipe de Guilhem foi para o Sul da Bahia e para as Minas Gerais.

Segundo o escritor José Teixeira de Oliveira, no livro “História do Estado do Espírito Santo”, página 49, publicado em Vitória, em 1975:

“O futuro, a riqueza, a glória, escondidos no seio da floresta, pousados na Serra de Mestre Álvaro e além, chamavam-no, seduziam-no com o encantamento do desconhecido. Mas para ir até lá, (Vasco Coutinho) tentar as Minas, alargar a conquista, fazia-se mister mais gente, mais recursos materiais.”

TERRA FÉRTIL

Segundo o padre Jesuíta Luiz Da Grã, em carta de 24 de abril de 1555, o Espírito Santo era:

“Terra mui fértil dos mantimentos da terra e que os moradores estavam mui contentes, porque além do metal, que se na mesma Vila achou, que se cá tem prata e muito ferro, mandou o Capitão Vasco Fernandes Coutinho descobrir, pelo sertão, e acharam ouro e certas pedras, que dizem serão de preço, e que dum e doutro há muita cópia.”

Constata-se posteriormente que a maior parte do ouro era ”ouro de aluvião”, sem muito valor.

Braz da Costa Rubim na obra “Memórias Históricas e Documentadas da Província do Espírito Santo”, relata:

“Ouro de aluvião espalhado em pequenas quantidades, (...), conseguidos nas Minas de Castelo e na região do Mestre Álvaro.”

Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, de dezembro de 1935, edição N.º 10, página 36, consta o seguinte texto de padre Ponciano dos Santos, baseado no historiador Basílio Carvalho Daemon, em obra de 1897:

“Estabelecidas as primeiras Aldeias, no mesmo ano de 1554, fundou ainda, (em 1556) o padre Braz Lourenço outra, na cidade de Conceição da Serra.”

As primeiras Aldeias foram fundadas pelo padre Afonso Braz, o qual antecedeu Braz Lourenço, que chegou ao Espírito Santo em Dezembro de 1553.

OBRA DO IBGE

Em 1959, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, publicou vários volumes de uma obra intitulada “Enciclopédia dos Municípios Brasileiros”, planejada e realizada por Jurandyr Pires Ferreira, presidente do IBGE.

O Município da Serra está no volume XXII, publicado em 31 de janeiro de 1959, nas páginas 148 a 152 e o texto é de autoria de Ermando Luiz de Souza, agente de estatística. Não constam as fontes em que se baseou para a sua pesquisa. O trabalho é ilustrado com várias fotos do Município. No item intitulado "Histórico" consta o seguinte:

“Em meados do século XVI, quando o padre Braz Lourenço, chegado à Capitania do Espírito Santo em outubro de 1553, desenvolvia com os seus companheiros o apostolado de confraternização dos Índios com os Portugueses, iniciou-se o desbravamento do atual Município da Serra no Espírito Santo.”

O texto cita a chegada de Braz Lourenço em outubro de 1553. O mês está errado. O mês correto é dezembro pois chegou na “oitava do Natal”.

O nome do padre Braz Lourenço está correto.

OITAVA DO NATAL

A historiadora Maria Stella de Novaes, na página 29 de sua “História do Espírito Santo”, diz que a chegada de Braz Lourenço foi em dezembro de 1553.

O historiador Heribaldo Lopes Balestreiro ao escrever sobre a chegada de Braz Lourenço, cita também dezembro de 1553.

A definição certa do mês está na carta do padre Jesuíta Luiz Da Grã, companheiro de Braz Lourenço, na viagem de Portugal para o Brasil:

“Eu parti da Bahia para São Vicente na derradeira oitava do Natal e porque não houve outro navio em que pudesse ir (...) não pudemos chegar mais que a esta Capitania do Espírito Santo.” (Carta de Luiz Da Grã, de 24 de abril de 1555.)

Oitava segundo os dicionários é o espaço de oito dias consagrados a uma festa religiosa.

Oitava do Natal significa portanto oito dias antes do Natal.

Braz Lourenço chegou com Luiz Da Grã na derradeira Oitava do Natal, ou seja, no mês de dezembro, oito dias antes do Natal de 1553.

No livro: “Cartas Avulsas dos Jesuítas”, página 27, consta que em 1556 está auxiliando Braz Lourenço no Espírito Santo o Irmão Antônio de Atouguia.

O padre Luiz Da Grã, ao passar pelo Espírito Santo achou os Índios “muito separados da povoação portuguesa.” Luiz Da Grã estava de passagem com destino a Capitania de São Vicente, em São Paulo.

PRIMÓRDIOS DA FUNDAÇÃO

Luiz Da Grã em carta do Espírito Santo, datada de 24 de abril de 1555, relata os primórdios da fundação da cidade da Serra:

“Fica agora o padre Braz Lourenço com uma nova ocupação, de que temos confiança em o Senhor que se diga mais certo fruto do que sinto em nenhuma outra parte, que eu tenha visto, do Brasil, porque depois que eu tomei a arribar a esta Capitania, chegou aqui um Principal, que chamam Maracajaguaçu, que quer dizer Gato Grande. (...) Fazia eu de conta, se estivesse aqui, de ir morar entre eles, mas o padre Braz Lourenço se ocupará com eles, e espero no Senhor Deus que se farão Cristãos e que daí ajuntaremos alguns mínimos e que serão mais fieis do que eles acostumam ser.”

Segundo a publicação do IBGE já citada:

“Em 1556, penetrando na região ao Norte da Vila de Vitória, o referido Jesuíta (Braz Lourenço) fundou a Aldeia de Conceição nas vizinhanças do Monte denominado Mestre Álvaro. Ali erigiu uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Serra.”

No livro “Anchieta, o Apóstolo do Brasil”, o padre Hélio Abranches Viotti, no Capítulo sobre “Anchieta na Capitania do Espírito Santo”, página 214, ao se referir à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Serra informa:

“A de Conceição se havia originado com o estabelecimento no Espírito Santo dos Temiminós, do Rio, fugindo em 1554 à perseguição implacável dos Tamoios. Uma parte deles regressara, com Araribóia, ao Rio de Janeiro, aí prestando para o Domínio Lusitano inestimáveis serviços.”

O historiador José Teixeira de Oliveira informa em sua obra “História do Estado do Espírito Santo”, 2ª edição ampliada e atualizada, Vitória, 1975:

“No primeiro quartel de 1554, Vasco Coutinho regressou à Capitania. Um dos seus primeiros atos deve ter sido organizar a expedição de quatro navios mandada à Guanabara salvar Maracaiaguaçu e sua gente das unhas dos Tamoios. O padre Luiz Da Grã herdou à História um relato completo sobre o assunto. (...) De início, foram localizados em um sítio nas proximidades da Vila da Vitória.” (Página 82)

A palavra Maracaiaguaçu está escrita na forma antiga, onde o autor em questão, substituiu o “Y”, pelo “I”.

A grafia correta e atualizada da palavra é Maracajaguaçu.

Em Nota no rodapé da página consta:

“Diz Serafim Leite que esta carta de Luiz Da Grã dá a primeira origem da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição.” (História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo I, página: 234)

Esta é a origem da cidade da Serra.

LOCALIZAÇÃO

Na página 171 do livro “A Outra História da Companhia de Jesus”, o escritor Jayme Santos Neves informa que Gato Grande e sua gente foram localizados na Aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra.

Braz Lourenço, segundo o escritor Heribaldo Lopes Balestreiro era um “esforçado catequista”, pois:

“Muitos foram os índios por ele integrados à vida religiosa e econômica da Capitania, como trabalhadores e mesmo como funcionários na execução de serviços burocráticos.”

Segundo o mesmo escritor Heribaldo, o trabalho de Braz Lourenço foi :

“Sempre devotado ao progresso do Colégio e das Missões Apostólicas que havia criado e que se encontravam em pleno funcionamento.”

Comprova-se, assim que Braz Lourenço não cuidava unicamente das Missões Apostólicas, (Aldeias) que havia criado, mas também era “devotado” na construção do Colégio dos Jesuítas que ficava em Vitória.

INÍCIO DA COLONIZAÇÃO

O município da Serra cresce de maneira notável em razão de suas potencialidades nos diversos setores econômicos. Possui uma localização estratégica, ficando num raio de apenas mil quilômetros dos principais centros comerciais e industriais do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, além de ficar no centro econômico e administrativo do Espírito Santo.

Estando na região metropolitana da Grande Vitória, fazendo limite com a capital do Estado, a Serra se constitui não só no maior município em extensão territorial, como também no município que consegue destaque no cenário industrial do Estado, consolidando seu desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo propiciando a melhoria da qualidade de vida de sua população.

Não se pode escrever sobre a Serra sem se falar da própria história dos índios e dos primeiros colonizadores do Espírito Santo. Existe um elo de ligação nesta grande corrente histórica de heroísmos, bravuras e idealismo.

A Serra teve o seu processo de colonização iniciado com a fundação da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição onde, em 1556, foram alojados os índios de Maracajaguaçu, que vieram da Ilha de Paranapuã, no Rio de Janeiro, sob a orientação do padre Braz Lourenço, conforme recomendação do Donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho.

Inicialmente a Aldeia passou a ser, Aldeia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em seguida passou a ser Conceição da Serra e, finalmente, Serra.

CLÉRIO JOSÉ BORGES ESCRITOR CAPIXABA
Enviado por CLÉRIO JOSÉ BORGES ESCRITOR CAPIXABA em 24/07/2006
Código do texto: T200517