FELIZ 2010, CIDADÃO 00 18810355 1987 1 0004 041 0000363 13

É, gente, agora é lei. Todo cidadão nascido a partir deste primeiro de janeiro passado recebe uma nova certidão de nascimento. Com um código definitivo, do berço ao túmulo. Qualquer ilação com identificação e seleção racial é descabida...

Falta pouquinho para tatuarem um código de barras em cada nascido vivo. Quer dizer, nos muito vivos, o código virá borrado.

Taí um campo novo para o pessoal da genética. Um gene numerador. Está fazendo falta na espécie...

Esse código, composto de 31 algarismos identificará, nos seus vinte e nove primeiros, o nascido, o cartório de registro, o livro e a folha de assentamento (não, nada a ver com o MST!). Os últimos dois são o verificador. Serão disponibilizados, talvez, pela cabala. Brincadeirinha. Tem um sistema complexo que soma, multiplica, subtrai e divide os algarismos anteriores, incluindo em que casa de Saturno se encontrava Plutão no momento feliz do primeiro choro. Primeiro de muitos...

Certamente na segunda geração serão incluídos, no tal código de nascimento, os códigos respectivos dos pais. Quiça já o celular. Com dódigo de área. Coisa linda. Com um PC conectado na internet, a individualidade vai pras cucuias...

Qualquer pecadilho da infância ou adolescência ficará registrado, de forma indelével, nos escuros e escusos escaninhos de roteadores alienígenas, num limbo virtual. Como os monstros do armário ou o jacaré de debaixo da cama, estarão em prontidão, qual espada de Dâmocles, para cair com tudo sobre o infeliz cidadão. E quem não os temos, esses pecadilhos? Pequenos esqueletos insepultos, escondidos em cisalhas da memória?

Curiosamente, na década de 1970, governos militares propunham coisa igual. Um único registro, da fralda até a mortalha. As então chamadas "esquerdas" berraram. Facilitaria demais a vida dos arapongas, dos pequenos espiões do Osni - apelido carinhoso dado ao Serviço Nacional de Informações, SNI. Tal idéia, diziam, só poderia ter saído da caixa de maldades dos burocratas comandados pelos gorilas.

Mas "la nave va". Os gorilas já estão sob relativo controle, apesar do descontrole dos civís. E as "esquerdas" no poder. E agora, num passe de magia digno de um Houdini, o tal cadastro único transformou-se numa coisa boa. Lembro de uma camiseta, usada por um antigo (atual de novo) pollítico: "O tempo é o senhor da razão".

Escreví, ano passado, aqui mesmo, Nova Identidade: A caminho do Grande Irmão. Talvez, se você tiver tempo, valha a pena ler. Ficou mais atual.

Pois é, amigo. Não lhes basta, aos potentes, poderem cruzar seu CPF com sua conta de luz, sua conta de água, seu financiamento para qualquer tralha ou inutilidade doméstica. Querem agora evitar o trabalho de cruzamento, querem a precisão cirúrgica para especular a nossa vida.

Pensando bem, os sucessivos cruzamentos de burocratas em Brasília vem criando uma espécie predadora por demais. Melhor mesmo acabar com os cruzamentos...

Fico pensando que outro país no mundo está tão avançado assim. Ou somos os primeiros, como no nosso infalível sistema de fraude, digo urna eletrônica?

Feliz Brasil

Feliz 2010