NOSSA SUPREMA VERDADE

Quem faz a pergunta mais inteligente da bíblia é Pilatos.

Quando ele pergunta, ao inquirir o advogado voluntário do nada, o que é a verdade?

Como um representante do nada, o causídico em questão calou-se. Deixou para que Pilatos e toda a humanidade interpretassem por si o que era a tal VERDADE.

Amado(a) leitor(a), convido-o(a) a refletir sobre o que é a verdade.

E em verdade em verdade, verdade de verdade não há.

Como?

Não podemos falar sobre verdade sem deixar de considerar as relações humanas, a necessidade humana de comunicação. E comunicação entre humanos é feita especialmente por meio da linguagem.

O que é a linguagem?

Puramente representação.

A linguagem é a representação do mundo fenomenológico, do mundo que nos aparece, no sentido etimológico da palavra. Ou seja, entre a realidade efetiva, entre as coisas e o mundo, que são representados pela linguagem, há um abismo.

Não há correspondência exata entre a linguagem e as coisas.

Mas a linguagem nos serve como representação das coisas para que possamos nos comunicar e manter as relações necessárias para a vida.

Por exemplo, se eu digo a palavra “folha” para designar uma realidade da natureza ou um pedaço de papel.

Se digo folha para designar toda e qualquer folha da natureza, tenho que desconsiderar as características particulares de cada folha, cada espécie de folha, seu formato, seu tamanho, seu aspecto táctil, enfim, uma infinidade de características da folha específica devem ser desprezadas para que a linguagem cumpra seu papel utilitário.

Portanto, “folha” designa uma forma da linguagem que se tornou usual para designar milhões de exemplares de “folhas” bem diferentes.

Nem vou dizer que a palavra folha também pode designar centenas de tipos diferentes de papel. Ou seja, não podemos nos servir de palavras, de linguagem para falarmos sobre a VERDADE, mas apenas efetuar a comunicação.

E ainda, para melhorar a nossa situação, para cada língua, cada idioma e dialeto, haverá palavras diferentes para nos referir a uma coisa ideal, que desconsidera todo um espectro especifico de cada coisa para fins de comunicação.

Enfim, palavras e realidade são coisas COMPLETAMENTE distintas.

Na verdade, (olha eu falando “verdade”) toda verdade é fruto de uma relação de poder. Uma relação entre dominantes e dominados. Os primeiros definem o que será CONSIDERADO, veja bem, CONSIDERADO como verdade.

Mais uma vez, a verdade aqui não passa de conveniência, de ARBITRARIEDADE.

Se o(a) leitor(a) refletir profundamente sobre isso chegará à conclusão de que as nossas VERDADES não são de fato aquilo que pretendem ser, mas que apenas servem a fins determinados pelos que detém o poder.

E lembre-se de que em toda relação humana e animal, por mais amistosa ou amorosa que seja, SEMPRE, haverá relações de poder.

Primeira consequência de nossa reflexão:

Os valores morais perdem seu valor. Não são necessariamente verídicos esses valores.

Ora, como agir se destruímos a moral?

O critério que deve nos guiar é a VIDA! A nossa VERDADE é a VIDA!

A nossa vida deve ser nosso maior valor. A nossa vida como ela é, física, palpável, tangível, sem subterfúgios no além.

O que é bom?

Tudo que faz a vida crescer e se expandir, criar, ultrapassar barreiras, vencer resistências.

O que é mau?

Tudo aquilo que faz da vida uma experiência mesquinha, tudo que despreza a vida terrena em prol de uma promessa vã num além-túmulo fictício. Todo ressentimento, todo viver sem esquecer as amarguras, sem deglutir os desgostos vividos, sem metabolizar.

Viver precisa ser afirmado, precisamos dizer SIM à vida terrena, com tudo o que ela tem de bom e de ruim, inclusive aceitar a morte, a finitude, o completo aniquilamento.

Os fracos vivem uma vida mesquinha, culpada de existir. Ressentidos e sem inocência. Desprezam esta vida em prol de outra. Apesar de hoje, e falando sério, desde sempre, o homem ter grande dificuldade em viver essa pretensão antinatural de desprezar a vida aqui e agora.

Esperam uma redenção vinda de fora, esperam um Deus infinitamente bom, uma sociedade irreprimível, buscam bodes expiatórios.

Fazer isso é uma enorme contradição consigo mesmo.

Caro(a) leitor(a), retorne a Terra!

Firme os pés aqui. Saia do éter!

Esse platonismo, esse mundo ideal, ”VERDADEIRO” de fato não existe. O cristianismo, esse platonismo para o povo, trocou a vida terrena por uma promessa vã e ridícula, inexistente.

Essa reflexão poderá muito bem REDIMIR aqueles que sentem a vida pesada, como se esta fosse um fardo duro para ser carregado.

Minha dica para o dia a dia:

Fume, mas não trague!

Como?

Não, não estou dizendo para você fumar cigarros ou qualquer tipo de fumo. Não é isso.

Fumar, mas não tragar é a metáfora que criei para que possamos viver a vida sem nos envolver, sem engolir, sem colocar para dentro do coração, da alma, as coisas ruins que vivemos.

Isso significa viver uma vida baseada numa inocência de existir, de não se culpar de nada. Deixar acontecer, deixar passar, olhar e rir. Rir dos nossos “erros”, não ter a tola pretensão de ser perfeito(a).

Isso tudo é simplesmente a redenção do mundo!

Pois, o homem não deve ser assim ou assim. Ninguém, absolutamente, NINGUÉM, possui a prerrogativa de nos dizer COMO devemos ser e agir. Isso depende de nós, de nossas livres escolhas, para além de bem e de mal.

Esse pensamento deverá tomar conta de você. Desde de que você assim queira.

Se o fizer “Fume-o e trague-o, profundamente!”

Prometo que quando de fato você estiver familiarizado com esse modo de pensar, a vida será bem mais suave, bem mais digna, menos pesada.

Digamos então SIM a toda nossa vida!

A VIDA É NOSSA SUPREMA VERDADE!

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 09/01/2010
Reeditado em 09/01/2010
Código do texto: T2019135
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