Espiritismo: dissecação- Terceira Parte

A palavra “sofisticado” pode significar tanto algo de “alto nível” e “excêntrico”, como também” adulterado” e” falsificado”.

— É uma prova freqüentemente cruel que o homem deve sofrer e à qual sabia que seria exposto; seu mérito está na submissão à vontade de Deus, se sua inteligência não lhe fornecer algum meio de sair da dificuldade. Se a morte deve atingi-lo, ele deverá submeter-se sem murmurar, pensando que a hora da verdadeira liberdade chegou e que o desespero do momento final pode fazê-lo perder o fruto de sua resignação. (Le q.708)

São Espíritos que não estão unidos a uma família por simpatia, mas para se provarem mutuamente e, freqüentemente, por punição do que foram em uma existência precedente; a um é dado um mau filho porque ele mesmo, talvez foi um mau filho; a outro, um mau pai, porque terá sido mau pai, a fim de que suportem a pena de talião. [olho por olho, dente por dente, mão com mão, pé por pé] (Revista Espírita, 1861, pág. 270: a pena de talião). (Oqe III:123)

Por que uns nascem na indigência e outros na opulência? Por que há pessoas que nascem cegas, surdas, mudas ou atacadas de enfermidades incuráveis, enquanto que outras têm todas as vantagens físicas? É isso efeito do acaso ou da Providência?

Compreende-se que aquele que se torna miserável ou enfermo por suas imprudências ou seus excessos, seja punido pelo que pecou; (...) Os estudos espíritas nos mostram, com efeito, que mais de um homem que nasceu na miséria, foi rico e considerado em uma existência anterior, mas, fez mau uso da fortuna que Deus lhe deu para gerir; que mais de um indivíduo, que nasceu na vileza, foi orgulhoso e poderoso; nô-lo mostram, às vezes submetido às ordens daquele mesmo ao qual comandou com dureza, sob os maus tratos e a humilhação que fez os outros suportarem. (Oqe III:134).

Os espíritos não sabem nem a diferença entre um homem branco e um negro, por que confiamos então quando eles falam da diferença de um homem enfermo ou sadio? Por que há idiotas e cretinos?

Por miserável que seja a condição na qual um homem nasceu, ele pode dela sair pela inteligência e pelo trabalho; mas o idiota e o cretino são votados, desde o nascimento até à morte, ao embrutecimento e ao desprezo; não há para eles nenhuma compensação possível. (Oqe III:135)

São os Espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos e pela impossibilidade de manifestar-se através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos. (Le q.372) há penas e provas materiais que o Espírito, que não está depurado, suporta nas novas encarnações, onde é colocado numa posição para suportar o que fez os outros suportarem: ser humilhado, se foi orgulhoso; miserável, se foi mau rico;infeliz por seu filho,se foi um mau filho,etc.(Oqe III:160).

Ou seja, o Deus-Gasparzinho vê o arrependimento verdadeiro com frios olhos. Muitas vezes, Allan Kardec nos deixa noções completamente infantis, como estas: Por que os primeiros gritos da criança são de choro? —Para excitar o interesse da mãe e provocar os cuidados necessários. (Le q.384) Por que, ao lado dos meios de conservação, a Natureza colocou ao mesmo tempo os agentes destruidores?

— O remédio ao lado do mal; já o dissemos, para manter o equilíbrio e servir de contrapeso. (Le q.731) Onde está escrita a lei de Deus? — Na consciência. (Le q.621)

Oras, a consciência das pessoas é tão diferente que povos diferentes tiveram leis diferentes, as pessoas de uma mesma comunidade tem idéias distintas. Gostaria de saber de que consciência Kardec lança mão para dizer que a aversão ao homossexualismo é algo consciente, ao meu ver é obviamente cultural. Aliás, na natureza, como sabemos, existe homossexualismo, e Kardec afirmou que a lei de Deus está na natureza (Le q.626), por que ele é contra então?

Mas esta relação maluca de causa e conseqüência do espiritismo não tem fim, e vai, página a página dando noções cada vez mais perversas e preconceituosas, entregando ao vulgo a noção precipitada de que tudo é conseqüência de uma vida anterior. Esta crença ao dar noções sempre gerais, embrutece as pessoas, oras, cada qual sofre pelo que fez (mesmo não sabendo o que fez), logo, por que ser solidário?

Mesmo que ainda respondam que devemos ser solidários para nos desenvolvermos, não seria isso egoísmo? Que solidariedade é esta, não egoísta, que prega o ganho somente pela obra? Ao meu ver não existe um único ato humano que não seja egoísta, mas estou assumindo a concepção de egoísmo popular para mostrar ao leitor o quão errônea é tal noção. O próprio Kardec ao elaborar esta questão aos supostos espíritos os deixou em maus lençóis: Aquele que faz o bem sem visar a uma recompensa na Terra, mas na esperança de que lhe seja levado em conta na outra vida, e que nessa a sua posição seja melhor, é repreensível, e esse pensamento prejudica o seu adiantamento?

— É necessário fazer o bem por caridade, ou seja, com desinteresse. (Le q.897)

Eis a melhor resposta que eles puderam dar. Continuemos o estudo: Assim, este será castigado no seu orgulho pela humilhação de uma existência subalterna; o mau rico e avarento, pela miséria; aquele que foi duro para os outros, pelo tratamento duro sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão dos seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado, etc. (Le q.399) O supérfluo não é, por certo, indispensável à felicidade, mas não se dá o mesmo com o necessário. Ora, a desgraça daqueles que serão privados do necessário não é real?

— O homem não é verdadeiramente desgraçado senão quando sente a falta daquilo que lhe é necessário para a vida e a saúde do corpo. Essa privação é talvez conseqüência de sua própria falta e então ele só deve queixar-se de si mesmo. (Le q.927)

PARANORMALIDADE E CIÊNCIA

A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos; disso se originam ciências que podem ser chamadas ‘ciências confirme a nossa vontade’. Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita todas as coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas, por deferência a opinião ao vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento (Francis Bacon, Novum organon, 1620)

Para crer em paranormalidade é preciso duas coisas: primeiro não conhecer o poder da mente, segundo, não acreditar em estatísticas. Pois, o fato é que não existe cura inexplicável, mas fenômeno mal explicado.

Dr. Fritz no Brasil, Lourdes (Cidade na França onde “Maria” apareceu”), Igrejas Evangélicas, Valentine Greatraks na Irlanda, Alvar Nuñes Cabeza de Vaca na América do Norte; todos locais e pessoas que curam ou curaram doenças de todos os tipos, alguns evidentemente embustes, muito embora milhares de pessoas depositaram sua fé nisto ou naquilo outro. “O poder que a imaginação humana tem sobre o corpo, de curá-lo ou fazê-lo adoecer, é uma força que nenhum de nós deixou de receber. O primeiro homem a possuía, o último a possuirá.” (Mark Twain)

No livro “O Mundo Assombrado por Demônios”, Carl Sagan relata um embuste feito na Austrália, propositadamente: um canal de TV treinou uma pessoa pouco conhecida para operar alguns milagres, chegou a escrever um livro, era avesso aos céticos e a ciência; depois de alguns dias, não sem cobertura generalizada da mídia, o canal Sixty minutes revelou a fraude. A intenção era mostrar como as pessoas tendem a crer que existe um poder além-mundo, alguma evidência de um Deus; inclusive, a crença destes, ao menos no caso citado, era tão grande que, mesmo após o próprio ter declarado a farsa, disseram ao embusteiro: “não importa o que digam, eu acredito em você”; oras, estou exaustivamente mostrando como todas as religiões são um fraude por definição, que Jesus não existiu, que não há cura, não há mediunidade, não há reencarnação, não há poder mágico, e a ciência está do meu lado derrubando ponto a ponto todas as bobagens “sagradas”, mas as pessoas insistem: “não importa o que digam, eu continuo acreditando em Cristo”; qualquer semelhança com a panacéia australiana é coincidência.

O placebo (medicamento de farinha que aparenta o verdadeiro), é utilizado nos laboratórios de pesquisa sobre a eficácia de medicamentos. Oras, as pessoas não sabem se não estão tomando o medicamento verdadeiro, mas, ainda assim, algumas se curam. Como? Psicogenia, isto é, doenças com relação direta ou indireta com o psico da pessoa, com o poder da mente (cf. Gondim: 2005, p.18-19). Se assim não fosse, a psicologia seria inócua; não é o que a vida nos diz. É domínio público que pelo poder da mente você aparenta gravidez, tolera temperaturas espantosas, caminha sobre brasas, acelera ou até mesmo se cura de doenças; mas isso só acontece com sensações e doenças psicogênicas.

Pegando todos os casos de paranormalidade, subtraindo-se os embustes, os efeitos de loucura patológica, ilusão de ótica, hipnose, magnetismo, estado extático do suposto médium, e os casos “aumentados”, quantos será que poderíamos citar? Dentre os que talvez possamos, quantos não foram pelo poder da mente. Ah sim, já me disseram que em Igrejas Evangélicas se curam paraplégicos; bom, não conheço nenhum caso de alguém sabidamente condenado a cadeira de rodas que saiu andando pelas ruas. Devemos notar que a pessoa “no estado de fé” ou “de oração” libera substâncias e ativa pontos particulares do cérebro, o que talvez engendre uma rápida convalescença orgânica (alguém que não pode movimentar os dedos, mexê-lo rapidamente depois não mais consegui-lo), mas jamais vi um dedo amputado voltar, ou a cura de uma doença cardiovascular, gangrena, isto tudo é um pouco demais para Deus, não é mesmo?

Para reiterar o que digo, do poder da mente, vale lembrar que na semana de Páscoa Judaica ou no festival de Lua Cheia do Equinócio de Outono na China, as mortes por causas naturais caem vertiginosamente (cf. Sagan: 1996; p.232-233); são só dois exemplos de um fato mundial: Deus cura todo mundo, do pagão que adora um homem ao cristão que carrega um crucifixo, do judeu que mata pela terra abandonada ao muçulmano que luta pela terra roubada, pouco importa; é neste Deus que você acredita?

Se um dia, ainda assim talvez, eu “veja” um espírito dirigir um veículo, eu posso meramente cogitar a possibilidade destes seres existirem, por ora, me limito a dizer que é bobagem, não só por ser incognoscível, mas por sua aplicação ser completamente inútil. As pessoas dizem que ouviram vozes, viram pessoas, é uma revelação! É mesmo? Será que a pessoa que estiver verdadeiramente concentrada em ouvir algo não acaba ouvindo? Mas a questão é: de onde vêm tais vozes, da mente ou do exterior? Se é do exterior eu me pergunto por que as revelações não revelam nada, por que ninguém revelou aos católicos que a aliança com Hitler seria desastrosa?“Essas alucinações podem acontecer com pessoas perfeitamente normais em circunstâncias perfeitamente comuns. Elas também podem ser provocadas: pela fogueira de um acampamento à noite, por estresse emocional, por ataques epiléticos, enxaquecas ou febre alta, por jejum prolongado [eis porque as religiões consideram o jejum sagrado], insônia ou privação dos sentidos (...) existem também moléculas, como as fenotiazinas (...) que fazem as alucinações desaparecer.” (Sagan: 1996, p.113).

Gondim, em seu livro, vai ainda mais longe: Em sua edição especial nº2, de julho de 2003, a revista Galileu publica uma reportagem, denominada De onde vem a fé, que apresenta um quadro chamado “neurônios que crêem”. O quadro mostra que há regiões específicas do cérebro responsáveis por sensações comuns a freiras católicas, monges budistas e qualquer um que reze, ore, faça preces ou medite com um sentido religioso. Sensações como “falar com Deus”, “ser tocado pelo Espírito Santo” ou “vislumbrar o Nirvana” têm a mesma origem neurológica. (Gondim: 2005, p.16)

É bom que não nos esqueçamos que 1% da população é esquizofrênica e o que determina ela está longe de ser uma força espiritual, se assim não fosse não teríamos a reveladora estatística de que 40% dos esquizofrênicos têm parente direto esquizofrênico e 12% tem parente indireto com a patologia. Bem como o Transtorno Borderline tem cinco vezes mais reincidência em quem tem parentesco de primeiro grau do que no restante da humanidade [que é 2%]. Alguns podem defender que a faculdade se desenvolve naquele espírito que precisa da doença. Mas se eu, supondo que seja esquizofrênico e minha esposa, resolvo ter cinco filhos, eu terei 2 filhos com a patologia, contra os fatos não há argumentos, e quem determinou isto fui eu, não Deus, me entende?

Alguns inutilmente ainda tentam refutar tal tese rebatendo o determinismo com mais um determinismo, encadeando ainda mais, ao invés de expor o livre-arbítrio. Por exemplo, eu digo que o que determina a esquizofrenia é uma questão de probabilidade, então eles refutam que “dentro desta probabilidade quem determina é Deus”.

Bom, se quem determina é Deus, muito me surpreende se falar em livre-arbítrio, ademais, perguntar o que determina um caso ou outro dentro de uma probabilidade óbvia e comprovada, não só é um estudo que concerne a física quântica, como é, sem dúvida, uma observação ingênua: seria como perguntar, ao deixar cair uma gota de chocolate no fermento do panetone, o que determina que fique no ponto “x” ou “y” da massa final. Bom, o bom senso nos diz que não há nenhuma inteligência divina por trás disso.

Mediunidade

Não é realmente curioso como os misticismos tão “científicos” sejam tão risíveis para a ciência? Por que será que as provas tão irrefutáveis dos esotéricos nunca se comprovam? Os métodos empíricos são todos lastimáveis na aplicação de uma sessão mediúnica. Os embustes estão por toda parte. E quando não é embuste, parece mais um sessão de esquizofrenia, uma crise mental, do que uma mensagem providencial de Deus para os humanos. Porém a sede por uma resposta mantém essas chamas da credulidade vivas. Eis o que Jung discorreu sobre tal crença: “essas pessoas não tem só têm insuficiência de pensamento crítico, mas também desconhecem as noções mais elementares da psicologia. No fundo, não querem aprender nada, mas simplesmente continuar a acreditar – sem dúvida a mais ingênua das presunções, em vista de nossas falhas humanas”. E sobre o fenômeno em si: “pode-se muito bem (...) tomar esses fenômenos simplesmente como um registro de fatos psicológicos ou como uma série contínua de comunicações do inconsciente (...) Eles têm essa característica em comum com os sonhos; pois os sonhos também são declarações sobre o inconsciente (...) A presente situação contém motivos suficientes para esperarmos calados até que apareçam fenômenos físicos mais impressionantes. Se, depois de constatarmos a falsificação consciente e inconsciente, o auto-engano, o preconceito, etc., ainda acharmos algo positivo por trás de tudo isso, então as ciências exatas vão certamente conquistar esse campo pelo experimento e pela verificação, como aconteceu em toda a área da experiência humana.”

III. Psicanálise e Kardecismo

As duas maiores besteiras humanas da modernidade: kardecismo e psicanálise. Ambas acham que conhecem a causa de tudo, mas nenhuma consegue a solução em nada. Ambas procuram meios subjetivos, mas não vingam nem de perto os próprios objetivos mais básicos. Ambos se dizem, e não são, ciência, mas não admitem refutação. Oras, como diria Guilherme Merquior, sobre a causa dos problemas, se existe um problema e tem cachorro, é porque tem cachorro, mas se existe um problema e não tem cachorro, é porque não tem cachorro: todos os problemas se resumem nesta balela generalista, eis como funciona o espiritismo e a psicanálise. Mas como, pergunto, podem duas teorias que analisam as raízes de tudo, o princípio de todas as coisas, de aplicação tão vasta são, inquestionavelmente, tão ou menos úteis que o nosso bom e velho placebo.?

Ou resta ainda quem crê que os espíritas sejam mais saudáveis, mais puros, melhor norteados? Nem não precisamos de estatística: olhe em sua volta e compare a vida que leva o kardecista, o macumbeiro, evangélico, católico ou o ateu e chegue a “fantástica” conclusão que sofrem, perdem e ganham em semelhantes quantidades [para que serve então a oração?], ou seja, o mundo é eqüitativamente desordenado. Ah, “o espiritismo explica tudo”, eles dizem; porém.... não resolve nada! Eis minha resposta.

Sem dúvida, a imensa maioria das pessoas sem treinamento científico só pode aceitar os resultados da ciência fiando-se nas declarações de autoridades no assunto. Mas há, obviamente, uma diferença importante entre um sistema aberto que convida todo mundo a se aproximar, estudar os seus métodos e sugerir aperfeiçoamentos, e outro que considera o questionamento de suas credenciais um sinal de maldade no coração, com a que o [cardeal] Newman atribuiu àqueles que questionaram a infalibilidade da Bíblia (...) A ciência racional trata as suas notas de crédito como se fossem sempre resgatáveis quando solicitados, enquanto o autoritarismo não racional considera o pedido de resgate de suas notas uma desleal falta de fé.(Morris Cohen)

IV. Fronteiras efêmeras

Caro leitor, se você chegou até aqui, mas ainda está convencido de que o Deus cristão existe, reencarnação, ressurreição, etc.; feche o livro a vá para a missa.

A ciência, naturalmente, não tem a resposta para tudo, tampouco tem as religiões. Para alguns é muito difícil acreditar que o mundo veio de uma explosão de enormes proporções; mas, você há de convir, é mais fácil acreditar que o mundo veio do Big Bang do que acreditarmos em sete dias, que a Terra tem 6 mil anos, que todos viemos de Noé (até os japoneses), no dilúvio, na inexistência dos dinossauros, ou seja, se precisasse escolher entre um e outro, com licença, mas eu fico com o Big Bang. Mas a questão é: quem disse que eu devo escolher? Oras, talvez eu precise estudar mais sobre a teoria da origem do Universo, mas, enquanto eu desconheço, se alguém me perguntar “de onde veio o mundo?” responderei tranqüilamente que não sei. E quem disse que eu preciso ter todas as respostas? Por que temos tanto medo de aceitar que nossa compreensão ainda não alcançou algumas questões?

Se alguém me diz que no centro da Terra existe um dragão de dez pernas e sete cabeças, certamente não poderei provar o contrário, o que obviamente não significa que este exista; pois eu reitero, na falta de conhecimento, prefiro dizer que não sei, mas se você perguntar se eu acredito, certamente responderei que não, simplesmente porque não é crível. Não é crível que Deus tenha feito o mundo tal qual diz a Bíblia, não é crível que o Jesus que ressuscita pessoas tenha passado pela Terra.

Você pode orar a vontade a procura de uma salvação, neste caos, eu ainda prefiro a ciência. Quem tem fé, vai no Dr. Fritz; quem não tem, toma medicamento. Como percebemos todos os dias, a ciência é passível de contestação, mas a religião é intolerante com estas. Se amanhã a ciência descobrir que, na realidade, a Terra é mesmo o centro do Universo [hipoteticamente], eu simplesmente vou mudar de opinião e passar a crer nisso; agora, há uma distância sucintamente enorme em eu crer em algo e, a partir daí, estabelecer Dez Mandamentos, desenhar o perfil que convém a todo o gênero humano, engendrar instituições e constituir Santas Inquisições, percebe a diferença? Em nome da minha crença na ciência eu não vou além dela, mas em nome da crença na religião, se constitui uma monstruosidade de barbarismos e preconceitos.

Muitos prognosticadores adoram alardear questões que supõe que a ciência jamais descobrirá. Na realidade, duvido muito que os maias adivinhariam que um dia o homem colocaria os pés na lua. Ou que os imperadores da dinastia Hanz, na China, suporiam que poderia se comunicar via celular in time com alguém num continente que eles nem sabiam que existia. Com que presunção supomos que a ciência irá estatelar mais ou menos como está agora? Quanto mais se subestima a ciência, mais ela se impõe. E, não tem jeito, quando a dor vier, não tem prece, mas analgésico: foi a ciência que fez!

Se você quiser saber quando será o próximo eclipse do Sol, pode procurar mágicos ou místicos, mas terá melhor sorte com os cientistas. Eles sabem, lhe dirão onde se posicionar na Terra, quando terá de estar nesse lugar, e se vai ser um eclipse parcial, total ou anular. Eles conseguem prever rotineiramente um eclipse solar, com exatidão de minutos, um milênio antes. Você pode ir ao feiticeiro-curandeiro para que ele desfaça o feitiço que causa a sua anemia perniciosa, ou tomar vitamina B12. Se quiser salvar seu filho de poliomielite, pode rezar ou vacinar. Se esta interessado em saber o sexo da criança antes do nascimento, pode consultar todas as oscilações do chumbo na linha do prumo (...) mas eles acertarão, em média, uma em duas vezes. Se quiser uma precisão real (nesse caso, de 99%), tente amniocentese e ultra-som. Tente a ciência. (Sagan: 1996, p.44)

O que gostaria de perguntar aos kardecistas é: suponha que você more numa região isolada, seu filho vê coisas, se debate a noite, e tentou se matar esta manhã, como um endemoniado. Uns dizem que são espíritos, outros dizem que é esquizofrenia. Você pode se dirigir a centenas de quilômetros à esquerda para um centro espírita, ou centenas de quilômetros à direita para um psiquiatra. Sabendo que na próxima crise seu filho pode realmente se “suicidar”, qual a direção mais sábia e saudável? A que explica e não resolve, ou a que, embora nem sempre explique, ao menos trata?

Trechos de canções ou de línguas estrangeiras, imagens, acontecimentos que presenciamos, histórias que ouvimos por acaso na infância podem ser recordados com acuidade décadas mais tarde, sem nenhuma lembrança consciente de como entraram em nossas cabeças. “[N]as febres violentas, homens, de todo ignorante, falaram em nossas línguas antigas” diz Herman Melville em Moby Dick;“e [...] que o mistério é sondado, sempre se descobre que, em suas infâncias totalmente esquecidas, essas línguas antigas tinham sido realmente faladas ao seu redor.(Sagan:1996,p.137)

Misticismo

A China, um dos países mais ateus do mundo, está despontando como a provável nova potência da história, quem diria? Alguém já se perguntou por quê? Visão política: Governo da China e Partido Comunista Chinês (proclamação de 05 de dezembro de 1994):

O ensino público da ciência tem definhado nos últimos anos. Ao mesmo, tempo as atividades de superstição e da ignorância têm crescido, e os casos de anticiência e pseudociência se tornado freqüentes. Portanto, medidas efetivas devem ser tomadas o quanto antes para fortalecer o ensino público da ciência. O nível do ensino público da ciência e da tecnologia é um sinal importante do grau de realização científica nacional.

É uma questão de importância global para o desenvolvimento econômico, o avanço científico e o progresso da sociedade. Devemos estar atentos a esse problema e implementar o ensino público da ciência como parte da estratégia para modernizar o nosso país socialista e tornar a nossa nação poderosa e próspera. A ignorância jamais é socialista, tampouco a pobreza. (Sagan: 1996, p.34)

Na China as instituições religiosas são extremamente bem fiscalizadas. O ensino religioso só é permitido após os dezoito anos. Assustado?Mas lá funciona.

Quando a possibilidade de vida extraterrestre começou a ser popularizada por toda parte – especialmente perto da virada do século passado, por Percival Lowell com seus canais marcianos –, as pessoas passaram a relatar contatos com alienígenas, sobretudo marcianos. O livro de 1901 do psicólogo Theodore Flournoy, From India to the planet Mars, descreve um médium de língua francesa que, em estado de transe, desenhava retratos dos marcianos (eles se parecem bastante conosco) e apresentava seu alfabeto e linguagem extraordinariamente parecida com o francês. (...) [em 1902], Carl Jung descrevia uma jovem que ficou nervosa ao [ver] um originário de Marte (...) Charles Fort, um colecionador de relatos anônimos (...) escreveu [que havia habitantes em Marte] (...) Nos anos 50, um livro de Gerald Heard revela que os ocupantes dos discos eram abelhas marcianas (...) (Sagan: 1996, p. 120)

Adiante, Sagan explica que depois que a ciência revelou que os tais “canais de Marte” eram ilusórios não apareceram mais relatos tão veementes, começaram inclusive a dizer que alienígenas vieram de outros lugares, por que? Hoje em dia, curiosamente, acredita-se em extraterrestres que vivem a bilhões e bilhões de anos luz da Terra, mas até pouco tempo se acreditava que vivam “aqui do lado”, onde acaba a ciência, começa o misticismo.

Regressão

Mais uma inteligente maneira de ganhar dinheiro por mera hipnose. Oras, se você “abrir” a mente é óbvio que se pode questionar a veracidade do que está sendo visto. Não seria demasiado perigoso nos sujeitar ao bel prazer de um “manipulador de mentes”? Ele não poderia fazer você crer no que ele quer que você creia?

Essa coisa de regressão nada mais é que uma indução de informações das mais variadas a virem à tona. Em todos os relatos que li, ninguém morreu logo após o parto, e ninguém foi um pigmeu na savana africana. Todo mundo foi nobre e de preferência europeu ou então foi contemporâneo de alguma importante figura ou acontecimento de saída, isso já retira a maior parte da credibilidade científica desses registros. (Dr. Tony Netto)

Mas o problema da crença em vidas passadas, vai para além da regressão, muitas vezes, as informações vem de fontes bem mais sutis e sem hipnose.

A psicóloga Elizabeth Loftus, da Universidade de Washington, descobriu que indivíduos não hipnotizados podem ser facilmente levados a acreditar que viram algo que não viram. Num experimento típico, os indivíduos assistem a um filme de acidente de carro. Enquanto são questionados sobre o que viram, recebem de passagem informações falsas. Por exemplo, um sinal de parada é mencionado fortuitamente, embora não houvesse nenhum no filme. Muitos indivíduos então recordam terem visto um sinal de parada. Quando o engano é revelado alguns protestam veementemente, enfatizando serem nítidas suas lembranças do sinal. (...)

Loftus afirma que “as lembranças de um acontecimento guardam mais semelhança com uma história que passa por constantes revisões do que com um pacote de informações inalteradas.” (Sagan: 1996, p.143-144)

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/01/2010
Reeditado em 01/11/2011
Código do texto: T2030924
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