O Gozo Antiglobalizado

Amar não é pecado e o caminho mais difícil não é uma escolha, porém as pessoas custam a entender isso. Um homem e uma mulher, ao se beijarem na rua, não são incomodados; os programas de domingo só unem casais heterossexuais e mulheres peladas aparecem constantemente na televisão para aliciar homens a comprar determinados produtos. A heterossexualidade dispensa verbalização e os homossexuais, por auto-preconceito ou medo, se portam como tal. É normal um homem apresentar uma mulher como sua namorada mas tal prática é quase que totalmente nula quando se trata de um namorado ou da namorada dela. A privacidade homossexual só aumenta o preconceito, as pessoas devem aprender a conviver com as diferenças de forma pacífica e isso só se aprende convivendo. Um homo se apresentar como hétero é o mesmo que um negro se dizer branco ou um judeu se dizer americano. Negar sua condição sexual é como negar qualquer outra condição.

Lutar contra o preconceito não é somente frequentar paradas gays e eventos de grande impacto; é mostrar que nós, homossexuais, somos pessoas normais como quaisquer outras, que sentimos prazer ao andar de mãos dadas e namorar em uma praça, que vamos ao shopping e ao cinema, que frequentamos teatros e shows. Não somos um mito ou um palavrão dito na briga entre dois adolescentes, somos reais e palpáveis, passíveis a erros, acertos e emoções dos mais variados tipos.

Em um dos livros por mim pesquisados, encontrei os conceitos de homossexualismo e lesbianismo apresentados ao lado dos conceitos de pederastia e pedofilia; o autor, médico renomado, coloca a homossexualidade como um distúrbio de comportamento que deverá desaparecer na escala evolutiva.

As religiões também apresentam conceitos um tanto quanto constrangedores. O Catolicismo considera a homossexualidade um comportamento pecaminoso, os evangélicos dizem que tal prática não corresponde aos desejos de Deus. Os judeus acreditam ser pecado e os islâmicos acreditam ser contra a lei. São raras as religiões que percebem que o ser humano é muito mais do que o sexo e que tal prática deve apresenta valor secundário ou até nulo; posso citar, dentre elas, o Budismo, os Cultos Afros e o Espiritismo.

A psicanálise, por Freud, nos diz que o indivíduo é induzido ao homossexualismo e Durkein nos apresenta que a orientação sexual é condicionada pela sociedade. A sociologia, por sua vez, parte do pressuposto que a concentração de homossexuais é maior nas camadas médias e altas da sociedade.

Em contradição a todos esses fatos, o cientista Bouchard Pinker nos mostra que apenas 5% da personalidade é determinada pela educação e convívio familiar. A orientação sexual, acredito eu, não é condicionada e sim imposta pela sociedade e a concentração de homossexuais é a mesma em todas as camadas, o que muda é a concentração de homossexuais assumidos, que hoje se encontra na faixa de 10% da população total; muito menos que a quantidade real estimada, que é de aproximadamente 30%.

Diversas teorias científicas buscam explicar a homossexualidade. Em 1991, Le Vay teorizou que as células do hipotálamo apresentam tamanhos diferentes entre heteros e homossexuais, e Hamer, em 1993, após testes com irmãos homossexuais, constatou que 82,5% deles têm o mesmo DNA em uma parte do cromossomo “x”. A possibilidade da homossexualidade ser genética é reforçada com a comprovação de que 8 em cada 10 gêmeos idênticos possuem a mesma sexualidade.

A homossexualidade não foi inventada, é real, e a prova disso é um corpo de um homossexual encontrado em 1998, datado de 14.000 anos atrás. A homossexualidade foi identificada porque foram encontrados vestígios de esperma de outra combinação genética em seu ânus.

Felizmente o preconceito vem diminuindo, existem leis contra a homofobia e o Brasil, que em 1997 era considerado o país que mais desrespeitava homossexuais, é hoje palco da segunda maior parada GLSBT do mundo. A homossexualidade deve ser vista como algo natural e livre e as diferenças devem ser admiradas não só entre homo e heterossexuais, mas entre todos os povos, etnias, religiões e crenças.

Julgar alguém partindo de um conceito prévio é muito mais fácil do que encontrar argumentos realmente válidos que possam gerar uma antipatia. Ter medo do desconhecido é natural, e se quisermos viver como qualquer outro casal enfrentaremos muitas críticas; as pessoas nos olharão e nos apontarão na rua, e continuarão olhando e apontando até que um dia aquilo se torne normal.

Nos acostumamos com crianças passando fome e mendigos pedindo esmola, nos acostumamos a ter medo de ladrão, a aceitar políticos que roubam e a pagar caro para poder ter uma vida supostamente tranqüila. Porque não podemos nos acostumar também com o amor? O que há de errado em querer ser livre? O que há de errado em querer ser feliz a nossa maneira?

Marilia Westin
Enviado por Marilia Westin em 20/01/2010
Código do texto: T2040135
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