A FORÇA DO SILÊNCIO.

A FORÇA DO SILÊNCIO.

Em obra de vulto e rara em termos de tratamento, Miguel Maria de Serpa Lopes, ensina sobre “O SILÊNCIO COMO MANIFESTAÇÃO DA VONTADE”.

Assim me conduzo nessa reflexão, dirigido ao silêncio na representação política, que seria eloqüente e diserto, se praticado, como faço datam anos.

“ A atividade humana no âmbito social, positiva ou negativamente exercitada, possui um valor inegável, suscetível de ser apreciado, quantitativa e qualitativamente, desde que produza uma modificação no mundo exterior”. Obra citada, fls. 138, negritos nossos.

Pelo ensinamento do notável mestre e magistrado, em trabalho único no gênero, silencio através da dicção de terceiros, aprende-se que “no silêncio diante de um ato que me diz respeito, se calo quando razões havia e ponderosas, dando-me a consciência de um dever de falar, por certo que essa atitude é portadora de conseqüências modificativas das relações ou do objeto a que se prendia o meu silêncio”

São duas as relações e os objetos, unos em termos de cidadania. A vontade, muda ou explícita, e o sufrágio político representativo.

Em país que os bandidos não têm limites, a corrupção apodrece as instituições e mina as bases da democracia bem como a confiança nessas mesmas instituições, momento de tantos riscos, em que os candidatos se mostram pequenos diante dos desafios e não demonstram ter noção da gravidade do momento, só a dirigência ao emudecimento na representação, por não se ter representante adequado, se torna realidade política .

Quando a busca de votos mais inverte os polos éticos, sentando-se em mesas comuns convivas antes “não gratos”, por vezes adjetivados fortemente outrora com vocábulos que nos inibe repetir;

Quando a mescla de “tudo” nos faz perceber que chegamos ao nada;

Quando se lança à vala comum máximas, jargões e epígrafes na pretensão que todos exercem a mesma linha de rapina da coisa pública, como se homens brasileiros do porte de Santiago Dantas, Bilac Pinto, Prado Kelly não tivessem existido;

Quando com pretensos disfarces fisionômicos volta ao palco a vergonha dos desavergonhados, perseguindo ainda novas representações, em que pese estarem nas barras dos tribunais respondendo processo criminal;

Quando nosso voto entra em confronto com o gosto azedo e mercantil do voto captado na deseducação, na fome e na deserdação da sorte, só nos resta dizer às falidas instituições:

“Não se trata aqui do silêncio passivo, revérbero do sono, da morte ou da inexistência, mas do silêncio ativo”. Serpa Lopes.

“Car les paroles passent entre les hommes, mais le silence, s’il a en um moment, l’occasion d’être actif”. Serpa Lopes. "Porque as palavras passam entre os homens, mas o silêncio, tem seu momento e ocasião de ser ativo" .

REALIDADE PSICOLÓGICA E SOCIAL, O SILÊNCIO É IGUALMENTE UMA REALIDADE JURÍDICA.

Que nosso silêncio político, ao menos o meu, nas suas reduzidas proporções, possa abafar, um pouco que seja, muito pouco, toda essa sonorização interesseira, grosseira nos métodos e infame nas práticas.

Fico feliz com esse silêncio que grita na coesão dos elos sociais em cadeia, como círculos concêntricos

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 22/01/2010
Código do texto: T2044260
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