A Arte Como Forma de Dividir a Sociedade

Quando pensamos em cultura, sempre pensamos em uma cultura de elite, uma cultura para poucos. Não pensamos em uma cultura para as massas, talvez seja por isso, que a crítica do escritor português José Saramago em relação à literatura, ao dizer que a leitura é para poucos, não é tão sem sentido assim. Se olharmos os projetos de incentivo à leitura, podemos dizer que todos já nascem fracassados. Em um país onde o livro é caro, poucas são as pessoas com condição de entrar em uma livraria e comprar um livro. Por esse prisma sabemos que o livro no Brasil é artigo de luxo, artigo que o homem comum jamais terá condições de possuir, primeiro por não ter condições financeira para comprar, segundo para que gastar dinheiro com um artigo que em nada acrescentará em sua vida. Para esse homem comum, que trabalha duro, pensando somente na sobrevivência do dia-dia, o livro não passa de um monte de rabisco sem sentido. Então que tipo de cultura podemos oferecer ao trabalhador e sua familia? O teatro é feito para a elite dita esclarecida, apesar de umas poucas tentativas não vemos um teatro feito para o homem comum. A música considerada de qualidade só é tocada em espaço fechado, o cinema deixou de fazer parte da vida da maioria das pessoas. Até mesmo o carnaval que era considerado uma festa popular, passou a ser feito com a finalidade de divertir turistas milionários.

Podemos dizer que sobra somente a televisão como meio de entretenimento para a maior parte da sociedade, mas até mesmo a televisão tem sua divisão elitista, a chamada TV paga também é para poucos. Sobrando somente a TV aberta, que com uma programação de péssima qualidade, somente tem o propósito de conseguir picos de audiência. Enquanto nós os intelectuais ficamos dentro das academias, discutindo fórmulas mágicas e filosóficas,o que as massas precisam é de um projeto educacional, que lhes permitam sair da escuridão e da alienação em que se encontram hoje.

Estamos sempre falando em sociocultura, quando falamos do aspecto social, mas somente falamos intelectualmente,já que na prática pouco se tem feito no sentido de construir um modelo cultural e social que contemple a sociedade como um todo. A antropocultura fala sobre o ser humano, mas paramos realmente para pensar no homem? Ou ficamos somente teorizando sobre o tipo de ser humano que queremos? Se queremos construir uma sociedade que comtemple a cultura como um todo, temos de permitir que a chamada cultura popular, ou cultura de massa, também tenha seu espaço. Nós os intelectuais quando queremos falar dos chamados traços culturais, falamos em culturalidade. Ficamos discutindo se esses fenômenos possuem traços culturais ou não. Nesse momento entra em cena o crítico da cultura, que procura explicar esses fenômenos. Mas qual é a relação do homem comum com a cultura? Ou mesmo com o mundo? Deveríamos usar a cultura como pretexto para discutir nossas relações com o mundo, pois o ser humano procura o conhecimento como forma de se destacar na sociedade.

Mas o conhecimento, assim como a arte não está disponível para todos, uns poucos conseguem acesso à educação. Porém nós sabemos que somente através da educação, o homem consegue o conhecimento necessário para mudar sua vida e a dos que o rodeia. Mudar nossas escolas , permitir que os nossos jovens possam se expressar poderia ser uma forma de fazer com que a arte deixasse de ser menos elitista. A literatura, por exemplo, nos permite construir um discurso próprio, e através dela, podemos fazer uma leitura crítica da sociedade em que vivemos. Mas se concordarmos com José Saramago, e acreditarmos que a literatura é para poucos, veremos que todo o dinheiro gasto nos projetos de incentivo à leitura, somente beneficia uns poucos, e se isso acontece com a literatura, o que podemos dizer de outros tipos de arte? A pintura, a música clássica por exemplo! A chamada arte de elite jamais chegará ao homem comum. As massas estarão sempre à margem de uma sociedade que não permite outras formas de expressão, que não seja aquelas com retorno financeiro garantido, ou seja feito somente para aqueles que podem pagar.

velho beat
Enviado por velho beat em 29/07/2006
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