ENCHENTES, DESLIZAMENTOS... DE QUEM A CULPA?

Ultimamente os noticiários estão repletos do que é assunto dominante: as enchentes e os deslizamentos nas encostas. As tragédias que ocorreram na virada do ano em Angra dos Reis (RJ) e São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, indicam-nos o quê? Tudo é fruto do acaso? Do destino? Não, definitivamente não! Isso acontece por que somos negligentes, somos tolerantes, somos inconsequentes e os nossos governantes incompetentes. Cometemos uma verdadeira insanidade.

Jogamos garrafas pet, latinhas de refrigerantes/cerveja, embalagens as mais diversas possíveis nas ruas, praças, ônibus... Queremos ficar livres de entulhos e permitimos jogá-los no lote vago, no quarteirão próximo de nossas casas. Aí, de repente, vem a chuva... Os bueiros entopem, as galerias também. O nível dos rios sobe, invade residências e locais de trabalho, hospitais, destrói móveis, conquistas de alguns anos, presentes recentes, leva vidas e vidas! E leva tudo o mais rua abaixo, estrada abaixo, morro abaixo.

Sabemos que nosso “piquenique” suja rios, fontes de águas: ah, que se dane, queremos distrair, brincar, quem quiser que limpe o lugar depois, pois pagamos pelo passeio, pagamos os impostos! Imprudência e pensamento tosco levam muitas pessoas agirem assim.

Sabemos que não devemos ficar amontoando coisas inúteis em nossos quintais (em ruas, lotes vagos etc. e tal!) e também não nos preocupamos com a dengue e uma variedade enorme de doenças se proliferam, das quais estamos muito próximo de sermos vítimas e, quando somos acometidos por alguma delas, acusamos nosso vizinho, as autoridades públicas, alguém que mora perto de onde trabalhamos, estudamos ou fazemos nossa caminhada pró-saúde. Paradoxo, não?

Sabemos de muitas coisas e, oh, cruzamos os braços, fechamos os olhos... Autoridades, empreiteiras, engenheiros civis, arquitetos, todos fecham os olhos em nome do dinheiro, da prosperidade deles, sim, sabemos! Por que permitir construções em altos morros ou sopés das montanhas? Visão panorâmica, sossego, tranquilidade, qualidade de vida... Pois, sim, e as favelas com suas diversas construções irregulares e condições pífias, com quase a totalidade dos barracos em áreas de altíssimo risco e que são problemas sociais desde 1940 e ninguém faz nada para mudar isso! Acorde Senado! Acordem Deputados! Acordem Governadores! Acordem Prefeitos! Acordem Vereadores! Acordem e trabalhem ao invés de ficarem guardando dinheiro nas cuecas, nas meias, enquanto o povo morre afogado, soterrado!

Ano após ano, a mesma história... Águas invadindo casas a beira-rio, inundando ruas, avenidas, praças, cobrindo cidades inteiras... Encostas deslizando, caindo sobre casas abaixo, destruindo estradas... E gente morrendo, morrendo, morrendo sem tempo de pensar que, infelizmente, contribuiu com isso. Sim, contribuímos por que nas eleições esses mesmos políticos que nada fazem, prometem, prometem, são reeleitos. Acorde povo!

Que as encostas (imaginemos nossa cidade!) sejam desapropriadas, reflorestadas e se tornem locais de preservação ambiental. O quê? Desapropriar as encostas, fazê-las áreas de preservação ambiental, nem pensar, custa dinheiro demais! Limpar rios? Melhor contratar empreiteiras com ou sem licitação, reconstruir tudo sem nenhum projeto futuro ou de sustentação lógica. Aproveitar, sim, os recursos que vêm do governo, do Banco Mundial, dos impostos que o povo sofre pra pagar e tirar melhor proveito político da situação!

Que sejam adotadas políticas públicas de habitação, de saneamento básico etc. que possibilitem novo plano diretor para humanizar as construções, especialmente aquelas presentes em favelas e locais ocupados de forma desordenada, pois o Estado, que ali permite chegar água, luz, telefone (para auferir recursos financeiros com impostos e dividendos!), é responsável por meio principalmente do legislativo e do executivo e pode ser acionado, sim, pelo cidadão!

Mas que o cidadão faça a sua parte! Manifeste-se o mais contundentemente possível contra aqueles governantes que não abrem mão do desenvolvimento sujo, imperialista e antiambiental que querem continuar impondo sobre o mundo.

IEDA ALKIMIM

Academia Betinense de Letras
Enviado por Academia Betinense de Letras em 25/01/2010
Reeditado em 25/01/2010
Código do texto: T2051129