O Mal existe?




          Antes de qualquer digressão a resposta exige outra pergunta: O Bem existe?

          Se a resposta a essa última pergunta for sim, como certamente será então a resposta a pergunta que intitula este artigo é também SIM. É a Lei dos Contrários, Yin e Yang, pólo sul e pólo norte, claro e escuro, verdade e mentira. Um só existe se o outro existir também, porque de outra forma nem seria preciso nominá-los – seria algo completamente natural. Alguém poderá argumentar que isso não passa de um Jogo de Palavras, apenas isso. Mas, e daí? Só podemos pensar porque a Palavra existe. São elas que nos permitem, apesar de maneira incompleta, expressar sentimentos e conhecimentos. E se esses conceitos fazem parte do credo religioso, fazem parte também das constatações racionais. 

          Um conceito é formado através da observação de sua essência. Ele pode ser teórico, mas para se sustentar como Verdadeiro, precisa da prática. E, nesse específico caso, quem pratica o Bem e o Mal são os formuladores do conceito – os seres humanos. Que chamaremos aqui então de o Homem Bom e o Homem Mau. O Homem Mau, essencialmente mau, não aquele que pratica inconscientemente alguma maldade e logo se arrepende e tenta corrigi-la, é denominado pela ciência por várias palavras que no fundo querem dizer a mesma coisa – é o Psicopata – pessoas com transtornos de personalidade que resultam em graves comportamentos anti-sociais. E embora eu acredite na influência da Educação para dirigir a formação humana para um ou outro lado dessas condições antagônicas, muito mais fortes é a Natureza do indivíduo.

         Uma historinha para ilustrar: divertindo-se a beira de um riacho dois amigos conversavam junto a uma pedra. Um escorpião em cima da pedra acabou escorregando e caindo na água. Um dos amigos foi lá e o recolheu colocando-o de novo na pedra e recebeu uma picada. O escorpião tornou a escorregar e cair na água, o rapaz o recolheu, colocou outra vez na pedra e recebeu mais uma picada. E assim foi acontecendo mais uma ou duas vezes até que o outro amigo, intrigado, perguntou: Você não sabe que é da natureza do escorpião picar, porque você o tira da água todas as vezes que ele cai, se a cada vez recebe uma picada? O amigo de número um, que chamarei de Bonifácio, respondeu simplesmente: porque é da minha natureza ajudar a quem está precisando. (E é aí que realmente a vaca vai para o brejo e a porca torce o rabo: com tanta picada de escorpião a essas horas Bonifácio já estaria morto.) 

          E é aqui que realmente, já quase no fim deste texto, eu digo realmente o que vim dizer se é que o parágrafo antecedente já não explicou: Vale a pena ser Bom, mas é sumamente necessário que o Bom saiba para quem está fazendo o bem. O bem não pode ser incondicional. Nada dessa história de fazer o bem sem olhar a quem. Porque aquele que por natureza pratica esse tipo de bondade certamente vai entrar pelo cano. É necessário que o bem feito se multiplique, se alastre e quando ele é desperdiçado com alguém que vive a natureza do mal, é como a semente lançada em terra árida. Não brota. Morre seco e esturricado.
 
        Nada que eu escrevo é, porém, absoluto. Não vou deixar de dar de comer a quem tem fome nem de beber a quem tem sede nem de tirar um afogante do rio se eu soubesse nadar. Para isso não tem nenhuma importância o caráter do outro. É uma ajuda humanitária e mais que consciente, é instintiva. Mas certas situações exigem conhecimento e consciência do que se está fazendo. 

          Vou ilustrar ainda com uma história verdadeira da qual tomei conhecimento quando ainda era menina e da qual nunca me esqueci: um homem, estrangeiro, tirou uma foto como se suas pernas tivessem sido amputadas. Ai ele pegou não sei onde, uma lista com o nome e endereço de seus compatriotas nos pontos mais distantes do país e escreveu uma carta lastimosa pedindo ajuda. Recebeu pelo Correio uma pequena fortuna. No entanto ele era um homem rico que a cada envelope aberto retirava o dinheiro e dizia: enganei mais um bobo. Ser Bom é uma virtude, mas ser bobo é uma idiotice. E o pior de tudo é que acho que sou idiota. 27-01-2010



Ilustração: Busca Google.