ESTAÇÃO DAS PERDAS é o título correto para Perdas e ganhos e a verdadeira autora é AILA MAGALHÃES (A dica é da comunidade AFINAL QUEM É O AUTOR? No Orkut)
 


Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de
inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada
parece fazer sentido. Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da
vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: As
perdas do ser humano.

Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero.
Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos. Começamos a vida
em perda e nela continuamos. Paradoxalmente, no momento em que perdemos
algo, outras possibilidades nos surgem.
Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos
acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói. E continuamos
a perder e seguimos a ganhar. Perdemos primeiro a inocência da infância.
A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na
bicicleta sem rodinhas por que alguém ao nosso lado nos assegura que não
nos deixará cair...
E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por que?
Perguntamos a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e
fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.

Estamos crescendo.
Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer.
Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Perdemos
o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando algo nos é
tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo
que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres. Assim, se nossa
tia às vezes nos parece gorda tememos dizer-lhe isso.
 
Receamos dar risadas escandalosamente da bermuda ridícula do vizinho ou
puxar as pelanquinhas do braço da vó com a maior naturalidade do mundo e
ainda falar bem alto sobre o assunto. Estamos crescidos e nos ensinam que
não devemos ser tão sinceros.
E aprendemos.
E vamos adolescendo, ganhamos peso, ganhamos pêlos, ganhamos altura,
ganhamos o mundo.
Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece
inadequado aos nossos sonhos.
Ah! Os sonhos!!!
Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o
tempo todo.

Aí, de repente, caímos na real! Estamos amadurecendo, todos nos admiram.
Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a
espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo.
Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima (?) dos outros
animais? A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações de modo
lógico e racionalmente planejado?

E continuamos amadurecendo ganhamos um carro novo, um companheiro,
ganhamos um diploma. E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar,
de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar pum sem
querer. Mas perdemos peso!!! Já não pulamos mais no pescoço de quem
amamos e tascamos - lhe aquele beijo estalado, mas apertamos as mãos de
todos, ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos
reconhecimento, honrarias, títulos honorários e a chave da cidade. E
assim, vamos ganhando tempo, enquanto envelhecemos.

De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas
costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso, e
perdemos cabelos.
Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os
nossos sonhos, deixamos de sorrir. Perdemos a esperança. Estamos
envelhecendo.
 
Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo.
Que a gente cresça e não envelheça simplesmente. Que tenhamos dores nas
costas e alguém que as massageie. Que tenhamos rugas e boas lembranças.
Que tenhamos juízo, mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia.
Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos. E, principalmente,
que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem
amamos, sintam-se amados mais do que saibam-se amados.

Afinal, o que é o tempo?

Foto:Eu e minha lindona(neta caçulinha)na Cachoeira do Urubu-Pe