DIPLOMAS E DOUTORES VIA SEDEX

José Arnaldo Lisboa Martins

Meu curso primário foi no Grupo Escolar Demócrito Gracindo, em Mata Grande, de onde saí para fazer o difícil Exame de Admissão ao Ginásio, em Penedo. Fiz ai meus dois primeiros ginasiais, fui pra o Pio XII em Palmeira dos Índios, de onde fui expulso, por desrespeitar o Padre Alberto. Fiquei um ano parado, na casa dos meus pais, até que eles me mandaram para Aracaju, onde fui matriculado no Salesiano. Concluí o ginásio neste excelente educandário, fui orador da turma e vim para o Colégio Guido, onde cursei os três anos do científico. Depois de ter sido aprovado em 2º lugar no Vestibular de Engenharia Civil, fiquei aí como Professor de Matemática, de Física e de Desenho. Não fui dos melhores alunos, pois, outros se destacavam, como o Epaminondas e o Ari Romualdo. Para afugentar o sono e conseguir me formar, estudei com os pés dentro de uma bacia com água, além dos comprimidos de “perventin”. Perdi praias, viagens, namoros, cinemas e farras. O Curso de Engenharia era difícil como eram o de Medicina, Direito, Economia, Odontologia, Serviço Social, Administração e Filosofia. Em todos estes cursos, ensinavam excelentes professores, esforçados, abnegados e preparados para a difícil missão, de dar aulas “ao vivo”. Se com este micro-currículo estou enchendo seu saco, tenha calma, pois, foi para justificar o que vou dizer de agora em diante.

Hoje, anos depois, acontecem greves até de professores e, por isso, nunca completam o ano letivo, com prejuízos incalculáveis para os alunos. Os cursos que eram poucos, estão multiplicados e as faculdades se digladiando, umas dizendo ter 30 cursos superiores, outras com 40 e assim por diante. Daqui a pouco, vão se formar médicos de curativos, engenheiros pra casa de cachorros, advogados só pra “habeas corpus”, economistas de palitos, veterinário pra tirar leite em peito de vaca e assim por diante. Deveria ser proibido, instituições de ensino de fazerem propaganda.

No Colégio de São José eu só podia dar aulas de Física, de paletó e gravata e as alunas só entravam no Colégio, com fardas limpas e saias abaixo dos joelhos. Ôxente, isto era ruim para nós professores. Mesmo sendo estudante de Engenharia, para poder ensinar, fiz um curso em Salvador de Dinâmica de Elétrons, em Recife do Cecine-Centro de Ciências do Nordeste e aqui na Faculdade de Filosofia, tive que fazer um Curso de Suficiência, em Física. Hoje, existem professores que dão aulas com camisas fedorentas, abertas e não usam desodorantes. Vão dar aulas de alpercatas, barbas imundas e cabelos assanhados. Os alunos de bermudões, sandálias havaianas, uns fedendo a maconha e sem nenhum respeito aos professores. Cursos proliferam como a dengue e a gripe suína. Ninguém fala mais em vocação. Se o aluno não passar em Medicina, faz o curso superior pra Assessor Funerário ou Coveiro.

Os próprios alunos reclamam de professores com mestrados que, só fazem copiar livros no quadro-negro. Faculdades de outros Estados chegam aqui e disputam com as “igrejas milagrosas”, pra saberem quem tem mais, professores ou obreiros e catedráticos ou patrocinadores.

O Ensino Brasileiro, desde o Maternal até a Universidade, está uma bagunça, com diplomas vendidos nas ruas de São Paulo e comprados por alagoanos, para assumirem cargos, mesmo que não saibam pra que lado ficam as faculdades. Matrículas e provas são feitas pela internet, desde que paguem com o boleto de 20 reais. Agora, os alunos podem ser “doutores por correspondências” e receberem seus diplomas via SEDEX. Daqui a pouco, o programa “minha casa, minha vida”, vai ter que construir um conjunto de prédios, só pra Faculdades. Doutor vai dar na canela. Êita país, meus Deus !!!!!!!

Obs: Agradeço o aplauso e o incentivo: ao inspirado radialista Sílvio Sarmento, à combativa Vereadora Heloísa Helena e ao ilustre Dr. José Renato de Oliveira.

Obs:Este artigo foi publicado hoje, 5/2/10, no Jornal EXTRA

José Arnaldo Lisboa Martins
Enviado por José Arnaldo Lisboa Martins em 05/02/2010
Código do texto: T2071622