Saudade

A saudade contraria o esquecimento, o poder do tempo e até o nosso querer. A saudade fica, quando desejamos que se vá. Se ocorre algum tipo de mudança é tão lenta que parecemos ainda com saudade.Lembramos e, pior, sentimos tudo quando nossa esperança era o "deslembrar". A saudade é assim, machuca onde mais dói.

Tantos poetas falaram de saudade, no entanto, sempre parece que falta um pedaço.É um estrago, um incômodo, e algumas vezes causa até bem-estar( saudade boa), mas não é a ela que me refiro.O que me provoca é aquela saudade dilacerante que não sabe a hora de deixar, perdeu a noção do desapego.

"Saudade é como a fome, só se mata quando come a presença"(Clarice Lispector).Ela é difícil de ser saciada, a própria presença ainda deixa rastro de um querer, pois quem disse que ver, basta ao desejo? Não existe solução para saudade.É viver até seu findar ou se persistir aprender a conviver. Não adianta desvios, atalhos ou refugiar-se no futuro, o sofrimento que acompanha a saudade não vai deixar de existir.É até mesmo necessário ter amizade com a saudade para conhecer a hora de recusa-la.

É um temor humano, demasiadamente humano, mas também uma necessidade, pois ter saudade é ter alguém sempre com você, é, pois, nunca estar sozinho. E, prosodiando o poeta vai ver que "fundamental é ter saudade, é impossível ser feliz sozinho".Pois, em tempos como o nosso, tem mais gente com saudade do que com amor.Na verdade, quando temos a leve impressão que ela nos abandonou, ficamos a espera da próxima saudade, de novamente a alma acomodar o grito.

Roberta Leone
Enviado por Roberta Leone em 02/08/2006
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