Breves noções sobre Conceito e História em Deleuze.

Breves noções sobre Conceito e História em Deleuze.

Sobre o Conceito em Deleuze

A natureza do Conceito está na multiplicidade de seus componentes, que embora sejam sempre, ou dois ou três, mas por certo mais do que apenas um, não são infinitos, (o que implicaria a existência de um caos que não se verifica) . Sendo assim, tanto é verdade que nenhum conceito é simples, quanto que os chamados universais não são infinitamente compostos. Cada conceito “traz ou trabalha” um problema, sem o qual, o conceito careceria de sentido. Sendo assim, os conceitos são criados em vista de problemas. Os conceitos, como mencionamos, podem ter dois ou três componentes. Um exemplo de conceito com três componentes é o de Outrem. Deleuze diz que: “Outrem é um mundo possível, tal como existe num rosto que o exprime, e se efetua numa linguagem que lhe da’ uma realidade. Neste sentido é um conceito com três componentes inseparáveis: mundo possível, rosto existente, linguagem real ou fala”.

O conceito é criado, mas não é criado do nada. Todo conceito tem uma história. O conceito de Outrem, por exemplo, remete a Leibniz. O modo como Deleuze trata o problema do Conceito, nos faz pensar em uma infra-estrutura do pensar, ou uma “Geografia do Pensamento”: há nos conceitos, componentes, “pedaços” vindos e ou compartilhados por outros conceitos, há pontes, intersecções, sobreposições, conexões, encruzilhadas. Seus contornos são irregulares. A relação entre seus componentes cria zonas indiscerníveis de interpenetração: os componentes de um conceito são inseparáveis, garantido sua endo-consistência. Cada componente de um conceito pode ser também um conceito. As zonas e as pontes entre os conceitos são suas junturas, o que garante a exo-consistência do conceito.

Essa conexão de um conceito com conceitos do mesmo plano é o seu Devir. Pela historia e, sobretudo pelo Devir, todo conceito remete a outros conceitos. Esta é sua heterogenia: a ordenação, por zonas de vizinhança, de seus componentes. O conceito perpassa todos seus componentes, como que os sobrevoando, ou estando em todos, simultaneamente. O conceito não é corporal, entretanto, se efetua nos corpos. Em suma, Deleuze esclarece que os conceitos, que podem ser absolutos ou relativos, e que não são discursivos, definem-se pela “inseparabilidade de um número finito de componentes heterogêneos percorridos por um ponto em sobrevôo absoluto, a velocidade infinita”.

Deleuze a as relações entre Filosofia e História da Filosofia

Roberto Machado nos lembra que para Deleuze, fazer Filosofia é muito mais do que uma tarefa de repetição e reflexão sobre fatos. A filosofia é antes de tudo, um processo de criação. Entretanto, Machado, em “A Geografia do Pensamento”, texto de “Deleuze e a Filosofia”, ressalta que, em sua visão, Deleuze foi um historiador da filosofia que se fez filósofo por deixar a marca de seu pensamento em seus estudos, e por pensar, criticamente, a história da filosofia. Sendo assim, para Deleuze, pensar um filósofo não é uma tarefa para o historiador, pois a própria história da filosofia é apenas mais um elemento do pensamento, e não sua definição. Suas monografias, neste sentido, são mais do que métodos de pesquisa histórica, são pensamentos: filhos que faz, pelas costas, nos pensadores monografados, como dito em “Conversações”, em carta escrita em resposta ao severo crítico que lhe condena. Neste o caso, Deleuze não copia os pensadores, ele cria a partir deles. Para Deleuze, seus pensamentos não são finas estátuas sacras, diante das quais só nos é permitida a beatitude e a contemplação. O pensamento dos filósofos, é , antes de tudo, a matéria prima, com a qual Deleuze fará sua própria criação. Todavia, uma genealogia da filosofia em Deleuze, aparece mais como uma geografia do que como história, o que compreende uma não linearidade da progressão temporal da filosofia.

Nesta abordagem deleuziana, as monografias são de suma importância, bem como as colagens, que pressupõem a pesquisa de novos meios de expressão filosófica. A colagem compõe e relaciona elementos variados, criando a partir deles. Neste sentido, Deleuze afirma que a repetição de um texto, não deve promover a constatação de sua identidade, mas a vivificação de sua diferença, de modo que, enquanto o primeiro modo é fazer apenas história, o segundo é fazer filosofia. Essa é a relevância da colagem: libertar os conceitos dos sistemas convencionais e criar novos sistemas, estabelecer ressonâncias, encontros, revitalizar a relação entre os conceitos e “novas máscaras”, significados e contextos.

A diferença entre fazer Filosofia e História da Filosofia, é a mesma que entre “reproduzir” e “criar”. E quando por meio de uma nova dinâmica do “fazer História”, com colagens, recriações e torções, cria-se, por meio dela, então, História da Filosofia é também Filosofia.

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