Vida de Gado no país do Carnaval ou Sambódromo: pasto coletivo

"Vocês que fazem parte desta massa [...] é duro tanto ter de caminhar e dar muito mais do que receber" É indiscutivel que Zé Ramalho é um génio, mas seria ele um profeta do Apocalipse? Estamos as vésperas de mais um Carnaval época de festa popular, época de ser feliz, mas por que? Você já perguntou para um folião por que ele gosta de pular Carnaval? O que leva uma pessoa a dedicar-se o ano inteiro à uma escola de samba? Não estou falando de sua diretoria, do compositor ou da rainha de bateria (geralmente uma famosa que quer se promover) mas falo das "pessoas comuns".

O Carnaval é uma verdadeira vida de gado - a massificação humana pulando na avenida, dentro do sambódromo. Um ano de esforço para uma hora de dança. Não estou questionando o divertimento, mas o sentido do divertimento, o Carnaval é muito diferente de sair com os amigos para divertir-se com uma garrafa de vinho ou de assistir a um bom DVD, mesmo as esvaziadas baladas não acarretam tanto preparo prévio.

Muito bem no Carnaval temos duas ideologias em virtude: o trabalho em grupo e a atenção voltada a diversão: a primeira resume o indivíduo a uma peça da engrenagem, um verdadeiro rebanho humano esta visão é a mais perfeita realização do contemporâneo ideias cotidianas de igualdade são mascaras hipócritas da manutenção do rebanho que pacificação indivíduo ao torna-lo parte de um todo, o que nos remete ao segundo tópico a festa do Carnaval uma época onde todos são igualmente felizes, o rico e o pobre o branco e o negro pulam a um só som, no entanto para manter esta farça é necessário o esforço de um ano.

Na Alemanha do século XIX existiam duas palavras para designar o que era bom e o que era mau para o bom havia o significado aristocrático que significa bravo, forte, poderoso e guerreiro enquanto que popularmente bom era sinonimo de pacífico ou inofensivo, como o gado deve ser. O sentido de mau aristocrático significava ordinário, comum e desprezível enquanto que popularmente mau significava desconhecido, irregular, perigoso e cruel [1]. Seria cruel retirar o Carnaval do povo? Tão cruel quanto afastar um viciado de sua droga.

O carnaval resume o momento atual do povo brasileiro, embora muito mais antigo ele o ilustra com mestria onde todos somos pacíficos bezerros de valores vulgares temendo pelo desconhecido e qualquer valor, ideia ou questionamento que perturbe este marasmo é severamente censurado, destruído e tachado como "reacionário" ou "de direita". Hoje em dia não importa a ideia, mas sim de onde elas vêem, nos dias de hoje você precisa ter passado fome na infância para ter direito a ser bem sucedido, enquanto a classe média esta fadada a ser ignorante, preconceituosa e medíocre.

Zé Ramalho é um profeta? Provavelmente não, mas ele é um dos maiores artistas que o Brasil já conheceu tudo por que soube escolher quem o chamaria de mau.

Gostaria de deixa-los com uma frase de Reinaldo Azevedo, se ele é um reacionário? não sei, apenas sei que as vezes ele exagera, mas outras vezes ele é cruelmente verdadeiro: "não se é um marxista convicto, sem ao menos ser um idiota dedicado" [2].

[1] DURANT, W. (SD) A filosofia de Nietzsche. Rio de Janeiro: Ediouro.

[2] AZEVEDO, R. (2009) Máximas de um país mínimo. Rio de Janeiro - São Paulo: Record.

Artigo originalmente postado no meu Blog Os Deuses Mortos

Endereço: http://osdeusesmortos.blogspot.com/