Sobre o sepulcro esquecido de Jesus

Depois do filme "O corpo", protagonizado pelo ator Antônio Banderas – que conta a história fictícia do achado arqueológico mais polêmico do mundo, ou seja, o esqueleto daquele que se supõe ser Jesus Cristo, obra que mostra as possíveis conseqüências do que certas verdades podem acarretar na vida de certas pessoas e de certas comunidades – agora o produtor de Cinema James Cameron, juntando-se ao também cineasta judeu Simcha Jacobovici, produz o documentário "O sepulcro esquecido de Jesus".

Segundo informações pescadas no site enciclopédico Wikpédia, disponível na Internet, “James Francis Cameron (Kapuskasing, 16 de agosto de 1954) é um premiado cineasta, produtor e roteirista canadense residente nos Estados Unidos. É bacharel em Física pela Universidade da Califórnia. Famoso mundialmente por introduzir mulheres como protagonistas nos seus filmes, seus roteiros incluem Michael Biehn, Sigourney Weaver, Jenette Goldstein, Bill Paxton, Lance Henriksen e Arnold Schwarzenegger. Foi o primeiro cineasta a produzir e dirigir um filme com custo superior a 100 milhões de dólares em 'True Lies' (1994) e mais tarde alcançou mais de 200 milhões de dólares em 'Titanic' (1997). Cameron, considerado um dos maiores cineastas a trabalhar com efeitos especiais, dirigiu clássicos da Ficção Científica como 'Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final' e 'Aliens: O Resgate'. É dele a direção dos dois maiores filmes em bilheteria da história do cinema, 'Titanic' e 'Avatar'”.

Já no site do Discovery Channel encontramos as informações de que “o premiado diretor de O Sepulcro Esquecido de Jesus (The Lost Tomb of Jesus), Simcha Jacobovici, tem em seu currículo dois Emmy de Excelência em Jornalismo Investigativo (1996 e 1997), além da Medalha de Ouro do International Documentary Festival of Nyon (Festival Internacional de Documentário de Nyon); um certificado de Mérito Especial da Academy of Motion Picture Arts and Sciences, de Los Angeles; um Genie; três U.S. Cable Ace; dois Gemini; e um prêmio Dupont-Columbia University.

Em 2005, Jacobovici conquistou o American Overseas Press Club Award, com 'Impact of Terror' (CNN), e, em 2006, ganhou o Prêmio British Broadcast de Melhor Documentário, com 'Sex Slave' (CBC, C4 e PBS Frontline). Mais recentemente, faturou uma Medalha de Ouro no New York Film Festival (Festival de Cinema de Nova York), com 'The Exodus Decoded' (The History Channel), co-produzido com James Cameron.

Nascido em Israel e naturalizado canadense, Jacobovici formou-se em Artes e Filosofia pela Universidade de McGill, e concluiu pós-graduação em Artes e Relações Internacionais pela Universidade de Toronto”.

Sobre Jesus Cristo, entretanto, muitos dizem que há pouco a comentar, já que, fora o conjunto de rock inglês The Beatles – que se declararam “mais populares” que ele – não há ninguém mais conhecido no mundo. O fato é que somente ouvimos dizer da fantástica história de nascimento, morte e ressurreição do avatar cristão. Ao contrário de Tomé, que o viu e, segundo as escrituras, não o reconheceu ou acreditou em sua ressurreição, são muitos os que, como Jesus previu, preferiram a felicidade de crer na história dele sem nunca tê-lo visto. E foi por sua aura fantástica, então – sendo talvez a maior delas narrada quando das relações de Jesus com a morte de Lázaro, que ele ressuscitou, quer com as relações com sua própria morte e ressurreição – foi por sua aura fantástica, então, que muitos foram os que questionaram a validade histórica das narrativas feitas da vida de Jesus por alguns de seus apóstolos; e mais porque somente se dedicaram a narrar tais acontecimentos décadas depois da “morte e ressurreição” de seu mestre.

Mesmo sendo Jesus mesmo o personagem mais conhecido do mundo, estudiosos como a professora Elaine Pagels, professora de religião na Universidade de Princenton (EUA), além de muitos outros, filósofos e artistas estudiosos, como os citados James Cameron e Simcha Jacobovici, ao longo dos séculos têm se dedicado à “compreensão exata” sobre o que quiseram dizer aqueles que contaram a história do homem de Nazaré, suas metáforas e parábolas. Entre os mais crus, o filósofo alemão “anticristo” Friedrich Nietzsche, que em seu incômodo livro 'Além do bem e do mal', num capítulo intitulado “A Natureza Religiosa”, escreveu: “Quem observou o mundo em profundidade percebe quanta sabedoria existe no fato de os homens serem superficiais. É o seu instinto conservador que lhes ensina a ser volúveis, ligeiros e falsos. Aqui e ali encontramos, entre filósofos e entre artistas, um culto apaixonado e excessivo das ‘formas puras’: ninguém duvide que quem necessita de tal maneira adorar a superfície, em algum momento fez uma incursão infeliz por baixo dela. Talvez haja mesmo uma hierarquia entre essas crianças escaldadas que são os artistas natos, cujo prazer na vida resume à intenção de lhes falsear a imagem (como que numa prolongada vingança da vida –): o grau de desgosto que a vida alcançou neles poderia ser medido pelo quanto desejam vê-la falseada, diluída, idealizada, divinizada – os homines religiosi poderiam ser colocados entre os artistas, como sua categoria suprema. É o profundo e desconfiado temor a um pessimismo incurável, o que obriga milênios inteiros a abraçar firmemente uma interpretação religiosa do existir: o temor daquele instinto que pressente que se poderia ter a verdade cedo demais, antes que o homem se tenha tornado forte, duro e artista o bastante...” .

E há muito, muito mais dito por Nietzsche sobre “A Natureza Religiosa”, entre outras coisas que formam o espírito humano (sic), a desestabilizar nossas certezas, abalar nossa(s) fé(s). Lendo-o “friamente”, é impossível não concordar com muitas das verdades que ele diz sobre aquela espécie de natureza que atribuímos como “origem divina” de “nossa” espécie. Mas, no caso dos artistas James Cameron e Simcha Jacobovici – mesmo tendo o primeiro recentemente realizado o filme 'Avatar' - uma das mais belas mentiras ou, no dizer do filósofo alemão, uma das mais belas falsificações estéticas cinematográficas - e mesmo sendo o Jacobovivi um judeu inevitavelmente anticristão, um tanto interessado em desvendar algumas verdades que, evidentemente, também possam justificar sua própria fé, no caso dos artistas responsáveis pela produção de "O sepulcro esquecido de Jesus", então, não parece haver expressão de uma “necessidade” de “adoração da superfície da vida” por parte de tais artistas, como disse Nietzsche. Ao contrário: agora, todos os talentos dos dois estiveram voltados para a obtenção da verdade nua e crua sobre certos aspectos fantasiosos que artistas "homines religiosi" do passado engendraram como formas de manutenção e disseminação de sua(s) própria(s) fé(s) a construção de todo religioso império conhecido.

O seriado quer finalmente nos convencer de que, não apenas jamais houve aquilo que os cristãos acreditam ser a ressurreição de Jesus, fundamento de toda fé cristã, mas que também outros artistas como Dan Brow – autor do romance "O Código Da Vinci" – ou, antes dele, "Nikos Kazantakis" – autor de A última tentação de Cristo – tiveram razão ao defender a possibilidade de possíveis relacionamentos sexuais/familiares entre Jesus Cristo e Maria Madalena.

Como outras obras das artes visuais e da Literatura, "O sepulcro esquecido de Jesus" pretende provar ou, melhor dizendo, nos fazer provar certas verdades e destruir algumas de nossas ilusões ao desmascarar as mentiras pregadas por aqueles que, durante séculos, literalmente fizeram nossas cabeças defendendo a existência de certos milagres à feitura do mundo, dos homens (sic) e, por tabela, estabelecendo sua autoridade no que diz respeito ao direito a administração dos destinos das nossas e da vida de tudo sobre a Terra – sendo a História um produto do desenvolvimento de culturas e essas, resultados da imaginação e das artes que, de idiomas a identidades, dão formas e valores às superfícies da Vida eterna.

A pergunta é: com "O sepulcro esquecido de Jesus" será bom saber finalmente que, como disse certa vez Nietzsche antes de chorar, “Deus está morto”?

Só o Tempo dirá.