A FESTA DE LULA NA REPÚBLICA DAS ALAGOAS

O presidente Lula não tem um plano definido para o Brasil. Lula não tem grandes metas para melhorar a condição de vida do brasileiro. O único sonho que Luiz Inácio tinha já foi realizado: chegar ao trono. Se ele tem outro sonho eu diria que é o de se perpetuar no poder. E olha que não me surpreenderia se Lula mandasse para o submisso Congresso Nacional um projeto que instituísse no Brasil a re-releição. Suspeito que Lula quer se vingar do povo brasileiro pelas três derrotas nas urnas exercendo três mandatos.

Dia 15 de novembro, Lula foi condecorado pelo oportunista governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, com uma medalha pela “erradicação da miséria e respeito à cidadania”. Imagino que ele publicou no Diário Oficial uma lei, proibindo a miséria no Brasil. O problema é que os insubmissos miseráveis não sabem ler. Suponho que no estado de Alagoas a fome já é um problema do passado. Lula deve enviar rações diárias de camarão com caviar para o povo alagoano. É um alento saber que a situação precária em que se encontra o país não atinge o nobre estado nordestino, que entre suas maiores contribuições à Pátria nos legou Deodoro da Fonseca e Fernando Collor de Melo. O primeiro instituiu a República, com alguns anos de atraso. O segundo nos obrigou a escolher entre ele e um Lula ainda em estado bruto. Uma espécie de homem de Neantherdal da política.

Como o estado de Alagoas está salvo das agruras que consomem o futuro do país, o governador resolveu investir a dinheirama em outras áreas. Para bancar a festa para Lula, que também comemorava os 115 da Proclamação da República, Ronaldo Lessa gastou R$ 300 mil. O povo alagoano é muito generoso, já que sairá do seu bolso o patrocínio. Acredito que se fosse no caso de um estado que enfrentasse problemas sociais – o que não é o caso de Alagoas – essa verba serviria para alimentar alguns moradores de rua.

Quando Lula anunciou que iria acabar com a pobreza no Brasil não disse que começaria por Alagoas. O povo de lá já está contemplando o espetáculo do crescimento. Por lá o tempo é de vacas gordas. O Fome Zero funciona, ora pois. Sugiro ao presidente que divida o país em umas 50 glebas. Umas 50 Alagoas e coloque alguém com as qualidades de Ronaldo Lessa e está resolvido o problema da fome no Brasil. Certamente não seríamos abordados no sinal por crianças de rua, pedindo um trocado para sobreviver. No mundo encantado de Lessa, onde Lula é o rei, as crianças vão todas para a escola, se alimentam quatro vezes por dia, fora uma passadinha no McDonald's. Não há desigualdade social nessa fantástica terra.

Toda essa adoração do governador Ronaldo Lessa por Lula tem uma explicação: ele está mendigando (no bom sentido) uma pequena ajuda do governo federal. Foi lançada por ele e pelo presidente a pedra fundamental do Memorial à República, uma espécie de museu que reunirá objetos e símbolos referentes aos 115 anos na nossa história republicana. A obra está orçada em R$ 1,9 milhão. Lessa quer tocar o coração generoso de Lula, para que o Governo Federal entre com uma parcela. Quando eu for a Maceió, espero encontrar no tal Memorial a caneta com a qual Fernando Collor assinou o confisco da nossa poupança. Ou fotos de Lula protagonizando cenas gastronômicas e etílicas na Granja do Torto.

Mas parece que nem tudo é um mar de rosas na pátria alagoana. Durante o discurso lulino, alguns rebeldes universitários resolveram vaiar o presidente. Não satisfeitos, atiraram-lhe ovos e tomates que certamente não farão falta à mesa da família alagoana. Por sorte de Lula, a pontaria não é o forte dos estudantes. Mas como a polícia estava por lá, reforçada pela guarda presidencial, o protesto ficou nisso. E a paz voltou a reinar em Maceió, que em breve será a capital da República. Não, Brasília ainda continuará sendo a sede do poder. Maceió será uma espécie de sede das comemorações da Proclamação da República. Melhor lugar não havia para mostrarmos para todo o mundo o nosso orgulho republicano. Ainda me mudarei para esse paraíso tropical.

Artigo escrito em 2004. Publicado na época.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 19/02/2010
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