Sobre ficções e o futuro do mundo

Em 1984 o diretor de Cinema norte americano Peter Hyams levou às telas a obra de ficção científica "2010, o ano em que faremos contato", baseada no livro do cientista e escritor inglês Arthur C. Clark, uma continuação do clássico "2001, uma odisseia no espaço", dirigido por Stanley Kubrick. Apesar dos livros e dos filmes serem muito bons – com destaque para a primeira obra, "2001..." – os argumentos que inventaram nada têm a ver com a verdade sobre o desenvolvimento científico que, nas datas citadas, nos possibilitaria assistir à empreitada da NASA a realização de tais viagens espaciais e, muito menos, foram achados gigantescos monólitos no espaço como "expressões primeiras do Criador", ou mesmo engendrados por "inteligências extraterrestres" a pretenderem nos revelar verdades.

Menos ainda, vivemos em 1984 o que em 1949 previu que nos aconteceria naquele ano o escritor inglês George Orwell em seu famoso livro "1984" – embora hoje, em 2010, saibamos pelas telas de televisão e de nossos computadores praticamente tudo o que anda acontecendo no mundo, além de sermos vigiados por câmeras espalhadas por todos os cantos do planeta, como previu Orwell que seria o mundo no futuro, mesmo que, aparentemente, não vivamos entre fascistas numa ditadura global e, fora os participantes do programa "Big Brother" (inspirado na história de Orwell), nossa intimidade só seja vista por outros numa tela de vídeo quando permitimos.

No livro "As crônicas marcianas", do norte americano Ray Bradbury, tendo sido sua primeira edição publicada em 1946, uma sequência de contos fantásticos narram a história da colonização do planeta Marte pelos humanos (sic) que, segundo as expectativas do autor – considerado “o poeta da ficção científica” – começaria em 1999 e iria até 2026. Numa edição que tenho do livro, conseguida num Sebo, seu antigo dono riscou a data “1999”, que referenda o primeiro conto da série, e o datou com o ano “2026”, que referenda o último conto, ano em que, segundo suposições, deverão se iniciar as obras da estação lunar terrestre aos primeiros passos da operação “Colonização Marte”, ficando a cargo da rede de Hotéis Hilton (sic) a tarefa de construí-la.

Como se percebe, entre a realidade prevista por autores de ficção científica, por amantes do gênero e suas fantasias, há grandes distâncias. Mas entendo que, para George Orwell – que nasceu em 1903; Arthur C. Clark – que nasceu em 1917, e Ray Bradbury – que nasceu em 1920 – os anos finais do século XX eram o futuro deles, cheio de gigantescas conquistas científicas. Para nós, entretanto, o ano 2000 e o século XX já são passados, e apesar dos grandes avanços científicos (muitos deles intuídos pelo genial escritor francês Julio Verne – que nasceu em 1828 – e pelo inglês H. G. Wells – que nasceu em 1866), ainda não temos carros voadores em concessionárias ou colônia de férias na Lua, embora o desenvolvimento da bioengenharia e da inteligência artificial esteja bem acelerado, e mesmo que, como é evidente, e a contragosto de religiosos conservadores, vá avançar muito ainda a fazer gerações futuras comprarem órgãos artificiais em farmácias e dizer aos seus androides domésticos o que querem; desde uma sessão de sexo a um simples almoço – na época, talvez uma opção luxuosa quando a farmacologia poderá já proporcionar uma rica dieta alimentar através de pílulas, sendo algumas delas usadas para a cura de doenças como o câncer, ainda a aparecer em pessoas que não nascerem, nos anos finais do século XXI, já sem o(s) gene(s) da doença em sua constituição genética.

Como escritor, faço incursões em alguns estilos literários – sem que necessariamente eu tenha já realizado alguma “obra prima” – mas meu primeiro conto, "Pouso no Éden", escrito quando eu tinha 12 anos, teve como base um argumento de ficção científica, um tanto misturado a mitos bíblicos sobre a Criação, que falava sobre o planeta Terra completamente inabitável “num futuro distante”, tendo sua população sobrevivente a necessidade de viajar pelo espaço em busca de um planeta semelhante ao planeta Terra, onde pudessem habitar.

Não digo que fui “precursor” do argumento do recente "Pandorum", um filme de 2009 que trata o assunto de forma muito mais densa do que obviamente fui capaz de imaginar em 1973, embora talvez o mesmo “arquétipo” tenha inspirado tanto a mim quanto ao autor da história de "Pandorum" a escrever sobre o tema. Em meus exercícios literários subsequentes, escrevi outras histórias de ficção científica, mas, para torná-las mais “verossímeis”, em todas tive o cuidado de não citar “datas precisas” a referendar acontecimentos futuros, algo que nem mesmo certos considerados “profetas”, do passado ou do presente, deveriam ter feito.

Assim, segundo a série de vídeo Zeitgeist, por exemplo, exposto no site YouToube, (assista em http://www.youtube.com/watch?v=WA9OqNTzUSI), “o fim do mundo” não acontecerá tão cedo – embora muitos fins à recomeços tenham não somente acontecido, mas estejam a acontecer agora mesmo, tanto na dimensão fisiológica quanto na geográfica, e não seja difícil que algumas hecatombes, naturais ou culturalmente provocadas, continuem a acontecer por muito tempo em certas regiões do planeta ou nele inteiro – quer para que “profecias sejam cumpridas”, quer para naturalmente ajustá-lo, independente de nossas súplicas a certas sobrevivências, a outras condições de sua longa existência.