A cantora

Assisti sua última entrevista pela TV, falando de seus projetos e de sua próxima viagem aos Estados Unidos; iria apresentar-se cantando o ritmo da nova onda brasileira, que era a bossa nova; viajaria por aqueles dias. No dia seguinte à entrevista, fui convocado para fazer uma perícia em vítimas de acidente em Maricá. Silvinha tinha ido para um sítio em companhia de um amigo, que inclusive, era piloto de carros de corrida, filho de tradicional família do Rio de Janeiro. Fiquei profundamente triste, lembrando sua voz doce e afinada cantando as músicas da época; diante de seu corpo, meditando sobre a fragilidade da vida humana, verifiquei que mesmo numa especialidade tão fria, muitas vezes o profissional se deixa tomar pela emoção, numa tristeza que guarda pela vida toda. Mesmo sem gostar de escrever sobre assuntos profissionais, abro mais uma exceção, lembrando a cantora Silvinha Teles, principalmente pelo fato de ter assistido sua entrevista cheia de vida e esperança, às vésperas de sua morte extemporânea e traumática.Se eu fosse homem de rezas, rezaria sempre por ela; como não sou, reservo-lhe sempre um pouco da minha tristeza!