Sobre um prefácio

Considero Velas Efêmeras um dos mais bonitos títulos de livros que conheço. Huxley foi muito feliz na escolha do nome e procurou nos diálogos, dar uma idéia de seu pensamento, sem transformar o livro numa distração para o leitor. Em tudo que ele escreveu, colocou o talento do escritor que acompanha o movimento do mundo, sem ser um mero espectador. Considerava ser a prática da moralidade justamente fingir que somos alguém, que por índole não somos; representar o papel de santo, ou de herói ou de cidadão respeitável. Todo ser humano se cria como um mascarado; toda educação, além de ser meramente intelectual é uma série de ensaios para o papel de Jesus, de Alexandre Magno ou de quem seja o favorito local. O homem virtuoso é o que estudou conscienciosamente o seu papel e sabe representá-lo com competência e força de persuasão. Os santos e os heróis são grandes atores...Gente dotada de gênio para interpretar personagens heróicas e não a sua própria; ou indivíduos com a sorte de terem nascido tão parecidos com o ideal heróico, que se identificam com o papel, sem ensaio. Os perversos são os que não podem ou não querem aprender a representar. Gostaria muito de ter escrito o prefácio de Velas Efêmeras e aproveito a falta de assunto que me dá prefaciar Notas Esparsas para fazer uma homenagem a quem de fato gosto. Resumindo a apreciação do presente livro, cuja terceira edição também prefaciei, digo que tem um título sugestivo...Não é bem um livro; são notas esparsas. Ai está o enigma... A quem desejar decifrá-lo.