A MAÇONARIA E A REVOLTA DO “QUEBRA-QUILOS”

     A Constituição imperial de 1824 instaurou no Brasil o regime de padroado, unindo Igreja Católica e Estado. Pelo regime, o imperador podia nomear bispos, controlar o clero e participar de outras atividades da Igreja. Em contrapartida, o Estado responsabilizar-se-ia pelo sustento dos religiosos, construção de igrejas e por outras despesas. Dessa forma, o clero brasileiro somente obedeceria as decisões do papa com a autorização imperial.
     Em 1864, o papa Pio IX, através da bula Syllabus, proibiu que os membros da maçonaria freqüentassem a igreja. No Brasil, D. Pedro II, que era maçon e tinha muitos auxiliares maçons, rejeitou a bula papal. A grande maioria do clero obedeceu ao imperador. No entanto, o bispo D. Vital de Oliveira, de Olinda, e D. Antônio Macedo, de Belém, preferiram expulsar de suas dioceses os católicos ligados à maçonaria. Por esses atos, os bispos rebeldes foram processados e presos, no dia dois de janeiro de 1874. Com a prisão dos bispos, as relações entre a Igreja Católica e o Império ficaram tensas.
     O padre Calixto da Nóbrega, que era vigário de Campina Grande (PB), solidário com os bispos presos, expulsou da igreja, como excomungados, os católicos filiados à loja maçônica “Segredo e Liberdade”. Convidado pelo padre Calixto para participar das missões, o respeitável padre Ibiapina, nas suas pregações, incentivou o povo para que não pagasse impostos e não comprasse nem vendesse nada aos maçons.
     O povo estava descontente com a monarquia pela criação de novos impostos, como o “imposto do chão”, que cobrava impostos àqueles que vendiam suas mercadorias no chão das feiras; pela obrigatoriedade do alistamento militar; e pela implantação do sistema métrico decimal. Ora, somado a tudo isso, o fanatismo religioso contribuiu para o surgimento de um movimento que ficou conhecido com o nome de “quebra-quilos”. A insurreição teve início em Campina Grande, em novembro de 1974. Os revoltosos tomaram os pesos e medidas das mãos dos vendedores das feiras e das casas de comércio, quebraram-nos e jogaram no açude velho. Invadiram os arquivos públicos, a Coletoria de Rendas Gerais, o cartório do tabelião Pedro Américo de Almeida, a Câmara Municipal e a agência dos correios. Rasgavam documentos e diziam que aqueles papéis eram “coisas da maçonaria”. Gritavam: “Viva os católicos! Morra os maçons!”. Imputavam à maçonaria a autoria do sistema métrico decimal. Em Areia, no interior paraibano, tentaram arrancar do cemitério o cadáver do Dr. Araújo Barros, que fora juiz da comarca, porque ele era maçom e “o corpo de um maçom não podia repousar no campo santo”. Felizmente, desistiram e o ato não foi concretizado.
     O movimento sedicioso espalhou-se por outros estados do nordeste. Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, mais de trezentas mulheres, tendo à frente Dona Maria Filgueira, esposa do capitão Antônio Filgueira, rasgaram a lista com os nomes dos sorteados para o alistamento militar. O movimento ficou conhecido como “Motim das Mulheres”.
     Para combater a rebelião foram enviadas tropas federais para Campina Grande, comandadas pelo coronel Severiano da Fonseca, irmão do marechal Deodoro da Fonseca. O padre Calixto da Nóbrega foi preso juntamente com sete pessoas, restabelecendo-se, assim, a ordem pública.
(Publicado no jornal maçônico “Novos Rumos”, edição março/abril/2002).