UNIVERSIDADES FEDERAIS E SUAS "DEMOCRATITES"...

Após longo inverno sombrio, onde a palavra democracia invocava imagens comunistas na cabeça dos então orientadores da nação, passamos por uma campanha - que começou se chamando "Eu Quero Votar Para Presidente" e o vulgo rapidamente resumiu: Diretas Já! - e nos deparamos com a tal democracia. Um bicho estranho, ao qual não estavamos acostumados. Todos são iguais? Coisa mais louca, se desde o império temos os amigos do rei, o poderoso Sr. Abóbora. Isso não pode mudar não...

Mas mudou. E passamos a ter direito a votar para presidente, senadores, deputados et caterva...

E o pessoal começou gostar. De repente, tudo tinha que ser via eleição.

Uma das grandes queixas das Universidades federais era a imposição, pelo ministro da educação, de um reitor retirado de uma lista tríplice, composta por nomes indicados pelos conselhos universitários, orgão deliberativo máximo desse tipo de instituição. Por meados dos anos 80 essa tese passou. E foi feito um acordo - que eu saiba, a lei não mudou até hoje -, a comunidade universitária votaria em tantos candidatos, os três mais votados seriam os que comporiam a lista tríplice na ordem decrescente, encaminhada pelo conselho universitário e o ministro concordava em nomear o primeiro, o mais votado. Esse acordo vem valendo até hoje, passando de ministro a ministro, meio assim como o anel do Fantasma, das antigas revistas em quadrinhos.

Dentro das universidades, a tal democracia foi comemorada. E algumas acharam interessante ampliar essa democracia. O vice-reitor sairia de votação diversa de de reitor. O cargo de vice-reitor é um cargo de confiança, por definição e necessidade administrativa. Só que, com a votação em separado, deixou de ser de confiança do reitor para ser confiança da comunidade acadêmica. O que tinha de vice querendo dar golpe no "versa" não foi mole... Algumas universidades não embarcaram nessa, outras sim. Hoje creio que a nomeação já é conjunta, pelo menos na maioria dos casos.

E a coisa se espraiou. Já que votamos para reitor e vice-reitor, vamos votar também em diretores das faculdades e institutos. E novamente, cargos de confiança por definição, deixaram de ser. E dentro das faculdades e institutos, vamos votar nos coordenadores de curso e qualquer outro cargo. Breve votaremos na moça - ou rapaz - do cafezinho...

Um princípio básico da democracia foi esquecido em algum lugar. O princípio de que todos são iguais. Na universidade não. Decidiu-se dar peso diferente aos votos. Professor vale tanto, técnico-admistrativo tem voto de menos valor, alunado vale um voto por tonelada viva.

Por que isso? Na cabeça aloprada e esquizofrênica (por interesse mesquinho) dos docentes, a universidade pertence a eles. Como se não fossa toda a comunidade nacional quem paga a conta.

Se os votos dos técnicos e alunos tiverem o mesmo peso, eles mandarão na universidade, dizem os docentes. Buenas, vamos então ponderar também os votos na sociedade civil. Afinal, a grande massa votante está nas camadas menos favorecidas da população. E serão eles que mandarão no país!

Afinal, os pós-doutores, doutores e mestres agem assim. São os pilares do conhecimento, não podem estar errados.

Mas estou fugindo do assunto. O que interesa é que essa "democratite" universitária, sem amparo legal, cria situaçães absurdas. Um reitor não pode exonerar um diretor ou um vice-reitor que tenta enxovalhar sua gestão. O cargo de confiança deixou de ser cargo de confiança, embora seu nome ainda seja cargo de confiança. Então, passa a ser de confiança de quem? Ora, responderão, da comunicade acadêmica. Então tá. Num impasse, como consultamos a comunidade acadêmica para saber se a confiança foi quebrada ou não? Faremos plebiscitos, é isso? Imaginem o dia-a-dia de uma instituição com milhares de pessoas envolvidas, o número de demandas internas e externas, interesses mesquinhos e maiores misturados e a gente tendo que fazer plebiscito. O comandante de um navio, no momento de crise e risco de naufrágio, vai consultar a comunidade, fazer plebiscito, para decidir se abandonam o barco, deixam como está para ver como é que fica ou todos afundamos juntos? É evidente de que nessa hora o comandante tem que decidir rapidamente e dar ordens, tendo imediatos e ordenanças - cargos de confiança - para ver e fazer cumprir as ordens. General perguntando ao soldado, em caso de guerra: Devemos avançar ou não? Evidentemente, os interesses do general, que fica protegido na retaguarda, são de avançar. Já o soldado, que é quem vai para a linha de fogo, segurar bala no peito, acha melhor ficar aqui atrás, quietinho.

Alguém já disse que a democracia é o pior sistema político, tirando todos os outros fora. Imaginem então o que pensar de meia democracia...