Comentários e notas do Livro de Daniel

Comentários e notas sobre os erros e algumas soluções das falhas do livro de Daniel.

O primeiro erro é que o Livro de Daniel fala que o cerco de Jerusalém foi no terceiro ano de Jeoaquim (Dn.1.1). Mas em Jeremias fala do quarto ano de Jeoaquim (Jr 46.2) (605 a.C) e não menciona Nabucodonosor.

A solução é que livro de 2 Reis menciona a presença de Nabucodonosor (2Rs 24.1; Cf. 2 Cr 36.6) na Judéia neste tempo. E a diferença de data pode vir do fato de Daniel usar o método de contagem da Babilônia e Jeremias usa o da Palestina.

E têm evidências arqueológicas das "Crônicas Babilônicas" que mostra o movimento de Nabucodonosor neste ano (605 a.C.), passando pela Judéia.

Outros problemas do Livro de Daniel é quando os tesouros do templo foram saqueados. Mas de acordo com a Bíblia sempre levou-se

tesouros, a cada invasão (2Cr 36.7(605 a.C); 36.10 (597 a.C); 36.18 (587 a.C).

Os criticos falam que o uso do termo "Caldeus“ não é anacrônico, e que Daniel usa o termo caldeu para designar duas coisas: a. a raça dos conquistadores babilônicos; b. um grupo de sábios da corte babilônica. A objeção é que este segundo uso é posterior e não se aplicaria no país onde todos são caldeus.

Mas Heródoto (cerca de 450 a.C.) já conhecia o termo no seu segundo sentido.

Daniel usa as palavras nos dois sentidos e está escrevendo a redação final de sua obra no período persa.

Não há evidência que os termos não eram usados como Daniel os utilizou, no tempo de Nabucodonosor.

Dizem também que Belsazar não era o rei da Babilônia naquela época e nem era filho de Nabucodonosor.

Mas o livro de Daniel tem consciência de que o rei é Nabonido (note 5.7,16,29), mas como ele era o rei "em exercício" é justo que o livro o chame como tal.

As evidências arqueológicas indicam a possibilidade de uma co-regência com seu pai.

O fato de ser chamado "filho de Nabucodonosor" tem razões políticas (eles queriam ter direito ao trono) e talvez genealógicas (talvez ele realmente fosse descendente de Nabucodonosor).

E Belsazar podia ser chamado de rei, porque no aramaico MALKA nem sempre significa rei absoluto. Além disto, ele estava em co-regência com o pai.

Os criticos tembém dizem que nunca existiu Dario, o Medo, no início do império Medo-Persa.

Mas talves não conheçamos Dario por falta de provas arqueológicas (como no caso de Sargão (Is 20.1) e de Belsazar, que eram desconhecidos pela arqueologia).

Mas também Dario pode ser um governador de Babilônia conhecido nos registros como Gubaru, e confundido com Ugbaru (este último morreu somente 3 semanas depois da conquista de Babilônia em 539 a.C.).

Também falam que o Daniel citado no livro homônimo é um personagem lendário dos textos de Ras Shamra.

Este Daniel lendário também teria sido mencionado também por Ezequiel (Ez 14.14,20; 28.3).

Mas a identificação é muito díficil: a semelhança de nomes. Daniel não era um nome incomum entre os israelitas (2 Cr 3.1; Ed 8.2; Ne 10.6).

E este personagem mitológico não recebe, pelo que sabemos da lenda, nenhuma atribuição de justiça (Ez 14.14,20) ou de sabedoria (Ez 28.3). Que são muito adequadas para descrever Daniel na Babilônia.

E rambém o ministério de Ezequiel começou cerca de quatorze anos depois da deportação de Daniel, de modo que este já teria notoriedade quando Ezequiel profetizou.

Outro erro é como que Daniel poderia usar os livros da Bíblia para chegar ao entendimento de que o Exílio tinha terminado se os livros do Velho Testamento só seriam aceitos e canonizados muitos anos

depois (Dn 9.2)?

Este verso (Dn 9.2) prova que os textos do Velho Testamento já estavam sendo usados e aceitos como “canônicos” pelos judeus, antes do retorno do Exílio.

A teoria que diz que só o Pentateuco estava “canonizado” antes do

Exílio é uma teoria que é destruída por este versículo que supõe que

Daniel usou não apenas o Pentateuco, mas também os Profetas e os

Escritos.

A coleção, armazenamento e consulta dos livros do Velho Testamento

era um processo iniciado com Moisés e que ainda estava em curso.

Dizer que Daniel não podia consultar “os livros sagrados” porque eles ainda não existiam é uma pressuposição que não pode ser provada.

Pelo contrário, a Lei já estava completa há muitos anos e as coleções dos Profetas e dos Escritos estavam quase completos. Não há erro aqui, pois os críticos teriam primeiro que provar que estes livros não existiam no tempo de Daniel para depois acusá-lo de anacronismo.

Os criticos também falam que Daniel não está entre os livros dos profetas, na classificação judaica, portanto, não seria um livro posterior a todos os profetas?

Mas temos que avaliar algumas coisas:

Josefo, em sua contagem dos livros do Velho Testamento, coloca

Daniel entre os Profetas e não entre os Escritos.

Na Septuaginta ele também fica entre os profetas.

Melito de Sardes, bispo cristão, coloca-o entre os profetas.

O fato dos judeus colocarem Daniel entre os Escritos, a terceira coleção dos livros do VT não tem nada a ver com a data de composição de Daniel, mas com o autor e com o conteúdo do livro.

Daniel, o homem, não é um profeta, mas um estadista como Neemias. Apesar de ter o dom profético, Daniel não desempenhou o papel de profeta, falando ao rei a ao povo sobre a palavra de Deus. Os profetas eram primeiro pregadores e depois escritores. Daniel, contudo, era escritor; e pelo que sabemos não era um pregador. Assim, as diferenças fizeram os judeus colocarem o livro entre os Escritos e não sua suposta data atrasada de composição e aceitação.

O livro de Eclesiástico não cita Daniel em sua lista de heróis da fé do passado. A conclusão que alguns querem tirar disto é que: ou Daniel um herói mítico ou é muito recente para ser citado?

De fato, Eclesiástico não cita Asa, Josafá, Esdras, Mardoqueu (Mordecai) e muitos outros heróis do Velho Testamento.

A omissão do nome de Daniel não prova isso.

Também dizem que o livro de Daniel seria composto de dois ou mais livros por ter sido escrito em duas línguas diferentes

Na verdade é que o uso de duas línguas neste livro acaba sendo uma prova de sua integridade e unidade e não sugere o uso de diferentes fontes ou diferentes livros.

Não era incomum usar duas línguas ou estilos em um mesmo documento. O famoso Código Legal de Hamurabi (séc. XVII a.C.) tinha a introdução e a conclusão em acadiano semi-poético e as leis em prosa. O fato da língua aramaica ser utilizada no capítulo sétimo, que já pertence às visões, mostra que não é possível dividir o livro em duas obras distintas.

Também falam que as palavras persas, gregas e o uso do aramaico são um prova que o livro de Daniel foi escrito durante a existência dos reinos gregos do Oriente.

Mas o aramaico pode ser uma prova de que Daniel poderia ter sido escrito no período Babilônico e Medo-Persa, pois esta era língua internacional do período. Se o livro tivesse sido escrito durante as guerras nacionalistas dos judeus contra os gregos, o hebraico seria a língua usada do início ao fim, por pura repulsa a tudo que é estrangeiro e imperialista. Além disto, o aramaico de Daniel é exatamente o aramaico antigo, e, portanto, não corresponde ao aramaico encontrado no período grego ou romano.

Também as palavras persas que há em Daniel são poucas (umas vinte) e todas do persa antigo (antes de 300a.C.). Muitas delas já tinham entrado no aramaico antes do império Medo-Persa conquistar o Oriente Médio. Devemos lembrar também, que Daniel fez a última redação de seu livro durante o império Medo -Persa, de modo que estes termos persas podem ter sido introduzidos nesta ocasião.

E as únicas três palavras gregas no livro de Daniel são descrições de instrumentos musicais (Dn 3.5 – 3ª palavra, 5ªpalavra, 6ª palavra: - harpa, saltério e gaita de foles). Se o livro tivesse sido escrito no período grego seria lógico esperar muito

mais palavras gregas. De fato, o número tão reduzido de palavras gregas é uma prova de que o livro foi escrito antesdestes dominarem o mundo. Como estes instrumentos musicais deviam ser estrangeiros, é natural que seu nome também o fosse.

Os críticos dizem que o livro de Daniel teria indicações de ter sido escrito na Palestina e não na Mesopotâmia. Mas o livro contém informações de primeira mão sobre os acontecimentos Babilônicos que, até recentemente, eram desconhecidos para a maioria das pessoas.

Daniel sabia ser Nabucodonosor o criador da Nova Babilônia (4.30);

Também sabia ser Belsazar o regente na época da conquista pelos Medo-Persas.

Sabia dos escrúpulos dos Persas sobre o fogo e, portanto, o castigo era realizado não por atirar alguém numa fornalha (como os babilônicos fizeram), mas jogar a pessoa em uma caverna onde os leões eram guardados para as caçadas reais.

O livro só podia ter todos estes detalhes sobre a vida na Mesopotâmia se tivesse sido escrito ali.

Aqueles que insistem em afirmar que o livro foi escrito na Palestina, no período de dominação grega, não podem explicar bem todos os detalhes babilônicos e persas da obra.

Também dizem que o livro de Daniel não seria uma obra escrita depois do período dos Macabeus.

Mas as narrativas mostram os heróis (Daniel e seus amigos) cooperando e convivendo com o paganismo babilônico e medopersa.

Muitos estudiosos dizem que o livro não foi escrito na Babilônia, no século VI a.C., mas sim que seria obra de um judeu na Palestina que viveu durante a revolta dos Macabeus, no século II a.C.

As descobertas de manuscritos de Daniel em Qumran parecem apoiar uma data no Sexto Século. As descobertas alteraram datas dos livros de Crônicas e Eclesiastes.

Uma cópia de Daniel, datada de 100-50 a.C., parece impossibilitar a data do Segundo Século.

Flávio Josefo tinha o livro de Daniel em grande consideração, por predizer o futuro com precisão e ainda fixar o tempo do cumprimento. Josefo interpretava Daniel 11-12 em conexão com Antioco Epifânio. Josefo afirma que Alexandre Magno encontrou-se com os sacerdotes judaicos de Jerusalém e estes leram para ele os textos relativos a suas vitórias (Antiguidades 11.8.1ss). Isto nos mostra como Josefo interpretou o livro em sua época.

O Talmude trata o livro de Daniel como um bom modelo de ensino de purificação sacerdotal para o dia da Expiação. Relata também a história de Alexandre Magno que Josefo menciona (Yoma 69).

Hipólito de Roma escreveu um comentário.

Policrônio, Teodoreto, Jerônimo e outros interpretaram o livro em seu

sentido histórico.

Os doutores do judaísmo medieval desprezaram um pouco o livro, provavelmente por causa do grande recurso que ele dava aos cristãos.

A Crítica Racionalista do Século XIX ressuscitou idéias do Século Terceiro, na obra "Contra os cristãos" de Porfírio, um filósofo neo-platônico que afirmou que o livro foi escrito no século II antes de Cristo. Ele não podia acreditar que Deus revelasse o futuro com tamanha precisão.

Em algumas bíblias o livro de Daniel tem 14 capítulos ao invés de 12.

1. Transmissão destas lendas:

Só ocorrem em versões gregas. Por isso é difícil provar que tenha existido um original hebraico ou aramaico por traz do texto. No caso da oração de Azarias e dos três jovens há mais concordância, o que faz alguns postularem um original hebraico.

Assim mesmo, estas histórias quebram toda a simetria e equilíbrio com o qual o livro foi construído, sendo, claramente, adições posteriores, feitas por um autor que não poderia ser Daniel.

2. A Lenda de Susana:

a. A versão de Teodocião. e a Septuaginta divergem sobre a estória, mas concordam as vezes no uso da língua em certos pontos.

b. Deve ter se originado na Palestina (onde era possível aplicar pena de morte), com o propósito de incentivar um melhor procedimento judicial.

c. Alguns datam esta estória na segunda metade do séc. I a.C. (50-0 a.C.).

3. A oração de Azarias e dos três jovens na fornalha

de fogo:

As orações devem ser palestinianas, tardias e originadas em épocas diferentes.

4. Bel e o dragão;

a. Também neste caso a versão de Teodocião e a Septuaginta divergem consideravelmente.

A Septuaginta coloca o título "Extraído da profecia de Habacuque, filho de Jesus da tribo de Levi", no início desta estória.

b. É uma lenda polemizando contra os ídolos dos pagãos.

c. Data: na segunda metade do século I a.C.

Texto tirado desse site com algumas modificações: http://alvarocpestana.googlepages.com/EstudosnolivrodeDaniel1SerCris2007.pdf