C O M E N T A N D O

COMENTANDO

Abrindo o jornal, como o faço todos os dias, entre um ronco e outro da cuia do meu chimarrão, chamou-me a atenção um título: “Reflexões sobre “ser mulher” e “ser homem” hoje”, da colunista, psicanalista e psicóloga Návia T. Patussi Bedin.

Um arranjo de palmas e flores do campo com o núcleo recheado de rosas, rubras e perfumosas, e palmas manuais e aplausos para essa profissional que tem a sensibilidade da mulher unida à inteligência e à ousadia universal do ser humano. Não tenho a escolaridade suficiente para a percepção acadêmica dessas coisas, mas Deus dotou-me de inteligência suficiente para perceber a luta pertinaz da mulher para conquistar os espaços que lhe são devidos por justiça.

Em artigo datado de 9 de março passado, eu mesmo me referi a esse mesmo assunto, comentando que todos os dias do ano são ou deveriam ser dedicados ao reconhecimento da dignidade e da laboriosidade dessa companheira de jornada da vida do homem.

Comenta a colunista que em nosso Estado, apesar do melhor grau de escolaridade e do progresso material (produção e exportação dos bens aqui produzidos), há um déficit de 42 por cento no cômputo geral da remuneração do trabalho feminino. Isso somado às atitudes quase grosseiras do fim do século XIX, de que certos homens ainda conservam resquícios quando o assunto é o sexo feminino, não vão de encontro com as toleráveis em pleno século XXI. A colunista, por conta da sensibilidade e da educação femininas, não usa as palavras adequadas ao comportamento machista ainda persistente nos dias de hoje. Deixa claro, porém, para quem quiser entender, com o eufemismo clássico da inteligência do sexo tido por frágil, que elas estão perfurando barreiras para alcançar o espaço que lhes está reservado, apesar dos pesares. Só não concordo com a palavra “cultura” empregado, quando ela se refere à escolaridade. Talvez seja na cultura açoriana e gaúcha, presentes em todos os segmentos da nossa sociedade catarinense, a causa dessa deficiência de salários e de costumes para com o sexo feminino.

Sou noveleiro. Adquiri esse costume porque estou só quase o tempo todo e as novelas fazem-me um pouco de companhia. Só ligo o aparelho de televisão à noite, pois, durante o dia, tenho outras atividades – leio e escrevo quase que em tempo integral. Mas, para quem quer sempre aprender algo mais como eu, que sou autodidata assumido, não é tão ruim o desenrolar de certos enredos novelísticos. Tem, por exemplo, em “Como uma Onda” os fortes traços da cultura açoriana e, por esses traços culturais dá para notar a mesma luta de conquista dos espaços em meio aos muros colocados pelos machismos dos personagens masculinos. Essa luta, se bem que já deveria ter sido vitoriosa desde muito, deve-se a fatores que ultrapassam os tempos. A própria Bíblia, ainda que mal interpretada, nos dá conta da inferioridade da mulher. E assim na literatura universal de séculos anteriores, os traços e referências destinadas aos usos e costumes entre a relação homem-mulher, são de uma quase sarcástica inferioridade desta. Ninguém ignora que somos na maioria raízes dos troncos advindos do visinho Estado do Rio Grande do Sul. O sulino, sem ser mau, é gabola e machista. Sendo assim, descendemos quase todos de fortes origens em que os homens acham-se no direito de serem “mais” que as mulheres, e assim agem sem o notar, talvez.

Faz-se mister uma conscientização, cujos reflexos serão notados ao natural, paulatinamente. Quem sabe a geração de jovens de hoje, quando lhes vier a maturidade, tenham uma visão mais homogênea e ampla a respeito dessa relação – “ser mulher” e “ser homem” – como queremos todos nós e à qual alude em sua reflexão a colunista psicóloga.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 01/03/2010
Código do texto: T2113586
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