RELIGIÃO E POLÍTICA

Dos três candidatos mais votados para a Câmara Municipal de Goiânia, dois são pastores. O campeão de votos foi o Pastor Fábio Sousa, filho do Apóstolo César Augusto. O terceiro mais posicionado, Pastor Rusembergue, completa a bancada pastoral da próxima Câmara da capital goiana. Ambos pertencem ao PSDB do governador Marconi Perillo. Mas quem acha que os pastores-veredores são um privilégio de Goiânia está enganado.

Como uma verdadeira epidemia, essa tendência de alastrou por todo o País. Belo Horizonte, por exemplo, terá três pastores e um bispo no parlamento: Pastores Vanderlei Miranda (PSB), Carlos (PL) e Henrique Braga (PSDB), além do Bispo Chamborelle (PTB). Belém, capital do Pará, também é um eldorado de pastores-vereadores: Bispo Rocha (PSDB), Pastor Raul (PSL) e Pastor Everaldo Moreira (PDT).

Só entre os eleitos nas capitais brasileiras, a bancada pastoral fez 24 vereadores. Isso, sem contar os suplentes e os candidatos com pouca votação. Antigamente, as igrejas evangélicas tinham como prioridade máxima anunciação do Evangelho e funcionavam como uma espécie de refúgio espiritual para os aflitos. Hoje, as igrejas estão investindo em templos pomposos, em comunicação em massa e, principalmente, na política. As invés de esperar pela intervenção divina para a realização de suas causas, decidiu arregaçar as mangas e resolver seus próprios problemas, garantindo seus representantes em cargos públicos. A sede de poder está superando a sede por novas almas. Antigamente, os pastores eram ordenados para pastorear igrejas e cuidar de rebanhos. Hoje, se encontra mais pastores em comícios do que em igrejas. O que chama a atenção nesse fenômeno é a forma como é conduzido o processo. Enquanto a Constituição Brasileira garante a liberdade de voto, em algumas igrejas evangélicas o retrocesso é latente. Praticamente obrigam os fiéis a votarem em seus candidatos, sob a ameaça do fogo do inferno.

Quem ocupa cargo de confiança, se não fizer campanha para os candidatos do pastor ou mostrar-se contrário à opção, corre o risco de ter sua ocupação cassada. Em outras palavras, demitido. Normalmente, um culto dura de uma hora e meia a duas. Em época de campanha eleitoral, até metade desse tempo pode ser ocupado como palanque eleitoral.

Até três candidatos ocupam a tribuna da Igreja para fazer suas promessas aos fiéis. Em reuniões ministeriais e em escola bíblica, os ganhadores de voto estão presentes. E tome acordos! Promessa de secretaria aqui, barganha ali e o povo dizendo amém. Os ungidos de Deus são impecáveis nesse aspecto.

Qualquer denúncia contra políticos evangélicos é interpretada como calúnia contra o povo de Deus. Não vale a prática da apuração dos fatos. Acredito que Deus deve estar mais preocupado com a luta do seu povo contra a fome, a injustiça e pela pregação da Sua palavra do que com quantos vereadores, quantos prefeitos a igreja está conseguindo fazer.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 02/03/2010
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