DAQUI A DEZ ANOS

O que acontecerá daqui a dez anos? Como será que estaremos até lá? Será que estaremos melhores do que estamos hoje ou o agora é o melhor momento para se aproveitar? Não dá para saber. Basta o tempo virar um segundo que tudo muda repentinamente. O agora passa a ser o depois e o depois passa a ser o agora e nada mais continua sendo como que era antes. Viver é uma incógnita constante que parece nos pôr em cheque todos os dias. Basta ter uma escolha a fazer. Qualquer uma das alternativas nos garantirá um tipo de caminho diferente, mas a outra alternativa, perderemos automaticamente e nunca mais saberemos onde nos levaria.

O melhor jeito, uma vez que não sabemos como será o segundo seguinte é aproveitar o que hoje parece ruim ou feliz, alegre ou triste, cômico ou enfadonho. Pode ser que seja um momento único, não sabemos. Não temos como saber em que volta exatamente estamos na montanha russa, em que momento da nossa vida irão servir a pipoca e o refrigerante numa platéia inteirinha de torcida a nosso favor. Vivemos sem saber que momento deve ser fotografado, bibliografado e vivenciado para sempre. Se as pessoas que amamos hoje, estarão conosco na manhã seguinte, se as chances que temos serão as mesmas em dois anos, se tudo aquilo que sonhamos um dia nos satisfará realmente no período que durar. Em que horas o ponteiro do relógio deve parar, qual a ocasião certa para dar aquele passo à frente e quais das decisões que tomaremos serão as mais sensatas? Os momentos felizes terão valido cada centavo investido, a TV com garantia para duas copas vai chegar pelo menos ao primeiro semestre?

A vida dá mil voltas ao redor do mundo e a cada volta mudamos paulatinamente, de forma física, de pensamentos, de atitudes, de idéias e de planos. Ah! Os planos, se não fossem eles os principais fatores de nossa existência, não teríamos feito absolutamente nada. Tudo começou com aquele desenho, lembra? Daquela figura meio esquisita, mal estruturada, meio sem forma, tentando ser moldada na ponta do lápis sobre o papel meio amassado até ir ganhando sentido para depois se tornar no que vemos hoje. A cada dia a vida cobra mais da gente, quer seja nas alternativas acertadas e também nas erradas insistentemente. Se tivermos mil oportunidades diferentes nenhuma delas no levarão ao mesmo lugar. Cada uma trás consigo um detalhe, um elemento decisivo que termina em outro, em outro e daí por diante, por isso é que é tão importante sabermos o que queremos para vivermos as coisas mais importantes e que jamais se repetirão na vida. Nada é eterno. Que bom, assim podemos nos renovar, melhorar, crescer e até mesmo morrer. Morrer não só na forma física, mas morrer para os nossos erros, nossas falhas, nossa ignorância e na nossa inoperância também, quando poderíamos ter feito algo melhor e não fizemos.

Talvez o “Felizes para sempre” esteja acontecendo agora e estamos deixando ele passar sem perceber, sem aproveitar enquanto o sorvete desliza sobre o creme de chocolate. Ambos derretem e podem perder a consciência que lhes fazem únicos. Não há como parar o tempo nos melhores momentos da nossa vida, assim como não há como evitar que ele, o tempo não mude tudo a nossa volta. Dá solidão só de pensar que podemos chegar ao final de nossa existência sem as pessoas que conviveram conosco em todas as nossas fases, nas rodas de amigos, nas reuniões de família, nas oportunidades que cruzamos com pessoas e elas passaram a participar do nosso dia-a-dia. Dá medo de viver num mundo aonde tudo é imprevisível, onde não é sensato optar pelo sensato, mas pelo que é mais oportuno e está mais a mão. “Todo mundo é parecido quando sente dor”, já dizia a velha canção no rádio, no entanto não é somente na dor, mas também nas perdas, nas despedidas, nas separações e na divisão e dividir é dar lados para o que um dia já foi inteiro.

O tempo participa de tudo, como um observador voraz que vai tragando tudo ao redor e tornando os segundos presentes em passados remotos. As tecnologias, o mercado consumista, a pressa em chegar à frente de todo mundo e principalmente a ansiedade tem transformado a humanidade num ciclo descartável. Hoje já não sabemos quais valores devemos seguir. Se ainda é licito optar pela honestidade, se vale a pena brigar por alguma ordem ou se a justiça realmente é comum para todos. Ainda se matam pelos mesmos motivos, no entanto se morrem por outros. A solidão atual das cidades grandes aumentará com o passar dos anos, e nem mesmo a saudade resistirá, uma vez que a novidade é o apelo pelo qual seguimos sem notar. Nunca os solitários estiveram tão em evidência nos dias de hoje, nunca se ouviu falar tanto em depressão como agora, nunca tantos brinquedos foram esquecidos tão depressa. Dá medo do tempo, mas é ele quem define a nossa aparência na frente do espelho e não quer nem saber se gostaremos ou não de nossos cabelos brancos, de nossas rugas ao redor dos lábios, da perda de sono na madrugada, na solidão das horas.

Ainda vale a pena tentar e mudar o teto que nos cobre, a ansiedade que nos mata, a pressa que nos faz cegos diante dos detalhes mais importantes. Ainda dá tempo de amamos às pessoas que nos cercam de carinho, dos amigos sinceros que nos atendem quando mais precisamos de um ombro, na caridade das pessoas e até na gentileza de desconhecidos. Ainda dá tempo de nos perdoarmos, de nos desculparmos pelas falhas cometidas, pelas decisões não tomadas, pelos braços cruzados, antes que eles se cruzarem em nosso peito diante de uma platéia que cochichará uns aos outros e avaliaram se fomos ou não fomos felizes.

Se o “Felizes para Sempre” for hoje, então seria melhor não perder esse trem que sai agora, como os que perderam a juventude sem saber que estavam abrindo mão do que lhes havia de mais bonito. Assim, saberemos se daqui a dez anos nossa existência terá valido a pena para alguém e que quando partirmos desse mundo esse alguém se lembrará da gente como uma saudade a ser sentida e não como um banner anunciando o final de uma promoção.

Sejamos felizes enquanto não inventarem comprimidos de felicidade para tomarmos quando bater a tristeza, porque melhor do que entender que viver realmente vale à pena é não nos viciarmos em comprimidos que nunca darão tudo.

O que seremos daqui a dez anos?

Felizes. Certamente felizes.

Joel Thrinidad
Enviado por Joel Thrinidad em 04/03/2010
Reeditado em 04/03/2010
Código do texto: T2119238
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