A Presença de Interesses Particulares na Obra de Machado de Assis Durante a Transição do Período Imperial para o Republicano.
O advento da república é relatado em Esaú e Jacó como uma passagem literária bem interessante, ocupa os capítulos 49, 62 e 63 e envolvem o atordoado Custódio e o conselheiro Aires, que é um dos personagens centrais do livro, e relata o dilema de Custodio, dono da Confeitaria do Império, que diante do péssimo estado de conservação da tabuleta em que constava o nome do estabelecimento manda fazer uma nova, mas no dia que a placa ficou pronta ocorreu o advento da república, que era fruto de uma mutação inesperada e parecia não passar de cenografia.
Custódio busca Aires, que é muito sábio, para pedir um conselho sobre a manutenção do nome de sua confeitaria ou se trocava por Confeitaria da Republica. Aires opina a favor da última, a troca, mas o dono da confeitaria teme que a mudança de um para o outro sistema de governo não fosse duradoura. Que colocada à nova tabuleta e restaurada a monarquia o seu comércio sofresse alguma represália. Aires concorda com o medo do amigo e sugere Confeitaria do Governo, mas o confeiteiro achou problemas nessa sugestão pois temia que surgisse forte oposição monarquista e esta, furiosa, pensar que a confeitaria apoiasse a republica. Então Aires sugeriu manter o nome Confeitaria do Império escrita em palavras pequenas (o nome império), mas Custodio achou que não poderiam fazer diferença, além disso a placa já estava paga e não pagaria para repintá-la toda, pagaria somente a metade inadequada, a do império. Aires propôs Confeitaria do Custódio pois o confeiteiro já era bastante conhecido na região, mas mesmo assim ele não se deu por satisfeito e achou melhor esperar um ou dois dias para ver o que ia acontecer.
Custodio representa com muito humor a figura do burguês que tem receios de obter prejuízos provenientes da mudança do regime governista no Brasil, ou seja, o interesse particular começa a impor-se contrapondo os seus ideais.
Então a decisão que custodio tomou, em relação à troca do nome de seu estabelecimento comercial, põe a prova a consciência moral do personagem, pois o mesmo teve que assumir as conseqüências, de ter optado pela troca do nome, perante a sociedade por isso tanto receio do mesmo com a mudança.
— Não digo que não, e, a não ser a despesa perdida... Há porém, uma razão contra. V. Exª sabe que nenhum governo deixa de ter oposição. As oposições, quando descerem à rua, podem implicar comigo, imaginar que as desafio, e quebrarem-me a tabuleta; entretanto, o que eu procuro é o respeito de todos.
O que custodio fez foi buscar entre varias possibilidades aquela que tinha o caminho mais fácil e sem problemas, para a manutenção de “sucesso” de seu estabelecimento comercial, passando por cima de um código de ética ao qual possuía, ou seja, o personagem foi individualista e egoísta ao se ajustar ao regime ao qual conquistava o poder.
Esse episódio demonstra, com muita ironia e humor, que a mudança de regime no Brasil, não passou de uma troca de nome (tabuleta), para atender mais a interesses particulares de grupos do que aos anseios gerais da nação. Nesse caso Custodio seria uma metonímia do brasileiro, que se ajusta ao poder só para dele se favorecer.