MAS, PARA QUE SERVE A FILOSOFIA?

Para nada.

Eis a resposta plausível.

A Filosofia “não serve” para nada por que não é serva, é absoluta. Assim como o olho é fundamento da visão, a filosofia é o fundamento de todo interrogar. E mais: é a essência de todo fundamento.

O erro inicia-se em querer avaliá-la de fora, num campo estranho à própria Filosofia. É como julgar o supremo tribunal que é a fonte de todo julgar.

Em nossa cultura contemporânea, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver finalidade prática, utilidade imediata.

Aristóteles, há 2.400 anos, ao contrário desse pensamento reducionista, primava o conhecimento pelo conhecimento. Ele hierarquizava os saberes: primeiro as ciências teoréticas, que cuidavam do estudo das causas primeiras, da essência de tudo o que há. Depois as ciências comportamentais (política e ética). Por fim, as ciências produtivas, mecânicas (as úteis nos dias de hoje). O fundamental para ele era cultivar a essência do homem. E isso só seria possível pela Filosofia.

Para o idealista alemão Schelling (1775 -1854), falar da utilidade da filosofia é contrário a dignidade dessa ciência. Aquele que se prende a esse tipo de questão certamente não está à altura de possuir a idéia de Filosofia. A Filosofia se desobriga por si mesma de toda relação com a utilidade. Ela só existe em função de si mesma. Existir em função de outra coisa seria de imediato destruir sua própria essência. A Filosofia é sempre fim, nunca pode ser reduzia à categoria de um simples meio.

Agora, se criticar o caminho trilhado pelas idéias dominantes e poderes estabelecidos for útil; se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se buscar compreender a significação do mundo for útil; se conhecer o sentido das criações nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar os meios para sermos conscientes de nossas ações numa prática que almeja a liberdade e a felicidade for útil, então a Filosofia é o mais útil dos saberes de que o homem é capaz.