Publicar um livro

Quando um autor inicia sua carreira literária, experimenta uma sensação de busca e ao mesmo tempo, descaminho. Para alguns, a minoria dos novos artistas e, maioria dos que chegam a algum lugar, sempre existe alguém que possa facilitar a entrada no mundo editorial; e não necessariamente se leva em conta a qualidade ou conteúdo dos textos, às vezes é a simples menção de um nome e o que ele fala àquela realidade. Para outros, que não têm a quem recorrer, o caminho é longo e sinuoso. Empreende-se muito e o retorno é quase invisível (e não se trata de retorno financeiro, porque a princípio, em regra, ele não existe e o que se busca é divulgar o trabalho). Entre os inúmeros desafios, destacam-se as dificuldades para se obter um contrato de edição e os altos custos que demanda uma publicação independente.

Porém, embora tudo pareça inviável, o desejo de ser lido não conhece dimensões. Além disso, chega um tempo em que as obras já não se contentam em viver silentes e falam por si mesmas.

É uma voz incessante, intensa; o som de frases filosóficas, apaixonadas, realistas ou simplesmente frases, com histórias que nascem interiormente e buscam títulos e personalidades marcantes. Não é propriamente uma pretensão de fama, mas de ter algo a mostrar, a ser dito. E também de rebeldia diante das portas fechadas. E é assim que os textos ganham a esquina. Pode ser numa impressão simples ou mesmo sofisticada. Pode ser ainda na versão virtual.(Trecho do meu TCC).

Quando reviso livros para autores independentes, a sensação é a de que estou revisando um sonho, porque investir num livro requer coragem, esforço e autoconfiança. A partir daquele momento, a história se despede do arquivo digital – ou da gaveta - e se torna pública (ainda que não ultrapasse cinco ou dez leitores, infelizmente, isso acontece). Sabemos que no Brasil não é fácil bancar a edição de um livro, não é mesmo?

Os custos são altos. Se o exemplar não pertence a uma editora de renome, não ocupa um lugar nas “gôndolas” ou estantes das livrarias. Sem publicidade, fica difícil alcançar o leitor. Eu posso dizer por experiência própria.

Depois de muito refletir, decidi bancar minha primeira publicação. Passei meses e meses debruçada sobre o projeto. Então, oba! Consegui concretizá-lo e deixei meus livros em uma charmosa livraria de Belo Horizonte. Nossa, como eu estava ansiosa! Meu lançamento lotou, o que me deixou surpresa e feliz. Parecia um começo promissor. Alguns dias depois, amigos que não compareceram à “noite de autógrafos” foram até essa mesma livraria para comprar o livro e o vendedor não encontrou nenhum exemplar. Provavelmente, estavam empilhados no fundo de um armário qualquer, já que me devolveram depois.

Na época, eu questionava o porquê de tanta dificuldade. Fiquei dividida. Não sabia se valia a pena insistir ou se o melhor mesmo era desistir e confinar meus textos ao computador. Depois de um tempo, deixei de lado as reflexões. Fui publicando por conta própria e vendendo sob demanda, no boca-a-boca.

Estava cansada de enviar originais para avaliação, originais que retornavam intactos para as minhas mãos. Dos que não voltaram, nem obtive resposta que, diga-se de passagem, consistia em cartinhas padronizadas. Cheguei a receber uma delas recusando o original de outro autor.

Entendo que originais se acumulam em uma editora. São muitos autores, gêneros , ideias, divagações. Como revisora de textos, sei que muitos escrevem por escrever, não têm o menor cuidado com a redação, não verificam os dados que mencionam e acabam por comprometer títulos que teriam, sim, alguma chance de sucesso. Mas também entendo que faltam oportunidades para os novos talentos. A lei de incentivo a cultura não alcança a maioria dos iniciantes. Já vi autores com dificuldades de preencher o formulário e, imaginem, editoras cobrando cinco mil reais para elaborar um projeto. Existem pessoas - físicas e jurídicas - que se aproveitam do patrocínio cultural para obter vantagens.

Assim, cheguei à conclusão de que não adiantava pontuar as limitações.

Hoje eu costumo repetir para mim mesma: escrevo porque não saberia viver sem escrever. Isso basta. Não espero que meu livro seja "encapado" por uma grande editora e se torne um best-seller, mas fico feliz por poder, independentemente, levar meu trabalho a pessoas que o apreciam.

Se publicar um livro é algo com que vem sonhando desde a infância, não adianta reclamar, chorar ou rasgar seus textos. Mãos à obra! O importante é fazer o seu melhor e acreditar no que faz. Se quer um conselho, não se esqueça da revisão, nem de resguardar seus direitos autorais. Tenha em mente que promover o seu trabalho exige paciência, dedicação, investimento. Nesse aspecto, a internet é uma ferramenta e tanto. Em 2009 eu me surpreendi ao ver a quantidade de blogs divulgando novos autores nacionais. Parabéns a todos pela iniciativa. Existem resenhas por aí dignas de nota. Aguçam a nossa curiosidade de leitor, promovem a literatura contemporânea e tocam profundamente o coração de um escritor.