B. B. KING - UM GRANDE REINADO



Sempre fui um aficionado pelo jazz, principalmente o jazz instrumental interpretado pelas famosas “big bands” americanas. Count Basie, Harry James, Sid Ramin e Stan Kenton estão entre as minhas favoritas. Porém, sinto-me na obrigação de enaltecer um maestro que gravou com sua orquestra alguns arranjos jazzísticos de tirar o chapéu e merecer o respeito de quem aprecia esse estilo de música. Falo de Henry Mancini, que ficou conhecido mundialmente depois que passou a elaborar trilhas sonoras de filmes famosos, como Bonequinha de Luxo, Charade, Hatari, A Pantera Cor de Rosa, além de alguns seriados para a TV, como Peter Gunn, por exemplo.

 
         O “blues”, forma musical que se fundamenta no uso de notas tocadas ou cantadas numa frequência baixa, não fazia muito a minha cabeça. Não vou me estender sobre o ritmo em si, pois a internet está repleta de citações a respeito. Apenas, como curiosidade, vale registrar que o considerado primeiro blues da história chama-se “St. Louis Blues”, composta no ano de 1903.
 
         Até que em 1997 uma grande amiga me “apresentou” a B. B. King, mais especificamente com a música “Guess Who”. Mais à frente voltarei a falar sobre essa música em particular.
 
         Riley Ben King nasceu em uma plantação de algodão, em 16 de setembro de 1925, no Mississipi, Estados Unidos. Teve uma infância pobre e difícil. Iniciou a carreira musical em 1947, e em pouco tempo já estava fazendo diversos shows pelo país. Em 1956 contabilizou 342 subidas ao palco. O nome artístico resulta da abreviatura de Blues Boy King, apelido ganho na época em que trabalhou em um programa de rádio dedicado ao blues. Além da fama, coleciona prêmios, entre eles o cobiçado e prestigiado Grammy.
 
         Mas, por que estou escrevendo sobre B. B. King? Porque recentemente ele fez alguns shows no Brasil, empunhando sua inseparável guitarra e com uma competentíssima banda que o acompanha há 30 anos. O show em São Paulo, com a casa lotada e sem mesas vagas, foi emocionante, fazendo lembrar o milagre da multiplicação, numa referência ao que ele disse certa vez: “eu posso fazer uma nota musical valer por mil”. E ele faz isso mesmo. É impressionante seu desempenho sobre um palco. Isso sem falar no carisma, na simpatia e no seu jeito bem humorado que sempre cativaram o público de várias partes do mundo. Incontáveis as vezes em que sua majestade foi aplaudida de pé. Apesar dos 84 anos (85 em setembro), a voz e a pegada na guitarra estão intactas.
 
         B. B. King é um galanteador. Elogiou as mulheres e fez questão de ressaltar que elas são a razão de sua vida. “A segunda é a minha Lucille e a terceira é o blues”.
 
         Tudo sugere que esta pode ter sido sua última turnê, pois dificilmente terá condições físicas para suportar as viagens e a dura rotina de shows. Mas, como disse recentemente aos seus súditos, “I never say never” (Eu nunca digo nunca), tudo é possível.
 
         O mestre não usa equipamentos eletrônicos para os efeitos sonoros que tira da guitarra. Tudo é feito no melhor estilo braçal. Ele tocou por mais de duas horas, que se transformaram em momentos de magia, técnica e história. Sua importância para a música já está eternizada nos discos e na sua própria trajetória. John Lennon disse certa vez que gostaria de tocar guitarra tão bem quanto ele e George Harrison (o melhor músico dos Beatles) sempre foi seu fã incondicional. Eric Clapton também o admira por demais, a ponto de terem gravado um disco juntos, onde Eric aparece na capa dirigindo um conversível, tendo o rei e Lucille como passageiros no banco de trás. O disco chama-se “Riding With The King” e é uma obra prima. Outro disco imperdível é o que ele gravou com Diane Schuur e que se chama “Heart To Heart”. Ouçam “Freedom”, “I Can’t Stop Loving You” (nessa Randy Waldman dá um show no piano) e “It Had To Be You” (entre outras) e sintam se não tenho razão.
 
         A música “Guess Who” (J. Belvin) faz parte de mais de um disco de B. B. King, mas é no álbum “Live At The Apollo” que ganha uma força irresistível. A introdução “falada” por ele, fazendo menção à sua Lucille é emocionante (... B. B. King and Lucille, we love you). O arranjo da música é maravilhoso onde se destaca o piano de Gene Harris e a marcação discreta e corretíssima da bateria de Harold Jones. Desnecessário dizer o que King faz com a guitarra. Considero “Guess Who” e, mais especificamente esse arranjo, como sendo uma das músicas que marcaram a minha vida. Procurem ouvi-la. Acredito que irão gostar.
 
         Já chegando ao fim deste texto, vou relatar o caso de amor de B. B. King com Lucille. É sempre de bom tom sermos generosos com quem nos é fiel. B. B. King não fugiu à regra e homenageou sua companheira inseparável. Chama-a carinhosamente de Lucille. Uma tradição que começou no inverno de 1949, quando se apresentou num salão de danças em Arkansas. Para aquecer o ambiente, no centro era colocado um barril com querosene. Durante o show, dois homens começaram a brigar, o barril virou espalhando chamas para todos os lados. Já lá fora, King percebeu que tinha deixado sua guitarra de 30 dólares no salão. Não teve dúvida. Voltou para reaver a Gibson acústica. Escapou por um triz, mas duas pessoas perderam a vida. No dia seguinte ficou sabendo o motivo da troca de sopapos: uma mulher chamada Lucille. A partir desse momento, passou a batizar suas guitarras com o nome Lucille. Deve ser ressaltado que Gibson, um fabricante de guitarras do modelo que King adotou, nomeou-o embaixador da marca Gibson em todo o planeta.
 
         Se ele vai ou não vai parar depois dessa turnê, ainda não se sabe. Independente do que aconteça e por tudo o que já fez pela música, B. B. King já tem o direito mais do que justo de pensar na merecida aposentadoria.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 27/03/2010
Código do texto: T2161575
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