A POESIA BOCAGIANA DE MOYSÉS SESYOM

     Nascido no sitio Baixa Verde, no município de Caicó/RN, no dia 28 de julho de 1883, Moysés Lopes Sesyom foi considerado um dos maiores poetas populares do nordeste. Foi professor até 1911 em Caicó, quando se mudou para a cidade de Assu/RN, onde viveu grande parte da sua vida e veio a falecer pobre, boêmio e doente em 06 de março de 1932, aos 49 anos de idade..
     O folclorista Luiz da Câmara Cascudo no seu livro "O Livro das Velhas Figuras”, volume 4, diz a respeito dele: "sem saber, era poeta verdadeiro, espontâneo, inesgotável, imaginoso, original". As suas glosas caracterizam-se por serem picantes e pela irreverência, razão pela qual ficou também conhecido como “O Bocage Potiguar”.
     No filme “O Homem que Desafiou o Diabo”, adaptação do livro de Nei Leandro de Castro “As Pelejas de Ojuara”, produzido por Luiz Carlos Barreto e dirigido por Moacyr Góes, que tem no elenco principal os atores Marcos Palmeira e Flávia Alessandra, o ator Rui Resende interpreta o personagem Moysés Sesyom. Recita um dos versos mais conhecidos de Sesyom:

Bebo, fumo, jogo e danço
Sou perdido por mulher

Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer,
Mas, enquanto eu não morrer
- Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canso,
Me censure quem quiser...
Enquanto eu vida tiver
Cumprindo essa sina venho,
Além dos vícios que tenho,
Sou perdido por mulher!...

Numa certa noite, por está embriagado zanzando pelas ruas de Assu, um cabo da policia tentou levá-lo para dormir no xadrez. Nesse momento chegou um sargento da policia, que era o delegado da cidade, e, sabendo que Sesyom era um homem de bem e muito estimado, repreendeu o cabo e mandou que ele relaxasse a prisão. Sesyom ali mesmo fez os versos:

Sargento as suas divisas
Deus terá de protegê-las
Dos braços irão para os ombros
E aí serão estrelas.
E deus há de me dar vida
Para que eu possa vê-las

O Cabo que aí está
Nunca será um tenente.
O galão que ele terá
É um galão diferente:
È um pau com duas latas,
- Uma atrás, outra na frente.

Quando ele queria xingar não economizava palavras. Certo dia chateou-se uma determinada pessoa da cidade e fez os versos:
A sua raça é safada
Desde a quinta geração
Seu avô foi um cabrão
Sua avó, puta de estrada
Sua filha, amasiada
Prostituta uma netinha
Uma irmã que você tinha
Esta pariu de um criado
Seu pai foi corno chapado
Sua mãe foi fêmea minha.

Ao viajar a cavalo, e já ter tomado alguns goles de cachaça, deparou-se certo dia com uma festa de casamento. Depois de aceitar mais uma dose de cachaça, perguntou o nome dos noivos e despediu-se fazendo a louvação:

Lá vem a lua saindo
Tão alva como açucena
Infica o pau Mané Lopes
Balança o cu Madalena.

Um dos versos de Sesyom mais conhecidos e recitados na região foi feito aproveitando um pequeno acontecimento em Assu.

O peido que a doida deu
Quase não cabe no cu


Isto ontem aconteceu
Debaixo da gameleira.
Foi um tiro de ronqueira,
O peido que a doida deu.
A terra toda tremeu,
Abalou todo o Assu,
Ela mexendo o angu,
Puxou a perna de lado.
Deu um peido tão danado
Quase não cabe no cu.

Bibliografia:
AMORIM, Francisco. Eu Conheci Sesyom. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2002.
PEDROSA, José. Versos Sacânicos. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2003.