ALEGRIA NA PÁSCOA

     O dia estava bonito, claro e com sol. Era uma manhã de temperatura amena em que o orvalho caíra com mais intensidade deixando umedecidos os carros e as vidraças das janelas das casas. As folhas, as que ainda estavam nas árvores e nos arbustos, também estavam delicadamente molhadas pela tênue umidade da madrugada. As pessoas caminhavam distraidamente pela pracinha enquanto as crianças na sua ingenuidade brincavam juntas com seus amiguinhos. Eu havia saído de casa como faço pelas manhãs para minha caminhada habitual e a pracinha fazia parte do meu trajeto. Lá eu sempre paro um pouco depois da caminhada para conversar com amigos no barzinho da esquina enquanto bebericamos um café. Os pássaros urbanos gorjeiavam e buscavam comida alheios ao que acontecia em redor.

    Não pude deixar de notar naquela manhã que, diferente das outras manhãs dominicais, enquanto as crianças brincavam, uma menininha isolava-se em um banco de madeira perto do laguinho dos patos. Ela não aparentava estar alegre, pelo contrário, seu semblante era de tristeza, podia-se notar à distância. Meio sem jeito, aproximei-me e como quem não quer nada perguntei: o que faz uma menininha tão bonitinha ficar assim com esse ar de tristeza em pleno domingo? Ela não respondeu. Insisti e perguntei: posso saber por que você está assim tão triste?Virando a cabeça lentamente e levantando os olhos que até então estavam fixados para o lago, ela respondeu: Hoje não é domingo de Páscoa? Respondi que sim. Ela então continuou: e não é no domingo de Páscoa que as crianças ganham ovos de chocolate do coelhinho da Páscoa? Perguntei a ela a sua idade e ela respondeu: tenho seis anos e moro naquela casa ali em frente. Brinco aqui todos os dias com meus irmãos mais hoje estamos tristes e eles nem quiseram vir para a pracinha. Perguntei o motivo e ela respondeu: Meu pai está desempregado e este ano não ganhamos ovos de Páscoa como as outras crianças.

    Fiquei calado alguns instantes, enquanto ela voltava a fitar o lago com os olhos transbordando lágrimas. Compreendi que na igenuidade dela e dos irmãos a alegria de receber ovos de Páscoa só poderia ser comparada a alegria de receber presentes de Natal. Perguntei a ela se podia falar sobre a Páscoa e ela acenou afirmativamente com a cabeça que sim. Então comecei a falar.

    A Páscoa é um evento religioso cristão, normalmente considerado pelas igrejas católicas como a maior e a mais importante festa da Cristandade. Na Páscoa os cristãos celebram a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação.

    A tradição do Coelhinho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães entre o final do século XVII e o início do século XVIII. No Antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da antiguidade consideravam o coelho como o símbolo da lua, portanto, é possível que ele tenha se tornado símbolo pascal devido ao fato de a lua determinar a data da Páscoa. O certo é que os coelhos são notáveis por sua capacidade de reprodução, e geram grandes ninhadas, e a Páscoa marca a ressurreição, vida nova, tanto entre os judeus quanto entre os cristãos. Na primavera, lebres e ovos pintados com runas eram os símbolos da fertilidade e renovação a ela associados. A lebre (e NÃO um coelho) era seu símbolo. A lebre pode ser vista na lua cheia e, portanto, era naturalmente associada à lua e às deusas lunares da fertilidade. De cultos pagãos originou-se a Páscoa , que foi absorvida e misturada pelas comemorações judaico-cristãs.

    Existe uma lenda de que uma mulher pobre coloriu alguns ovos de galinha e os escondeu, para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram os ovos, um coelho passou correndo. Espalhou-se, então, a história de que o coelho é que havia trazido os ovos.

    Na Páscoa, em grande parte dos países, é comum a prática de pintar-se ovos cozidos, decorando-os com desenhos e formas abstratas. Este costume ainda é muito comum, embora que em outros países, os ovos tenham sido substítuidos por ovos de chocolate. No entanto, o costume não é citado na Bíblia. Portanto, este costume é uma alusão a antigos rituais pagãos. 

   Bem, acho que falei até demais e que você nem entendeu muito do que falei. Mais quero que se alegre e aproveite seu dia tá bom? E espero que você não fique triste por seu pai não ter podido comprar ovos de Páscoa para você e seus irmãos. Ela respondeu que sim, então levantei-me e me afastei.

   Fui caminhando devagar e pensando na tristeza da menina até que cheguei próximo a um supermercado e resolvi entrar. Logo saí de lá com uma caixa contendo vários ovos de Páscoa e segui para a casa da menina sem que ela percebesse. Entreguei a caixa ao pai dela que me atendeu à porta e ele não sabia o que fazer para agradecer. Eu disse: não precisa agradecer. Vou ficar do outro lado, na pracinha para ver a alegria de seus filhos ao receber os ovos de Páscoa. Esta será minha recompensa: vê-los felizes. 

   Sentei-me em um banco sob uma árvore e enquanto folheava um jornal, olhava de vez em quando para aquela casa. Era visível a felicidade das crianças recebendo os ovos de Páscoa. Confesso que fiquei feliz também.  Compreendi o tempo que perdi, em que poderia proporcionar a alegria para outras pessoas e não o fiz, enquanto me trancava no meu mundo materialista e individualista. Percebi quanto nos pode fazer feliz o sorriso de uma criança.

*Este texto está protegido por lei. Reservados os direitos autorais.
Proibida a cópia ou a reprodução sem minha autorização.
Visite o meu site:
www.ramos.prosaeverso.net
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=3203
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 04/04/2010
Reeditado em 06/04/2010
Código do texto: T2177202
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.