Todo Adolescente É Besta

Se tivesse de passar uma lição importante para os meus alunos, depois desses 33 anos de magistério, ela seria esta: Todo adolescente é besta.

Calma, não se ofenda, por favor. Primeiro, porque besta aqui não está no sentido literal da palavra. Segundo, porque falo com a autoridade de quem já foi adolescente e, portanto, também muito besta. É possível que a palavra todo contenha algum exagero. Então fiquemos com noventa e nove por cento dos casos.

A afirmação antipática acima não é nova. O famoso psiquiatra Flávio Gikovate já disse isso de outra maneira num excelente artigo publicado na revista Cláudia, em 1992, que aparece também num livro didático da oitava série. Ele afirma que, na tentativa de esconder sua insegurança, adolescentes e jovens se revestem de uma independência e uma auto-suficiência que não têm. Sentem-se, com isso, onipotentes. Sabem de tudo, fazem tudo melhor. Os outros, inclusive pais e professores, são quadrados, alienados, enfim, estão por fora.

Esse “estado de graça”, entretanto, é que fará os adolescentes caírem do cavalo. E por quê? Porque são esses super-heróis que se envolvem em acidentes graves, dirigem embriagados, andam de moto sem capacete, transam adoidado sem nenhum freio moral e muito menos camisinha e se viciam em drogas. Afinal, dizem eles, nada de mal vai acontecer.

Numa perspectiva menos dramática, acontece a seguinte evolução, ou involução, dependendo do ponto de vista. A criança que via seus pais como heróis intocáveis, começa a vê-los, na adolescência, como chatos e ultrapassados, incapazes de acompanhar o mundo e suas novidades. Enfim, um saco, no dizer desses seres especiais bafejados pelos deuses.

A palavra do psiquiatra parece ser dura demais, mas é bem realista. Se você não se enquadra na situação acima, parabéns. Mesmo assim, apesar de grande parte dos adolescentes não demonstrar essa ingênua presunção pintada acima, faça uma auto-análise sincera e desapaixonada, pois no fundo a maioria é exatamente assim. Mesmo que não digam, pensam e sentem-se assim.

A boa notícia, em compensação, é que os adolescentes têm excelentes qualidades, características da própria fase. São fortes, têm energia e disposição para mover o mundo e executar projetos que nós adultos nem sempre temos gana de realizar. O que precisam fazer é carrear toda essa energia para o bem, para produzir o novo, enfim, transformar sua resmungação em indignação inteligente e produtiva.

Se você é adolescente, acha que as críticas acima são injustas e pertence àquela minoria que não é besta, o desafio que eu lhe proponho é este: pare de protestar apenas por protestar, de criticar sem apresentar soluções e de reclamar dos professores e dos mais velhos. Adote a seguinte filosofia: vou fazer melhor. E faça efetivamente. Não existe maior alegria para o professor do que ver seu aluno crescer a ponto de superar o próprio mestre. É uma gloriosa derrota, se assim podemos dizer. Infelizmente é quase impossível ver isso ultimamente. Você tem todo o ano de 2009 para provar que Flávio Gikovate e eu estamos errados em relação à frase-título acima.

Por fim, talvez ainda questione: E para os adultos, nenhuma crítica? Afinal não fazem tantas besteiras, às vezes até maiores que as nossas?

Ah, já ia me esquecendo de dizer: console-se, os adultos às vezes são piores. Noventa e nove por cento deles não são apenas bestas, são metidos a besta.