DEFICIENTES MORAIS

“Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos”.

Martin Luther King

Domingo de sol.

Busco uma vaga no estacionamento do clube quando, à minha frente , um veículo pára na vaga reservada aos deficientes físicos.

Continuo minha busca e paro logo depois numa das inúmeras vagas existentes.

Mas , pasmem, quando passo pelo suposto deficiente físico, descubro que a deficiência dele é moral: ele não tem nenhum tipo, pelo menos visível, de deficiência física.

Fico envergonhado de ser brasileiro.

Lembro-me de um texto que tem transitado pela Internet, em que um brasileiro conta sua experiência vivida na Suécia, onde um funcionário da Volvo, seu amigo, mesmo chegando mais cedo, e com o local vazio, estaciona seu carro longe da entrada da fábrica, e se propõe a caminhar um longo trecho a fim de que seus colegas que chegarem depois tenham vagas desocupadas, e, assim , não cheguem atrasados ao local de trabalho: invejável cultura coletiva.

Esses espertinhos, seguidores da Lei de Gérson, não sabem o quanto é asqueroso e triste ver um adulto desrespeitando um item tão básico da educação: são ladrões, frutos de uma estrutura deficiente, que se apoderam do direito alheio.

É incrível, também, constatar que, em geral, esses infratores são proprietários dos melhores carros e, possivelmente, defensores dos políticos que hoje se locupletam com “beiradas” , mensalões e golpes de todos os tipos, corruptos e corruptores assumidos que, se abordados , tentarão comprar consciências ou amedrontar funcionários que , porventura, tentarem cumprir suas obrigações de zelar pelo cumprimento da lei e das normas vigentes.

Algumas situações chegam a ser ridículas, como o caso em que uma dessas jovens mal educadas desce do carro, olha para um lado e para outro, finge mancar durante alguns metros, e, depois, sentindo-se segura e esperta, sai andando normalmente: aleijão moral oriundo, possivelmente, de lares aos quais a Super Nanny não teve acesso.

Penso que é obrigação moral de clubes e shoppings zelarem pelas vagas especiais (inclusive para idosos) estabelecidas por eles, a fim de evitar um fato estatisticamente intrigante: é incrível como aumenta a presença de deficientes físicos no clube, em dias de muita freqüência e, ou de chuva.

É preciso parar de brincar, de fazer de conta, de fechar os olhos quando normas são desrespeitadas, é preciso dar pleno apoio às pessoas que cuidam dos estacionamentos e que flagram “otoridades” que, por serem amigos do rei, se sentem imunes às normas que, para eles, só servem para os outros.

Enfim, não estamos na Suécia, mas penso que ainda é possível viver como irmãos.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

EX-PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 23/08/2006
Código do texto: T223701