NOVA TABELA : A DA OAM

"Quem dentre vós quiser ser grande, seja o servidor de todos!"

Jesus Cristo

Sou professor de Matemática, e escrevo poemas e artigos nas horas vagas.

É com naturalidade que somos solicitados, por parte de amigos e parentes, menos dotados nas artes matemáticas e literárias, a darmos uma mãozinha nas horas de aperto, resolvendo um problema de vestibular, escrevendo um artigo para denunciar alguma injustiça e até compondo poemas e acrósticos para serem colocados em convites de festas de quinze anos ou casamento.

Convivo, também, com um grupo de fotógrafos, e é comum alguém pedir a eles uma foto, ou mais, a fim de utilizá-la em um cartão, capa de livro, ou mesmo para ficar como lembrança. Em geral a foto é doada com o maior desprendimento, e , às vezes, nem um obrigado recebe o artista das luzes e sombras.

Tenho também uma parceria já de longos anos, com a professora doutora, Vera Lúcia Hanna, que , quase semanal e gratuitamente, lê meus textos e poemas, que , por minha vez, deixo publicar na mídia e em livros, sem receber, pelo trabalho, um centavo sequer.

Penso que esse tipo de gente — que parece entender que vivemos para servir , apesar de termos, como todo mundo, que sobreviver na difícil batalha pela sobrevivência — está se tornando cada vez mais uma raridade.

Pois vejamos.

A mesma boa vontade não temos, eu e alguns conhecidos meus, encontrado junto a alguns advogados que, por muito tempo consideramos nossos amigos: os amigos a gente conhece nos momentos difíceis.

Guardadas raras exceções — não por acaso, destacadas entre grandes nomes da advocacia ribeirãopretana, como por exemplo o Dr. Rubem Cione, Dr. José Vicente, Dr. Francisco Ripamonte e sua esposa Dra. Fernanda Ripamonte, e outros — alguns neo-advogados iniciam a resposta (a um pedido de ajuda e orientação de um amigo desesperado, ignorante e perdido no emaranhado do conhecimento jurídico), olhando para você com um olhar de quem pergunta : Quanto dinheiro você tem ? Onde você pode conseguir mais ? Você tem alguma coisa que possa vender? E prossegue o diálogo com a frase: de acordo com a tabela da OAB meus honorários serão de ....

Em geral, esses senhores não colaboram, principalmente, com seus parentes, alegando até, por conveniência, motivos éticos para não o fazer, fugindo, assim, ao incômodo de dedicar alguns minutos de sua existência para servir gratuitamente a alguém que, em muitos casos, já lhe prestou, ou a um parente seu, favor em algum momento do passado.

Diante desses fatos, estou pensando seriamente em criar uma nova tabela, a ser utilizada quando esse tipo de gente vier pedir-me favores: a tabela da OAM – Ordem dos “Amigos” Mercenários.

Mas acho que não vou conseguir.

Creio que recebemos, gratuitamente, dons de Deus, e que temos, em alguns momentos de nossa vida em sociedade, que distribuir gratuitamente esses dons, correndo o risco de , em não agirmos dessa forma, perdermos esses dons. Sei que a vida moderna impõe limites, restrições temporais, físicas, financeiras, intelectuais, mas, em alguns momentos , temos que sair do plano estritamente material e atingir um grau de espiritualidade mais elevado, e servir, atendendo, por alguns minutos, e com atenção e carinho, a solicitação de um irmão.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

EX-PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 23/08/2006
Código do texto: T223703