MOVIMENTO ESTUDANTIL: A CHANCE DO JOVEM MOVER O MUNDO

Para quem pensa que o papel do estudante é apenas sentar-se numa carteira de escola ou faculdade, ouvir atentamente os ensinamentos dos professores, fazer anotações do conteúdo, ler livros e apostilhas e tirar boas notas nas avaliações bimestrais, não sabe da história nem um terço.

A escola e a faculdade não são apenas “laboratórios” para formação de um profissional para o mercado de trabalho. É também nesse terreno que o estudante começa a pensar de forma coletiva, compreender seus direitos e deveres, lutar por causas e fazer valer sua ideologia.

De encontro a tudo posto surge o famoso movimento estudantil, que tem no representante de classe seu alicerce. Daí surgem os grêmios estudantis, as uniões municipais de estudantes secundaristas, uniões estaduais e por fim, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), isso quando o assunto é estudantes de Ensino Fundamental e Médio.

Na área universitária, a militância não é aposentada, pelo contrário, encontra um terreno mais fértil para florescer. Aí aparecem os Diretórios Acadêmicos (DA), que congregam estudantes de um curso dentro de uma faculdade; Diretório Central dos Estudantes (DCE), que representa todos os estudantes de uma instituição de ensino superior, todos ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE).

Mais do que decorar equações de matemática ou saber dividir uma molécula, alguns estudantes também se interessaram por política e quiseram transformar o mundo. Nos anos de chumbo do regime militar, os estudantes se organizaram e lutaram contra a ditadura. Muitos foram assassinados, torturados, exilados e vítimas de violência física e repressão psicológica.

Nem mesmo a mão de chumbo dos militares foi capaz de conter o movimento, que mesmo na clandestinidade, só crescia e ganhava novos adeptos. Outros dois grandes eventos históricos, que tiveram a adesão e participação decisiva dos estudantes foram o Movimento Diretas Já, pelo retorno do direito do voto da população e os “Caras Pintadas”, que provocaram a queda do presidente Fernando Collor de Melo.

CONQUISTAS DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

Toda essa história de luta não rendeu apenas repressão e cicatrizes. Muitas conquistas foram consolidadas a partir da luta estudantil como o direito à meia entrada em eventos que cobrem bilheteria como cinema, shows, teatro, jogos, etc; a regulamentação dos estágios garantindo o tempo máximo de quatro horas diárias e a não caracterização de vínculo empregatício; a luta por uma educação pública gratuita e de qualidade; o incentivo ao voto do jovem aos 16 anos; dentre muitos outros avanços.

Em Goianésia, foi fundada em 1996 a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Goianésia (UMESG), que teve na presidência de Francisco Carlos de Lima, o Carlinhos, em 1997 e Anderson Luís, em 1998, o seu auge enquanto movimento. De 1997 a 2000, por exemplo, muitos grêmios estudantis foram reativados em Goianésia; a entidade montou uma sede no centro da cidade (Av. Mato Grosso, ao lado do então Sebrae); tirava xerox para os estudantes pela metade do preço cobrado nas papelarias, gerando naturalmente uma polêmica na época, mas que acabou por derrubar o preço da cópia em toda a cidade; entre tantas ações.

Mas nenhuma ação foi tão significativa como a luta impetrada pelos estudantes de Goianésia junto ao Ministério Público, Procon e promotores de eventos para fazer valer o direito à meia entrada sob a apresentação da carteirinha de estudante, que era confeccionada pela União Brasileira dos Estudantes, com intermediação da UMESG. Nesse período diversos eventos foram embargados pelo Ministério Público porque não seus organizadores não queriam respeitar o direito dos estudantes. Sem ceder, a UMESG acabou consolidando em Goianésia esta conquista.

Outra vitória comemorada pelos estudantes na época foi o fim da cobrança da famigerada taxa de matrícula que as escolas públicas da rede estadual cobravam de forma obrigatória dos alunos. “Acrescida da taxa escolar para manutenção das unidades”, lembra Anderson Luís, ex-presidente da UMESG e hoje secretário de Habitação de Luziânia. Os militantes, na época compraram briga com a Delegacia Regional de Educação (hoje Subsecretaria Regional de Educação) e com os diretores, fazendo piquetes na porta das escolas, empunhando faixas no semáforo e mobilizando a televisão e jornais de circulação estadual. Resultado: foi abolida a taxa de matrícula (que não é prevista pela Constituição) e ficando livre para o aluno contribuir ou não com a taxa escolar.

NEM SÓ DE POLÍTICA VIVE O MOVIMENTO,

mas também de eventos e muita animação para as escolas. Quando é estabelecido um diálogo entre instituição e grêmio estudantil ou união de estudantes, muitas ações podem beneficiar os alunos, como organização de competições esportivas, eventos culturais, campanhas contra as drogas, mobilização pelo meio ambiente, só para citar algumas.

Só para citar um exemplo, até 1998 no Colégio Estadual Laurentino Martins (e em todos os outros da cidade), só existiam dois eventos básicos: Feira de Ciências e Campeonato Interclasse. O Grêmio Estudantil, que tinha como presidente na época Anderson Alcântara, inovou e bancou a realização da I FEICULARTE (Feira Cultural e Artística), com apresentações musicais, exposição artística, dentre outras atrações de cunho cultural. “Percebemos que o estudante se interessava bem mais por cultura do que por ciência e iria se envolver mais”, testemunha Rauder Guilherme, na época diretor de Cultura do Grêmio.

O evento, na sua primeira edição foi realizado na Feira Coberta do Nova Aurora e no ano seguinte foi adotado pela direção da escola como evento oficial e hoje é um dos seus mais tradicionais. Para substituir o interclasse, na época, o Grêmio Estudantil organizou em parceria com a direção da escola a I Mini Olimpíada do Colégio Laurentino Martins, com disputas de atletismo, tênis de mesa, futsal (inclusive feminino) e voleibol, com jogos na quadra da escola e no Centro Desportivo Alfredo Nasser, sob a coordenação do saudoso professor Marão.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 08/05/2010
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