A questão árabe

Incômoda coincidência: comover-me às lágrimas com “Holocausto, uma história” (Dwork & van Pelt, Imago, 2004), o contundente relato da ruína judia sob assassínio nazista ao mesmo tempo em que volto para o meu Paraná devastado, em que famílias árabes pranteiam a morte de seus filhos sob jugo israelense.

Uma guerra racial, eis enfim o que estamos vendo. E como podem sionistas repetirem o erro alemão sobre um povo mais fraco? A questão Palestina é clara: uma vez confirmada a impossibilidade de dois povos conviverem no mesmo espaço físico, o país deve ser separado para evitar confrontos.

O que me espanta é a semelhança histórica entre alguns relatos. Há mais de uma década, uma amiga de origem libanesa me contou sobre a morte de seu irmão em Beirute e quase todos os outros presentes duvidaram. Contou que os israelenses jogavam seus tanques sobre famílias inteiras, bombas em áreas residenciais e promoviam linchamentos e estupros em massa. Só eu permiti-me sequer o benefício da dúvida..

Ao longo de todo o período nazista os judeus foram esmagados silenciosamente, enquanto vários relatos – da imprensa ou das autoridades – chegavam aos altos escalões dos governos aliados. Ninguém acreditou em tamanha crueldade, e continuaram em suas posições estáticas sobre o massacre étnico.

Israel é uma nação que jamais deveria ir à guerra. Seu povo sofreu demais ao longo dos séculos. Poderia procurar, em seu relacionamento com os irmãos muçulmanos, os milhares de pontos de contato entre duas culturas tão semelhantes, que comungam da mesma origem ancestral, todos Filhos de Abraão. Poderia relembrar o morticídio da Segunda Grande Guerra e permitir o perdão mútuo dos excessos.

O Governo Brasileiro, através de sua tradicional diplomacia extrovertida, pode e deve mediar esta questão. A extradição imediata de todos os cidadãos brasileiros residentes no país atacado e o oferecimento deste Estado como mediador no processo colocaria em foco toda uma comunidade descendente de imigrantes que vem contribuindo – aliás, como a comunidade judia – com o progresso e o bem-estar do Brasil e merece ser protegida.

Neste ano meu misto de holandês-alemão-russo-português, mulato e índio – sim, apesar da pele alva e dos olhos verdes - com uma judia-húngara-alemã-portuguesa carioca virá ao mundo. A família dela foi dizimada na Hungria; à minha pertenceu o artista plástico paranaense Kurt Boiger, preso pelo Estado Novo como nazista em Ilha Grande por quatro anos. Minha esposa existe porque uns poucos foram poupados. Eu, porque minha avó, mocinha, filha de alemães, levava comida para a pobre holandesinha cujo marido estava preso há tanto tempo que nem conhecera o filho mais novo. Lá conheceu seu futuro marido, meu avô.

Em face dos recentes acontecimentos no Líbano e do repetir de velhas guerras, só espero que meu filho viva num mundo sem rótulos, onde todos saibam a boa-nova há tanto tempo anunciada pela Ciência: só existe uma raça, a humana.

(com a colaboração de Marcelo Catarino)

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 27/08/2006
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