FILHOS DE UM PAI FICHA SUJA

José Arnaldo Lisboa Martins

Eu tinha um grande amor e respeito pelo meu pai, um comerciante do interior, de curso primário bem feito e que chegou a ser Adjunto de Promotor, quando era permitido, sem ser doutor. Era um cara fora de série! Seu patrimônio não era de rico, mas, as duas lojas de tecidos e miudezas, o armazém de couros e cereais, o pequeno engenho, uma fazendola e dois sítios, foram suficientes para que ele educasse minhas 6 irmãs e me levasse ao Teatro Deodoro, onde minha queridíssima mãe colocou no meu dedo, um anel de engenheiro, em noite de lágrimas e sorrisos. Hoje, quando eu quero reforçar meu caráter, vou ao cemitério, para junto aos ossos dos dois, relembrar a minha infância feliz, quando escondido deles, eu ia tomar banho nos pequenos açudes das cercanias. Sempre vou no Dia das Mães, no Dia dos Pais, nos aniversários dos seus Nascimentos e das suas Mortes, no Dia de Finados, na Semana Santa, no Natal ou quando a saudade aperta. Vou me lembrar quando meu ídolo, chegava ao nosso sobrado com sacolas de alimentos, todo orgulhoso, compradas com dinheiro das atividades cansativas e honestas. As minhas roupas e as das minhas irmãs, não eram de butiques e magazines famosos, mas, davam para irmos às missas, aos bailes na Prefeitura e às demais festas. As nossas refeições não eram com caviar ou com filé “mignon”, porém, mamãe era craque na cozinha e transformava a galinha de capoeira, bifes, lombos e fritadas, em pratos de fazer inveja a famosos restaurantes. Ela sabia dar sabor a tudo, até aos beijos que me dava. Papai, pagava em dia as mensalidades dos colégios, Diocesano de Penedo, Pio XII e Cristo Redentor de Palmeira dos Índios, Salesiano de Aracaju, Sacramento e Guido de Fontgalland de Maceió, todos administrados por padres e por freiras. Era meu grande herói e quando se sentava na cabeceira da mesa, depois de uma breve oração, eu via nele um “super homem”, honrado, decente e de “ficha limpa”. Papai se acordava cedinho, se barbeava e saia para ganhar o pão nosso de cada dia.

Hoje, quando eu vejo um pai algemado, saindo da Polícia Federal ou das Delegacias, para entrar num camburão, eu só penso nos seus filhos, ao lerem ou ouvirem as notícias e ficarem envergonhados por possuírem um pai ladrão e membro de uma quadrilha. Eu fico com pena destes filhos, ao saberem que o pai deixou crianças sem merenda escolar, sem escolas e sem saúde. Uns filhos o perdoam ao ganharem carrões, viagens e por morarem em mansões, mas, os que nasceram com caráter, honradez e decência, sofrem por terem um “pai ficha suja”. Já as esposas são diferentes dos filhos. Sofrem menos ou nada sofrem, pois, adoram ter maridos com dinheiro, venha ele de onde vier, para nos salões de beleza se sentirem superiores às demais clientes. Algumas gostam mais dos seus motoristas, por serem homens honestos, diferentes do marido. Existem filhos e filhas de “pai ficha suja” que não saem de casa, porque não têm independência para se manterem, sem o dinheiro desonesto do pai. Alguns filhos perdem aulas e passam três ou quatro dias com amiguinhos e amiguinhas das drogas. Numa casa de “pai ficha suja”, é muito difícil ele ser querido e respeitado pela esposa e pelos filhos. Uns gostam do dinheiro e outros fingem que gostam do pai. Para nós pais “ficha limpa”, ainda é bom, quando os filhos nos respeitam por sermos honestos e ao se acordarem nos pedem a bênção, para dizemos com orgulho: Deus lhe abençoe, meu filho!

Em tempo- Agradeço aos leitores e incentivadores: Dr. Walter Guimarães, Dr. Edvilson Argolo, Eng. Dermeval Lacerda e ao cordial ex-aluno Luis Batista.

ps:Este artigo foi publicado hoje, 21/5/10, no Jornal EXTRA

José Arnaldo Lisboa Martins
Enviado por José Arnaldo Lisboa Martins em 21/05/2010
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