Ventos de Agosto

VENTOS DE AGOSTO

Certo dia, em minha caminhada matinal, eis que observo um pequeno arbusto, e uma bela flor. Haviam podado seus galhos e mesmo ressequido, havia brotado com muito sacrifício, fazendo desabrochar uma bela flor.

Ao olhar sua beleza vi que algo se comparava a muitas vidas que por aí estão.

Esta pequena planta com certeza nasceu, cresceu em solo fértil, embora perto de um muro, que representa os limites da liberdade, não pôde ser totalmente reta, pois como todos quando criança precisou ser ativa, pular, brincar e os ventos de agosto, moldaram seu tronco. Queria estar em um lugar mais alegre, as pessoas que aqui passam muitas vezes estão tristes, não a olham...

Colocou galhos e ao desabrochar da juventude tentou alcançar os limites da beleza, liberdade juvenil e o que a curiosidade mais desejava, ver além muro.

Seu destino, dar flores, frutos e sementes ao mundo para continuar a seqüência natural da vida, alegre e feliz, podendo com meus galhos e folhas abraçar o vento, abrigar os pássaros, dar sombra aos que passassem, quem sabe depois de madura e velha, dar proteção ao homem seja com madeira para sua casa ou envolver seu corpo até a última morada.

Porém veja o que fizeram com ela. Não quiseram seus galhos, podaram-na. Não lhes interessou a sombra, apedrejaram suas folhas, não quiseram seus frutos, com muito esforço produziu uma flor, mas, quando passei no dia seguinte haviam arrancado sua flor, não sei se por prazer? Ou maldade? Lá não estava mais a flor. Lá se foi minha inspiração, motivo de reflexão. Ficou apenas a lembrança.

Penso e comparo este exemplo com nossas vidas e vejo que até nascemos de Pais que nos geraram com amor... Porém, para poderem trabalhar, cuidar dos negócios, a vida agitada do dia a dia, foi preciso nos deixar com babás, ou em um cercado diante da televisão. O muro de nossas vidas, que não nos deixa aprender a sonhar, nos tornando escravos do consumo, artificiais, sem iniciativas e vontades próprias, sendo jogados pelos ventos de agosto. Podaram-nos, quando mais queríamos crescer, mostrando-nos quando criança, a violência, o medo do assalto, seqüestro, tiraram nossa liberdade de brincar na rua com nossos amigos, podaram desde logo nossa convivência social. Veio a escola, novos muros, novos ventos, podaram nossa vontade de ser-mos livres, de abrir nossos braços para um abraço, sem diálogo, porque que uma boa escola deve ter normas, um regulamento rígido, moldaram-nos sem muitos valores, princípios, sentimentos. A tradição da escola é mais importante. Isto vende!

Logo cedo foi necessário trabalhar, ter um emprego, podaram nossa vocação natural de escolher o que fazer, era preciso arranjar um emprego para ajudar a ganhar. Não tínhamos opção, para o primeiro emprego não houve escolha foi preciso agarrara-lo, qualquer função, importante era ter o emprego.

Por preconceitos, quando criança, não pudemos brincar com meninas, eis que na adolescência quando nos aproximamos da primeira, inexperientes brincamos com o amor e tivemos que assumir um filho, família. Muito cedo, podaram nossos melhores anos da juventude, e lá vamos nós tentando fazer nascerem, novas idéias, flores! Somos a cada dia podados pelas coisas impostas por conta de preconceitos e imposições da sociedade em que vivemos.

Seguem-se os anos, caminhamos, a cada dia somos podados, pelos juros para enriquecer banqueiros, impostos, taxas e contribuições para manter a estrutura de poucos, velhos tabus, e os novos que se criam com a globalização. Nossos galhos que não caíram e quebraram pelas ações dos ventos de agosto, não suportam as promessas, corrupções, egoísmos, avarezas, maldades e ganâncias. Já cansados e quase sem vontade de viver, chegamos a terceira idade. Aqueles que geramos e a sociedade em geral, nos podam dos sorrisos, cumprimentos, apertos de mão, abraços carinhosos, não nos deixam ser úteis, não somos mais necessários, somos um estorvo em suas vidas.

Mesmo assim queremos sorrir florir... Mesmo com todas as atrocidades e podas, continuamos.

Só queríamos dar ao mundo, perfume, beleza, sentido de vida, o símbolo do amor... Como esta flor.

Oh! Humano! Como és insensível ao belo. A natureza, aos sentimentos da alma, ao carinho e ao amor!

Mr.Jones/2003

Mr Jones
Enviado por Mr Jones em 01/09/2006
Código do texto: T230133