O problema do ativismo

A realidade nos estimula a viver sem parar. Deve-se fazer algo, realizar alguma coisa, trabalhar, sair, participar de qualquer serviço seja ele qual for. Exigimos de nós mesmos alguma atitude que não nos deixe ficar estáticos; assumimos uma postura de o que for possível fazer, que seja feita para o nosso próprio interesse. Não paramos, corremos, deixamos de lado a família, a verdadeira amizade, àqueles que mais amamos em troca do trabalho, do prazer ou de supérfluos que carecem de um sentido verdadeiro para obter a nossa atenção.

Somos determinados para que o sucesso aconteça em nossa vida. Por isso todo o trabalho vale à pena, todo o esforço é permitido, a família deve sempre está em segundo plano e o que importa é o sucesso profissional e o acúmulo de bens materiais, sem se incomodar com aqueles que estão ao nosso lado e nos ama. Por quê deixar uma satisfação pessoal estando com pessoas as quais amamos, para nos acabar na necessidade de amontoar mercadorias a causar apenas uma satisfação momentânea? Será que não existe nada maior do que ganhar dinheiro?

No filme “click” exibido nos cinemas de nossa cidade, vemos uma realidade a se contrastar com a de diversas famílias. Pelo poder advindo de um controle remoto, o ator principal pode acelerar certos acontecimentos em sua vida ou rever o passado. Relações sexuais com a esposa, brigas, doença, trânsito, nada mais lhe ocupa tempo, pois com um toque no controle, ele pode passar com rapidez esses fatos, na resolução desses ‘problemas’. Só existe um efeito colateral: ele não sabe o que aconteceu nesses momentos em que o controle adiantou a sua vida.

Por fim, ele se descobre já velho e não tendo passado os melhores e mais importantes momentos com a sua família. Nada mais para ele dava certo, apenas o seu trabalho. O exercício de sua profissão era mecânico, automático, estável, mas o tratamento para com seus entes queridos se fazia de diversas nuances e inconstâncias que o seu “eu” presente não dava a devida atenção. De fato, todos os problemas podem ser resolvidos com o trabalho, com uma viagem para bem longe de nossas obrigações. Entretanto, a vida vai passando e as oportunidades que tínhamos para construir um relacionamento mais forte com as pessoas próximas a nós, vão se restringindo até desaparecer.

O filme é uma comédia. No fim o drama se instala e uma segunda chance se faz presente. Pena de nós pobres mortais, não termos uma segunda chance. O que passou é passado, não existe a possibilidade de voltar atrás. Contudo, ainda temos o presente, o verdadeiro presente perfeito que pode alterar com um único “click” a vida que tanto necessita de mudanças. Perdoar, a si e a outros, é um bom começo. As pessoas que amamos devem sempre estar em “primeiro lugar”, para que a vida obtenha a felicidade tão querida por todos nós.

Padre Hugo Galvão
Enviado por Padre Hugo Galvão em 01/09/2006
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