“Mande a raiva embora e receba saúde emocional”
A raiva nada mais é que a lembrança de ter experimentado a mágoa. Trata-se de uma emoção que toma várias formas: ficar irritado, ressentido, indignado, incomodado, amargurado. Quanto mais tempo se passa entre o ferimento e a raiva, maior será a intensidade da raiva e menos fincada na realidade ela parecerá.
Quando liberamos nossas emoções ficamos conscientes que elas nos pertencem, mas não fazem parte da nossa essência. Nós não somos nossas emoções, podemos manifestar e deixar as mesmas irem embora para mantermos o nosso verdadeiro “eu” inalterado. Considerando que o objetivo da raiva é dar energia para mostrar a mágoa quando ela ocorre, ao negar nossas emoções ficamos prejudicados, pois passamos a viver uma falsa realidade.
É preciso lembrar que a raiva é voltada para a ação, para a autodefesa, e não se trata de uma emoção reflexiva como a ansiedade.
Sempre que experimentamos a raiva, repetimos o mesmo padrão: sofremos um ferimento, adiamos a expressão da mágoa por um ou dois momentos e ficamos ressentidos por termos sido feridos. Ou seja, medimos o momento, tentamos determinar o que aconteceu e decidimos o que fazer. Logo, é importante que o volume da raiva expresso seja adequado ao ferimento sofrido, pois quando manifestado de maneira ineficiente, o ressentimento restante fica na fila de esperando para ser expresso no próximo ferimento, quando ele juntará forças com o resto da raiva acumulada.
É comum que esta raiva contida seja liberada na hora errada, no lugar errado e sobre a pessoa errada. E como ela permanece não-resolvida, você fica obcecado.
Mas, por que é tão comum inibirmos a expressão da raiva, uma vez que este é um sentimento natural?
Os motivos são inúmeros: Medo de ser rejeitado, de admitir a própria vulnerabilidade, de ser mal compreendido, de alguém sair ferido, de perder o controle, entre outros.
Aprendemos que não é bonito expressar raiva em relação a pais e outras pessoas a quem devemos respeitar.
O dano causado a uma criança que foi proibida de expressar a raiva de um ferimento emocional pequeno é imensamente maior do que aquela que teve liberdade de expressão.
A raiva esconde o amor que as pessoas sentem por si mesmas, logo, é comum sentirem receio que expressar a raiva. Isto faz com que sintam-se merecedoras da rejeição por ter sido uma pessoa raivosa. Ao admitir o sentimento de raiva perde-se a proteção das máscaras de indiferença e o fato de admitir a vulnerabilidade pode parecer um risco grande demais para ser assumido.
Muitas vezes escondemos nossas verdadeiras emoções por medo, culpa ou qualquer outra razão que nos é imposta, e ao negar as mesmas, ao impedir sua manifestação, passamos a viver uma vida falsa.
Desenvolver a tão almejada liberdade emocional não é tarefa fácil, mas é preciso acima de tudo desapegar-se de emoções do passado, e deixar que os sentimentos negativos como a dor, a raiva e a mágoa saiam de nosso mundo interior com toda intensidade, até que se esgotem e desapareçam de vez.
Afinal, a raiva em si não é má, porém carregar e acumular esta emoção é perigoso. Sinta a mágoa, pois uma vez que o ferimento da rejeição, desapontamento, traição, vergonha ou fracasso aconteceu, você apenas o torna pior se o evitar. A cura começa quando você admite a verdade da dor. E lembre-se que o seu maior ferimento provavelmente não foi provocado por um inimigo, mas por alguém a quem você ama e com quem contava. Se você foi ferido, isto certamente aconteceu porque você estava com as suas defesas rebaixadas. Reconhecer suas fraquezas lhe dá um controle real, não a tentativa de dar uma impressão que você é sempre forte e perfeito. Na realidade, ao tentar manter uma fachada de santidade, é que o deixa mais suscetível a perdas repentinas de auto-estima. Não se magoe e não permita que ninguém o faça.
Se alguém o feriu, expresse sua mágoa no momento que achar adequado, respeite seu "tempo interior" procure sentir esta emoção, respire, mande embora o ressentimento. O ressentimento alimenta sua raiva, além de deixar você preso ao outro. Reflita na possibilidade de perdoar a outra pessoa o mais cedo possível e finalmente declare que não está mais magoado, que a dor passou.
Não se faça de vítima, seja direto, corajoso, fale a verdade, fale agora, e lembre-se: “Você só vai experimentar a felicidade quando se gostar de verdade”!
Lilian Nakhle
Psicoterapeuta / Psicopedagoga
Neuropedagoga / Escritora